segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Portugal: É A ECONOMIA, PASSOS!




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

A queda do PIB estará, de novo, acima do que tinha sido previsto pelo governo. E arrisco-me a dizer que a diferença entre o que se previa e o que acontecerá será ainda maior, como também vão indicando os números. O erro sucessivo das previsões já foi explicado por um relatório do FMI sobre os efeitos multiplicadores das medidas de austeridade. Um relatório que aqui não deu muito que falar mas que já levou a Grécia a pedir a renegociação das metas apontadas pelo seu memorando. Coisa que, mais uma vez, não é aproveitada pelo governo português.

Maior queda do PIB não é apenas falanço nas contas. São ainda mais falências do que se esperava. São menor receita fiscal do que se esperava. É um corte ainda maior nos serviços públicos do que a barbaridade que já foi anunciada. É mais dificuldade do Estado em pagar a sua dívida e um aumento do endividamento público. E ficarmos ainda mais longe do fim desta crise. São estes os efeitos de uma intervenção externa que foi justificada com uma oportunidade de sairmos do buraco. Estamos cada vez mais no fundo desse buraco.

Os efeitos mais dramáticos disto tudo são, como sempre, sentidos, antes de mais, pelos mais desprotegidos. E isso vê-se no desemprego. 21% de desempregados é uma tragédia multiplicada por um milhão e 200 mil portugueses. É um desperdício que tem tradução imediata no crescimento, no consumo interno, nas despesas do Estado (ela aumentou, só em subsídio de desemprego, mais de 25% no primeiro semestre de 2012, apesar de 57% nem o receber) e nas receitas fiscais. Se isto não é uma espiral recessiva, o que raio é uma espiral recessiva?

O governo festejou um simulacro de ida aos mercados, com a proteção do BCE, juros mais altos dos que os praticados pela troika e a garantia de que suicida política de austeridade é para continuar. Esta encenação de ida aos mercados é um fetiche de Passos e Gaspar. Não vale um tremoço enquanto a economia se afundar. Porque, coisa estranha para estes senhores, é a economia real que paga dívidas e cria emprego. Sem ela, os mercados e atroika são exatamente a mesma coisa: mais dívida impagável e mais austeridade sem fim à vista.

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