domingo, 10 de fevereiro de 2013

Portugal: CORRUPTOS IMPUNES POR PRESCRIÇÃO DE PROCESSOS




Serviço da AIM, em Lisboa 

Lisboa, 08 Fev (AIM)- Numa altura em que se multiplicam queixas de impunidade dos corruptos por causa da prescrição de processos judiciais em Portugal, a criminalidade relativa à área de corrupção subiu 13,5 por cento em 2012 no Distrito Judicial de Lisboa, a capital, em relação a 2011.

Esta informação, que constitui mais uma prova de que a corrupção é um fenómeno global e não é algo exclusivo dos africanos, consta de um documento divulgado esta sexta-feira pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL). 

O memorando sobre a actividade e resultados do Ministério Público (MP) em matéria penal na área da PGDL relativo a 2012 indica que foram registados no Distrito Judicial de Lisboa 493 inquéritos na área da corrupção e crimes afins, mais 59 do que em 2011, um aumento de 13,5 por cento, segundo o diário luso "Económico".

Na área do crime económico, o documento adianta ainda que o MP do Distrito Judicial de Lisboa abriu, no segundo semestre de 2012, 588 inquéritos no domínio dos crimes de "corrupção e afins" e de "burlas e fraudes contra o Estado e segurança social".

De acordo com o relatório, são considerados 'crimes afins de corrupção' os crimes de corrupção no comércio internacional e na actividade privada, assim como a corrupção associada ao fenómeno desportivo.

Segundo a PGDL, os valores pecuniários envolvidos nesses inquéritos ascenderam a cerca de 70,6 milhões de euros.

"O montante, atingido num só semestre, dá nota expressiva da capacidade de intervenção e dinamismo revelados pelo MP no quadro da investigação e combate ao crime económico", refere o relatório assinado pela procuradora-geral distrital de Lisboa, Francisca Van Dunem.

Em Portugal, segundo estudos, a impunidade dos corruptos por causa da prescrição de processos judiciais é uma realidade, dando como exemplos "os processos-crime de autarcas Fátima Felgueiras e Isaltino Morais. A criação de tribunais especializados e uma agência anti-corrupção com poderes especiais de investigação, são algumas recomendações.

Um relatório recente da autoria da Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC), associação que é o ponto de contacto nacional da organização não governamental Transparency International, aborda estes aspectos. 

"A prescrição de processos-crime de corrupção não só demonstra a máxima ineficiência do sistema judicial e judiciário em prosseguir com a punição dos agentes deste crime, como transmite a ideia da sua fácil manipulação por certos arguidos dotados de maior influência política ou económica", conclui a associação, criada no final de 2009 por um grupo de especialistas e membros da sociedade civil.

"Corrupção Fora de Prazo: Prescrição de Crimes na Justiça Portuguesa" é o nome do relatório sobre "o impacto dos regimes legais de prescrição no combate à corrupção", recentemente apresentado em Lisboa. 

Lançado no âmbito do "Countdown to Impunity: Corruption-related statutes of limitation in the EU", projecto da Transparency International Secretariat (Berlim), foi co-financiado pela Comissão Europeia - DG Home Affairs. 

O documento exemplifica que "os processos-crime de Fátima Felgueiras e Isaltino Morais encontram-se ainda pendentes e alguns dos crimes dos quais foram acusados prescreveram." 

Perante estes factos, a TIAC recomenda "a criação de novos fundamentos de suspensão e interrupção dos prazos de prescrição, como a suspensão dos prazos em casos de pedidos de cooperação bilateral, ou cartas rogatórias, ou o recurso para Tribunal Constitucional", uma vez que este recurso "foi recentemente considerado pelo Tribunal Constitucional como não suspendendo o prazo de prescrição." 

A criação de tribunais especializados com competência para processos de corrupção ou criminalidade económico-financeira é outra das recomendações deixadas por Luís de Sousa, investigador em ética e corrupção na Universidade de Lisboa.
 
(AIM) DM (AIM)

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