terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

OPERAÇÃO SERVAL – IV




Martinho Júnior, Luanda

LÍBIA, MALI, ARGÉLIA…

11 – No Mali, a ocupação de todo o território pelas forças militares africanas no quadro da MISMA e com o suporte da ONU terá como resposta uma ementa que já se começou a sentir:

- Probabilidade de ataques a unidades económicas importantes;
- Disseminação de minas terrestres nas principais rotas do país;
- Ataques suicidas com homens-bomba (registaram-se agora em Gao, pela primeira vez no Mali);
- A surpresa das emboscadas e dos golpes de mão.

Os grupos islâmicos ao não aceitarem combate directo, estão espalhados no território e para além dele, misturando-se com a escassa população do Sahel e com os tuaregues e começaram uma guerra com argumentos de terror e de natureza não convencional.

Se as forças militares francesas tiveram muito poucas baixas na ofensiva para recuperar o território, as forças africanas encarregues da ocupação tendem a vir a ter muito mais baixas.

A esta data as forças francesas começam a retirada, deixando o espaço para as forças africanas, que serão “recicladas” para fazer face ao tipo de ameaça.

O Movimento Nacional de Libertação do Azawad, considerado como estrutura política representativa dos tuaregues em relação ao Mali, distanciou-se dos radicais islâmicos e ao que tudo indica está a comprometer-se ao lado das forças internacionais “no terreno”.

Muito provavelmente a sua posição será tida em conta não só pelo que ela representa no Mali, mas em relação a todo o Sahel.

Essa posição é apenas a repescagem duma parte das iniciativas que antes Kadafi havia tido para com toda a imensa região a oeste da Líbia, que haviam dado como resultado um clima de paz que agora se tornou muito mais difícil de alcançar por que as “explosões” suceder-se-ão em cadeia e cada vez, à excepção da Argélia, mais para sul!

A população civil sofrerá consequências directas e indirectas da situação, no âmbito duma guerra psicológica nunca antes sentida no Mali e no resto do Sahel.

As retaliações poderão tornar-se sangrentas e a causar anda mais baixas entre a população.

Quando chegar essa altura, a utilização dos drones por parte dos norte-americanos poderá abrir-se a ataques ao solo.

As Forças Armadas do Mali iniciaram uma reforma do exército sob as ordens do Capitão Sanogo, o militar que frequentou escolas militares norte americanas e chefiou o golpe de estado.

As reformas da Administração do Estado e das Forças Armadas do Mali vão ser “garantidas” pela União Europeia!

Desse modo a Europa, associada às estratégias do AFRICOM, explora o êxito do desmantelamento do regime de Kadafi, cuja influência se estendia de forma construtiva e pacífica por todo o Sahel, contribuindo na região para uma outra União Africana que se está a perder ao ponto de “facilitar” a intervenção militar francesa ao nível duma força de choque de 5.000 homens…

Agora um “efeito dominó” está a expandir-se da forma conveniente ao domínio das potências ocidentais, que regulam a torneira da ameaça salafista, ao mesmo tempo que modelam as forças armadas dos países CEDEAO, particularmente os do Sahel!

A reconversão neo colonial do Mali é uma das ameaças para com a Argélia, ciosa de sua soberania e dirigida por nacionalistas: sem sombra de dúvida que as fronteiras leste e sul da Argélia tornar-se-ão muito mais permeáveis aos radicais islâmicos que foram “tocados” no Mali, radicais islâmicos providos agora de meios poderosos fornecidos pelos ocidentais, ou provenientes dos arsenais da Líbia, com o suporte de radicais líbios como os do “Libyan Islamic Fighting Group”.

Com os exércitos africanos subalternizados ao AFRICOM e à NATO, com o entendimento de livre comércio entre os Estados Unidos e a Europa às portas, além dos riscos das articulações salafistas atingirem profundamente o território argelino, as Forças Armadas da Argélia podem ter de fazer frente às forças armadas africanas que se perfilam numa CEDEAO envenenada pela matriz neo colonial a sul, à desestabilizada Líbia (de onde podem chegar golpes inesperados) a leste e ao domínio discreto, mas influente, das Armadas ocidentais no Mediterrâneo, a norte!

A complacência de África para com o quadro da Líbia e agora para com o quadro do Mali, apesar da substituição de Jean Ping na União Africana, só favorece a manobra neo liberal e neo colonial em curso, aumentando a curto prazo as vulnerabilidades instaladas na CEDEAO, no Maghreb e no Sahel e colocando um horizonte de chumbo que se distende em direcção ao Golfo da Guiné, à África Central e ao “reduto” da África Austral!

Toda a África deveria aproximar-se da Argélia, não deixando que ela se venha a tornar no próximo “estado falido” e de forma a fazer face a ameaças que, depois daquele país do Maghreb produtor de petróleo e gás, se vão expandir em direcção sul… mas uma vez mais, as novas elites africanas forjadas nos parâmetros do capitalismo neo liberal, demonstram estar contaminadas pelo vírus neo colonial, submetendo-se cada vez mais ao “diktat” das potências ocidentais ávidas das possibilidades que se lhes oferecem com a “reconversão”!

Ao não fazer isso, África indicia que está muito longe de entender em toda a extensão o que está a acontecer: a ingerência, a manipulação e a pressão que em cadeia se vai sentir em direcção a sul, com tão evidentes sinais neo coloniais, procurarão um novo impulso na plataforma que constitui a RDC!

Mapa: Ilustração do ponto de situação no Mali a 11 de Janeiro de 2013, no arranque da Operação Serval.

A consultar:
- La guerra de Occidente contra el desarrollo africano continua – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=164044
- How Washington helped Foster – the islamist uoprising in Mali – http://www.globalresearch.ca/how-washington-helped-foster-the-islamist-uprising-in-mali/5321468
- Iyad Ag Ghaly – Mali’s extremist leader – http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-18814291
- Mali: uma guerra pode esconder a chegada de outra – http://www.voltairenet.org/article177223.html
- France’s millitary operation in Mali in final phase – http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-21563077

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