sábado, 2 de fevereiro de 2013

Silêncio da Guiné-Bissau sobre abate de árvores por chineses preocupa subsecretário ONU




Lisboa, 02 Fev (Inforpress) – O silêncio das autoridades guineenses sobre as denúncias de "abate indiscriminado" de árvores de grande porte por madeireiros chineses preocupa Carlos Lopes, subsecretário geral das Nações Unidas de origem guineense, que teme haver “cumplicidades obscuras”.

“A nossa posição é de que os países africanos em geral aproveitam pouco os seus recursos. A transformação estrutural desta situação requer uma pressão cívica e uma nova mentalidade dos atores económicos e políticos”, disse hoje à Lusa Carlos Lopes, secretário executivo da Comissão Económica da ONU para África (CEA).

“As notícias que vêm a lume são preocupantes mais pela ausência de esclarecimento das autoridades. Muitas vezes existem cumplicidades obscuras entre reguladores e operadores”, adiantou.

Lamine Mané, presidente da Associação de Jovens de Fulacunda, no sul da Guiné-Bissau, denunciou recentemente o caso e diz que o representante do governo no setor até está do lado dos jovens que estão contra os madeireiros chineses, mas diz que não pode fazer nada para parar o abate das árvores "porque a ordem vem de Bissau".

"A floresta, que queríamos que fosse considerada floresta comunitária e protegida, da zona de Mbasso já está completamente destruída. Há dois anos que os chineses estão a cortar árvores naquela floresta, hoje aqui está com uma clareira enorme", disse Lamine Mané à Lusa.

No passado mês de dezembro os jovens de Fulacunda passaram das ameaças aos atos, parando, à força, os madeireiros, mas estes, dias depois voltaram a cortar árvores mediante uma nova autorização passada pelo governo central, contou o jovem Mané.

Carlos Lopes realça que falta informação de qualidade sobre florestas e o seu corte mesmo em países como Portugal e Brasil.

“Imagine-se pois uma Guiné-Bissau ou Moçambique”, disse à Lusa.

Apesar de casos destes, afirma, a entrada dos países emergentes como a China em África é bem-vinda.

“Permitiu alargar as escolhas, aumentar o espaço de negociação, diminuir o paternalismo do debate sobre o desenvolvimento. Na esfera económica, trouxe um aumento do comércio, investimentos e diversificação”, disse.

“Mas os emergentes chegam a África com interesses. Cabe aos africanos defender os seus”, adiantou.

Em particular o aluguer de terrenos agrícolas em países como Angola ou Moçambique exige que estes países “assumam a responsabilidade de responder aos interesses das suas populações”, tendo em conta que é necessário apoio externo, através de “capital humano e financeiro”, para mecanizar a agricultura no continente e assim aumentar a produtividade.

Lopes foi escolhido em março de 2012 por Ban Ki-moon para subsecretário geral, depois de 24 anos ligado à ONU, e pretende elevar a CEA a “grande think tank” africano.

Inforpress/Lusa, com foto

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