Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Ouvi ontem um pouco
do debate no Parlamento e reparei que a maioria (senão todos) os deputados
se centraram na falta de acerto do Governo nas previsões da contração do PIB e
do aumento do desemprego. Que o erro é monumental, dizia a Oposição; que não,
que são apenas erros marginais, pequenos, dizia a maioria.
O ministro Gaspar
com o seu estilo habitual, que não sabemos se é calma ou espanto, afirmou
que os 3,2 por cento de contração da economia estão em linha com os três
por cento previstos pelo Governo.
Os números são
traiçoeiros porque escondem a realidade atrás de uma mera abstração. Cada
décimo percentual a mais de queda no PIB é quase um ponto a mais no desemprego.
E cada ponto a mais no desemprego são milhares de tragédias pessoais - de
pessoas que ficaram sem trabalho.
E este é o caso. A
mim importa-me menos saber se o Governo falhou na previsão (sendo que
as previsões têm margens de erro) e mais saber o que pensa fazer para
acudir à tragédia dos desempregados. Sendo que a Oposição nada diz, tirando a
estafada frase "aposta no crescimento" (eu aposto, se me disserem o
que é isso), o Governo também não se safa com a receita do aumento das
exportações: toda a zona euro está a cair e a própria Alemanha só cresceu
0,4%, com a agravante de na variação em sequência (ou seja em relação ao
trimestre anterior ter caído 0,6%). Ou seja, as exportações vão continuar
a cair.
A tendência que
encontramos nos números portugueses também não é boa. Se o ano acabou com uma
contração de 3,2% (duas décimas acima da previsão), a queda homóloga é
superior (3,8%) e esta é a que costuma indicar em que direção vamos.
É, pois, decisivo
que se busquem soluções concretas para o flagelo do desemprego que,
como disse o primeiro-ministro, mas com o ar de quem estava a dar uma aula, vai
continuar a subir. Não basta adiar, é preciso agir. São pessoas concretas,
não são casas decimais de uma previsão ou de uma folha de excel.
Desde já, e
antecipando-me às críticas, digo que não sei como resolver. Mas sei que não
é com a calma olímpica do Governo nem com as declarações inflamadas da Oposição
que se minora o sofrimento daqueles que têm a vida transformada num desespero.
Se a solução passa (como parece) por outra visão económica da Europa, que
o Governo e o PS se juntem a exigi-la. Continuar a disputar o poder interno
de um país desempregado é que me parece sem sentido.
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