Lisboa, 02 Fev
(Inforpress) – O silêncio das autoridades guineenses sobre as denúncias de
"abate indiscriminado" de árvores de grande porte por madeireiros
chineses preocupa Carlos Lopes, subsecretário geral das Nações Unidas de origem
guineense, que teme haver “cumplicidades obscuras”.
“A nossa posição é
de que os países africanos em geral aproveitam pouco os seus recursos. A
transformação estrutural desta situação requer uma pressão cívica e uma nova
mentalidade dos atores económicos e políticos”, disse hoje à Lusa Carlos Lopes,
secretário executivo da Comissão Económica da ONU para África (CEA).
“As notícias que
vêm a lume são preocupantes mais pela ausência de esclarecimento das
autoridades. Muitas vezes existem cumplicidades obscuras entre reguladores e
operadores”, adiantou.
Lamine Mané,
presidente da Associação de Jovens de Fulacunda, no sul da Guiné-Bissau,
denunciou recentemente o caso e diz que o representante do governo no setor até
está do lado dos jovens que estão contra os madeireiros chineses, mas diz que
não pode fazer nada para parar o abate das árvores "porque a ordem vem de
Bissau".
"A floresta,
que queríamos que fosse considerada floresta comunitária e protegida, da zona
de Mbasso já está completamente destruída. Há dois anos que os chineses estão a
cortar árvores naquela floresta, hoje aqui está com uma clareira enorme",
disse Lamine Mané à Lusa.
No passado mês de
dezembro os jovens de Fulacunda passaram das ameaças aos atos, parando, à
força, os madeireiros, mas estes, dias depois voltaram a cortar árvores
mediante uma nova autorização passada pelo governo central, contou o jovem
Mané.
Carlos Lopes realça
que falta informação de qualidade sobre florestas e o seu corte mesmo em países
como Portugal e Brasil.
“Imagine-se pois
uma Guiné-Bissau ou Moçambique”, disse à Lusa.
Apesar de casos
destes, afirma, a entrada dos países emergentes como a China em África é
bem-vinda.
“Permitiu alargar
as escolhas, aumentar o espaço de negociação, diminuir o paternalismo do debate
sobre o desenvolvimento. Na esfera económica, trouxe um aumento do comércio,
investimentos e diversificação”, disse.
“Mas os emergentes
chegam a África com interesses. Cabe aos africanos defender os seus”, adiantou.
Em particular o
aluguer de terrenos agrícolas em países como Angola ou Moçambique exige que
estes países “assumam a responsabilidade de responder aos interesses das suas
populações”, tendo em conta que é necessário apoio externo, através de “capital
humano e financeiro”, para mecanizar a agricultura no continente e assim
aumentar a produtividade.
Lopes foi escolhido
em março de 2012 por Ban Ki-moon para subsecretário geral, depois de 24 anos
ligado à ONU, e pretende elevar a CEA a “grande think tank” africano.
Inforpress/Lusa, com foto
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