sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Portugal: MENTIR BEM AJUDA, MAS NÃO CHEGA




Jorge Fiel – Jornal de Notícias, opinião

É muito raro eu mentir. Mas aviso desde já que isso nada tem a ver com preconceitos éticos ou morais, até porque sei perfeitamente que há mentiras muito convenientes e até piedosas. Não. Apenas evito mentir por saber que nessa matéria sou um zero à esquerda.

Tenho a certeza de que, por muito que me esforçasse, não conseguiria enganar ninguém. A minha cara é um livro aberto. Para me apanhar não era preciso ser um detetor de mentiras humano, como o dr. Cal Lightman, da série "Lie to me".

Esta minha incompetência inata nas artes de fingir e mentir não me deixa orgulhoso, porque me cortou logo à partida qualquer hipótese de fazer carreira como ator ou político. Desde Maquiavel que sabemos que apenas um mentiroso ousado e muito capaz pode aspirar a singrar na política e garantir o poder.

Mas não fiquem a pensar que eu sou um anjinho. Nem tanto. Não minto, mas nem sempre conto toda a verdade. Ou seja, omito as coisas que acho me prejudicariam se fossem divulgadas.

A partir de Tiago 4:17 ("Comete pecado aquele que sabe fazer o bem e não faz"), os especialistas na Bíblia condenam por igual o pecado da comissão (exemplo: roubar) e o da omissão (ex.: não trabalhar).

Para além da hipocrisia (outro dos atributos essenciais a um bom político), as omissões são o que mais abunda no episódio em cartaz da polémica da nomeação de Franquelim Alves para secretário de Estado.

É, no mínimo, hipócrita questionar a idoneidade de Franquelim para ser membro do Governo quando ninguém levantou a voz ou esboçou crítica quando ele foi nomeado para distribuir os milhões do Compete, um programa do QREN.

As omissões são o que mais me incomoda quando olho para este caso. Para começar, a omissão no seu curriculum dos 11 meses (novembro 07-outubro 08) em que foi administrador da SLN - onde cometeu o pecado da omissão ao abster-se de comunicar às autoridades as irregularidades que testemunhou e ao não informar Miguel Cadilhe (que assumiu a presidência do grupo em junho 08) da verdadeira dimensão dos buracos que teria de enfrentar.

Para se ser um bom político, não basta ser hipócrita competente e bom mentiroso. Também é preciso ter sensibilidade e bom senso. E a nomeação do secretário de Estado do Empreendedorismo revela que Passos não está na plena posse destas duas últimas qualidades.

Não basta dizer que Franquelim não está a contas com a Justiça. Também Ricardo Salgado não está, mas, apesar da sua competência, espero que não passe pela cabeça do primeiro-ministro nomear para ministro das Finanças um banqueiro que corrigiu por três vezes a declaração do IRS de 2011, sendo que na última os rendimentos declarados eram 8,5 milhões de euros superiores à primeira.

E o facto de Godinho Lopes ter sido ilibado no caso da vigarice com o aluguer dos paquetes para a Expo 98 não faz dele uma pessoa elegível para substituir o Álvaro no Ministério da Economia, pois não?

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