Jorge Fiel – Jornal
de Notícias, opinião
É muito raro eu
mentir. Mas aviso desde já que isso nada tem a ver com preconceitos éticos ou
morais, até porque sei perfeitamente que há mentiras muito convenientes e até
piedosas. Não. Apenas evito mentir por saber que nessa matéria sou um zero à esquerda.
Tenho a certeza de
que, por muito que me esforçasse, não conseguiria enganar ninguém. A minha cara
é um livro aberto. Para me apanhar não era preciso ser um detetor de mentiras
humano, como o dr. Cal Lightman, da série "Lie to me".
Esta minha incompetência
inata nas artes de fingir e mentir não me deixa orgulhoso, porque me cortou
logo à partida qualquer hipótese de fazer carreira como ator ou político. Desde
Maquiavel que sabemos que apenas um mentiroso ousado e muito capaz pode aspirar
a singrar na política e garantir o poder.
Mas não fiquem a
pensar que eu sou um anjinho. Nem tanto. Não minto, mas nem sempre conto toda a
verdade. Ou seja, omito as coisas que acho me prejudicariam se fossem
divulgadas.
A partir de Tiago
4:17 ("Comete pecado aquele que sabe fazer o bem e não faz"), os
especialistas na Bíblia condenam por igual o pecado da comissão (exemplo:
roubar) e o da omissão (ex.: não trabalhar).
Para além da
hipocrisia (outro dos atributos essenciais a um bom político), as omissões são
o que mais abunda no episódio em cartaz da polémica da nomeação de Franquelim
Alves para secretário de Estado.
É, no mínimo,
hipócrita questionar a idoneidade de Franquelim para ser membro do Governo
quando ninguém levantou a voz ou esboçou crítica quando ele foi nomeado para
distribuir os milhões do Compete, um programa do QREN.
As omissões são o
que mais me incomoda quando olho para este caso. Para começar, a omissão no seu
curriculum dos 11 meses (novembro 07-outubro 08) em que foi administrador da
SLN - onde cometeu o pecado da omissão ao abster-se de comunicar às autoridades
as irregularidades que testemunhou e ao não informar Miguel Cadilhe (que
assumiu a presidência do grupo em junho 08) da verdadeira dimensão dos buracos
que teria de enfrentar.
Para se ser um bom
político, não basta ser hipócrita competente e bom mentiroso. Também é preciso
ter sensibilidade e bom senso. E a nomeação do secretário de Estado do Empreendedorismo
revela que Passos não está na plena posse destas duas últimas qualidades.
Não basta dizer que
Franquelim não está a contas com a Justiça. Também Ricardo Salgado não está,
mas, apesar da sua competência, espero que não passe pela cabeça do primeiro-ministro
nomear para ministro das Finanças um banqueiro que corrigiu por três vezes a
declaração do IRS de 2011, sendo que na última os rendimentos declarados eram
8,5 milhões de euros superiores à primeira.
E o facto de
Godinho Lopes ter sido ilibado no caso da vigarice com o aluguer dos paquetes
para a Expo 98 não faz dele uma pessoa elegível para substituir o Álvaro no
Ministério da Economia, pois não?
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