Fernanda Câncio –
Diário de Notícias, opinião
"Se fosse
comigo, não teria dúvidas em afastar-me se me visse envolvido numa situação
destas". Isto era Nuno Melo em 2009, a falar de Dias Loureiro,
ex-administrador da SLN (que detinha o BPN) e então conselheiro de Estado do
presidente Cavaco. Declarações nas quais o deputado centrista era acompanhado
pelo então cabeça de lista do PSD às europeias, Paulo Rangel, e pelo - hoje
ministro - Pedro Mota Soares, que, quando a demissão ocorreu, afirmou: "O
doutor Dias Loureiro fez finalmente aquilo que já devia ter feito e que o CDS
já tinha pedido."
Então, como hoje, o
presidente do CDS era Paulo Portas (também agora ministro), que não se ensaiou
em aconselhar Loureiro a "evidentemente sair e facilitar a vida ao Chefe
do Estado". O motivo, para Portas, era claríssimo: "O que aconteceu
no BPN é de tal maneira grave que é preciso tirar consequências. O BPN é de tal
maneira uma organização criminosa que abusou da confiança dos outros que é
preciso cortar as maçãs podres."
Menos vigorosos na
vituperação, vários dirigentes do PSD, incluindo Rui Rio e António Capucho,
aplaudiram a demissão do correligionário; até Luís Filipe Menezes (que
abandonara a direção do PSD em 2008) tinha já apelado a ela. E Passos Coelho,
então candidato derrotado à liderança do PSD e líder da oposição interna, não
se eximiu de dizer (em novembro de 2008) de sua justiça: "Há um conjunto
de polémicas que apontam para que alguém não está a falar verdade e isso é, de
facto, um incómodo para a Presidência." Atacando a orientação da então
líder Manuela Ferreira Leite, defendeu que o partido deveria "ter tomado a
iniciativa de viabilizar uma comissão de inquérito". Para, viperino,
prosseguir: "Ao não fazê-lo pode dar a ideia errada que protege alguma
informação."
Dias Loureiro,
frise-se, não fora ainda, à altura da demissão, constituído arguido no caso BPN
- e até hoje de nada foi acusado formalmente. Alegou aliás ter-se limitado a
assinar as contas da SLN que lhe punham à frente, "confiando" em
Oliveira Costa. E jura que correu a informar o Banco de Portugal mal lhe surgiram
suspeitas sobre o funcionamento do banco (o BdP nega). Não se lembrou, o pobre,
de alegar que soubera das irregularidades e até assinara as contas sabendo
disso - às tantas achou que tal seria confessar um crime -, mas "por
prudência" esperara que alguém as denunciasse em vez dele e (o que é
contraditório) que tinha enviado uma carta ao BdP a denunciar a marosca. Se
calhar achou que teria de mostrar a carta ou assim - que parvo. Tivesse sido
essa a sua defesa e, tudo leva a crer, em vez de apontado por Passos como
proverbial mentiroso e por Portas como maçã podre e membro de uma organização
criminosa, seria por eles convidado a fazer parte do mesmo governo.
Poderia até sonhar
ouvir, na mesma assembleia onde foi questionado como membro de quadrilha, um
pungente ministro descrevê-lo como vítima de "linchamento político".
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