Ana Sá Lopes –
Jornal i, opinião
Portugal, além de
vítima dos panhonhas, está a ser também vítima do fogo amigo
António Correia de
Campos, ex-ministro da Saúde de Sócrates, definiu prodigiosamente, na edição de
sábado do i, a atitude do governo português perante a troika. Em entrevista à
jornalista Rita Tavares, Correia de Campos admite que “a troika precisa de
nós”, mas “tem pela frente uns panhonhas que são os nossos actuais governantes,
que não são capazes de bater o pé”. É impossível contestar o argumento de que o
governo português tem gerido a sua relação com a Europa utilizando – ainda por
cima como estratégia mais ou menos publicamente assumida – o método
“panhonhas”. O dicionário Houaiss explica os sinónimos de “panhonha” e todos
eles abarcam o modo da relação governamental com Bruxelas e Berlim: “pessoa sem
ânimo; pessoa apalermada; maria-vai-com-as-outras, pamonha”. Existe ainda a
versão de “pamonho”: “Aquele que é pouco inteligente ou desajeitado”.
A metáfora do “bom
aluno”, tão do agrado do PSD desde os tempos do prof. Cavaco em São Bento, tem
sido vendida pelo próprio governo pela necessidade de seguir religiosamente uma
receita que – nas cabeças alucinadas das tríades que compõem a troika – haveria
de trazer a recuperação económica do país a breve curso. O “bom aluno” não
contesta o professor, venera-o, bebe-lhe o discurso – mesmo quando é falso e
copiado de modelos que já deram provas de falhanço em muitos pontos do globo.
Na sexta-feira, pela primeira vez, Pedro Passos Coelho admitiu que,
eventualmente, talvez a famosa “espiral recessiva” existisse mesmo, embora se
tenha apressado a concluir que ainda não a tinha visto – mesmo depois do desemprego
a bater nos 17% e das falências em massa.
Os “panhonhas”
estão a destruir um país que estava a conseguir atingir níveis de civilização
inimagináveis em 1974. É esse património inteiro que vai para o lixo por
intervenção dos panhonhas e da sua companhia irresponsável – a troika, composta
pelo FMI, Comissão Europeia e BCE, que, às terças-feiras, mostram o seu
terror com o desemprego e a recessão e às sextas-feiras insistem em obrigar os
países a cumprirem as metas económicas que conduzem ao desemprego e à recessão.
A ditadura do défice zero, o “custe o que custar”, a redenção moral através do
sofrimento – papagueada sempre por quem tem o rabo sentado num orçamento
confortável – vai destruir em Portugal 30 anos de recuperação da ditadura e, na
Europa, 50 anos de prosperidade económica. O problema não está só nos
panhonhas, está nas suas companhias irresponsáveis. O “must” de panhonha
europeu será talvez François Hollande, aquele em que os socialistas depositavam
bastantes esperanças para poder inverter o domínio dos destruidores de emprego
e pessoas. A Europa encarregou-se de se autodestruir e Portugal, além de vítima
dos panhonhas, é também vítima do “fogo amigo”.
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