segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Processo contra a editora que publicou "Diamantes de Sangue" foi arquivado pelo MP




PSP - EO – PJA – Lusa – foto João Relvas

O Ministério Público arquivou o processo, por difamação, contra o jornalista angolano Rafael Marques e a editora Tinta da China, que publicou o livro “Diamantes de Sangue”, refere hoje uma nota da Procuradoria Geral de Lisboa.

"O Ministério Público concluiu, dos elementos recolhidos nos autos, que a publicação do livro “Diamantes de Sangue” se enquadra no legítimo exercício de um direito fundamental, a liberdade de informação e de expressão, constitucionalmente protegido, que no caso concreto se sobrepõe a outros direitos", refere a nota da Procuradoria Geral de Lisboa.

O mesmo documento refere que o Ministério Público concluiu pela ausência de indícios da prática de crime, tendo em conta os elementos recolhidos e o interesse público em causa.

De acordo com o mesmo documento, o inquérito dizia respeito à denúncia que duas sociedades angolanas - a Sociedade Mineira do Cuango e a firma Teleservice - Sociedade de Telecomunicações, Segurança e Serviços, acompanhadas dos seus sócios e legais representantes - apresentaram contra um jornalista angolano, Rafael Marques e a representante da editora portuguesa Tinta-da-China, na sequência da publicação de um livro, com título 'Diamantes de Sangue".

A editora Bárbara Bulhosa, da Tinta da China disse no dia 31 de janeiro que o processo era "uma tentativa de intimidação" contra o jornalista angolano Rafael Marques pelo livro "Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola", no qual era coarguida.

"Interpreto este processo como uma tentativa de intimidação não só ao Rafael Marques (...) mas também à Tinta-da-China (a editora do livro) e, principalmente, parece-me que é um precedente perigoso porque é uma intimidação a todos os jornalistas e todos os editores ao investigarem matérias mais sensíveis que possam envolver altas figuras do Estado angolano. É uma forma de os pressionar a não avançarem", afirmava Bárbara Bulhosa em declarações a jornalistas.

O processo foi instaurado em Portugal, onde foi publicado o livro, por nove generais angolanos ligados à exploração de diamantes em Angola, que acusam o autor de "calúnia e injúria".

Na obra, que resulta de uma investigação iniciada em 2004, são denunciadas alegadas violações dos direitos humanos, incluindo torturas e assassínios de trabalhadores da extração mineira na região das Lundas.

A responsável editorial da Tinta-da-China, que no dia 31 de janeiro falava aos jornalistas depois de ter sido ouvida no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, lembrou que Rafael Marques tinha sido constituído arguido neste caso em novembro de 2012.

A editora referiu que está convencida da "veracidade e credibilidade" da investigação que deu origem ao livro.

"Tive acesso aos documentos que estão citados no livro e fiquei convencida de que o que está no livro é verdade", disse Bárbara Bulhosa, acrescentando que quando aceitou publicar a obra percebeu que "se tratava de uma matéria muito sensível porque são revelados abusos sistemáticos dos direitos humanos".

No final do mês de janeiro, o livro "Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola" tinha vendido 7 mil exemplares e em breve sairá a sua 5ª edição, com mais 1.500 exemplares.

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