Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
A queda do PIB estará,
de novo, acima do que tinha sido previsto pelo governo. E arrisco-me a dizer
que a diferença entre o que se previa e o que acontecerá será ainda maior, como
também vão indicando os números. O erro sucessivo das previsões já foi
explicado por um relatório do FMI sobre os efeitos multiplicadores
das medidas de austeridade. Um relatório que aqui não deu muito que falar mas
que já levou a Grécia a pedir a renegociação das metas apontadas pelo seu
memorando. Coisa que, mais uma vez, não é aproveitada pelo governo português.
Maior queda do PIB
não é apenas falanço nas contas. São ainda mais falências do que se
esperava. São menor receita fiscal do que se esperava. É um corte
ainda maior nos serviços públicos do que a barbaridade que já foi
anunciada. É mais dificuldade do Estado em pagar a sua dívida e um aumento
do endividamento público. E ficarmos ainda mais longe do fim desta crise.
São estes os efeitos de uma intervenção externa que foi justificada com uma
oportunidade de sairmos do buraco. Estamos cada vez mais no fundo desse buraco.
Os efeitos mais
dramáticos disto tudo são, como sempre, sentidos, antes de mais, pelos mais
desprotegidos. E isso vê-se no desemprego. 21% de desempregados é uma
tragédia multiplicada por um milhão e 200 mil portugueses. É um desperdício que
tem tradução imediata no crescimento, no consumo interno, nas despesas
do Estado (ela aumentou, só em subsídio de desemprego, mais de 25% no
primeiro semestre de 2012, apesar de 57% nem o receber) e nas receitas
fiscais. Se isto não é uma espiral recessiva, o que raio é uma espiral
recessiva?
O governo festejou
um simulacro de ida aos mercados, com a proteção do BCE, juros mais altos
dos que os praticados pela troika e a garantia de que suicida
política de austeridade é para continuar. Esta encenação de ida aos mercados é
um fetiche de Passos e Gaspar. Não vale um tremoço enquanto a economia se
afundar. Porque, coisa estranha para estes senhores, é a economia real que
paga dívidas e cria emprego. Sem ela, os mercados e atroika são exatamente
a mesma coisa: mais dívida impagável e mais austeridade sem fim à vista.
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