RITA BRANDÃO GUERRA - Público
Secretário de
Estado diz que contribuiu para denunciar "o buraco" do BPN e recusa
demitir-se.
Franquelim Alves, o
secretário de Estado debaixo de fogo por causa de incogruências do seu
currículo, afirmou nesta quinta-feira à noite que o convite para integrar o
executivo lhe foi feito pelo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, a
quem entregou um currículo que incluía o exercício de funções de administrador
da SLN, holding proprietária do BPN.
“No currículo que
entreguei ao senhor ministro estava claramente expresso [que trabalhei na
SLN]”, disse em entrevista à RTP. O recém-empossado secretário de Estado do
Empreendedorismo, Competitividade e Inovação acrescentou que ficou surpreendido
com a ausência dessa informação no primeiro currículo divulgado pelo Governo e
que não deu “ordens desse tipo”.
“É um tema que eu
não consigo explicar”, insistiu.
Mas, logo de
seguida, justificou a situação com ”uma preocupação de síntese”, já que
esteve apenas dez meses, em 43 de carreira, ligado ao “monstro” do BPN. O
governante desmontou a ideia de que alguma vez tenha sido sua intenção ocultar
parte do currículo, até porque não haveria “nada a esconder sobre a matéria”.
Em “perfeitas
condições” para desempenhar o cargo, Franquelim Alves afastou o cenário de uma
demissão provocada pelo que apelidou de “poluição” e “chicana” à volta do caso.
“Eu não sou responsável pelo buraco [do BPN], eu contribuí para denunciar o
buraco”, O governante admitiu que que só ponderará abandonar o ministério se a
“perturbação” for “permanente”: “Dá a impressão, em larga medida, que o grande
crime é eu estar no Governo por ter passado pela SLN nem por um ano”, disse.
Nesta quinta-feira,
o PÚBLICO tentou contactar o Ministério da Economia para averiguar outro
desacerto na biografia do secretário de Estado, mas não obteve resposta até ao
momento. O PÚBLICO confirmou que Franquelim Alves entrou na Ernst & Young
com 16 anos, idade em que admite ter começado a sua carreira como “auditor e consultor”.
A empresa, porém, adiantou que o novo colaborador de Álvaro Santos Pereira
tinha começado por exercer funções não qualificadas e diferentes das enunciadas
no currículo oficial.
A empresa
consultora tinha então outro nome, que só viria a ser alterado para Ernst &
Young depois da fusão entre sócios da empresa, em 1989. Este percurso foi
confirmado ao PÚBLICO e ter-se-á desenrolado ao longo de 17 anos dentro da
consultora. Mas já depois desta informação, a Ernst & Young Portugal emitiu
um comunicado de imprensa que refere que Franquelim Alves iniciou carreira como
“júnior auditor” na Barton Mayhew & Cia, uma das empresas que daria origem
à actual Ernst & Young.
O ministro Miguel
Relvas comentou na quarta-feira o início de carreira do novo
secretário de Estado: “Não o conheço desde essa idade, conheço-o há alguns
anos, mas não o conheço desde os 16 anos.” Miguel Relvas acrescentou a tese de
uma “cabala política” contra o governante, à semelhança do que também fizera
Álvaro Santos Pereira, ao criticar o “linchamento público” de Franquelim Alves.
Sobre o caso BPN,
Franquelim Alves alegou que os três meses que separaram o seu conhecimento de
irregularidades no banco, em Março de 2008, e a comunicação ao Banco de
Portugal, se justificam com um “puzzle” do qual não sabia sequer onde encontrar
as peças. A informação só poderia ser dada ao Banco de Portugal com informação
“concreta, detalhada”. O governante insistiu ainda na ideia de que existia em
2008 a noção de que a falência do BPN poderia colocar em causa todo o sistema
bancário português.
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