FPA – PJA – Lusa –
foto João Relvas
O porta-voz do
governo de transição na Guiné-Bissau disse hoje que Portugal cometeu
"erros crassos" na resposta à crise no país africano e defendeu que
"é chegado o momento" de Lisboa reconhecer o executivo em funções.
Em entrevista à
Lusa em Lisboa, cidade onde se deslocou para participar no funeral de Domingos
Fernandes, fundador do partido Resistência Guiné-Bissau (Movimento Bafatá),
Fernando Vaz lançou um apelo ao governo português: "Portugal tem
responsabilidade em relação à Guiné-Bissau".
Portugal, assim
como a maioria da comunidade internacional, não reconhece o governo de
transição da Guiné-Bissau, que entrou em funções depois do golpe de Estado de
12 de abril, que depôs o presidente eleito, Carlos Gomes Júnior, exilado em
Portugal desde essa altura.
"O governo de
transição continua aberto, apesar de toda a ignorância que o governo português
faz da realidade guineense", de modo "a que as autoridades
portuguesas se aproximem para nos ajudarem a encontrar uma solução para a
Guiné-Bissau", disse Fernando Vaz, ministro de Estado, da Presidência,
Assuntos Parlamentares e Comunicação Social.
Para o também
porta-voz do executivo de Bissau, "por enquanto" Portugal ainda tem
uma palavra a dizer na Guiné-Bissau.
Questionado se isto
significa que Portugal poderá deixar de ter uma palavra a dizer, Fernando Vaz
disse que as autoridades de Bissau não continuarão "a permitir
determinadas situações que têm acontecido" porque os guineenses,
"apesar de pequeninos", têm dignidade.
"Entendemos
que é chegado o momento, vivendo esta nova conjuntura de reconhecimento do
governo pelo Banco [Mundial, que a 17 de dezembro anunciou a retoma da
cooperação com o país] e por outras instituições, que o governo português
também o faça", disse.
O governante
considerou ainda que, desde o golpe de Estado de abril, Portugal tem cometido
"erros crassos", propondo a "apologia da resolução do problema
da Guiné-Bissau pela violência".
Lembrou que após o
12 de abril, e ao contrário do que aconteceu em outras crises no país, em que
Portugal servia de mediador, Lisboa "enviou vasos de guerra para Cabo
Verde para invadir a Guiné-Bissau" e pouco depois pediu "o
estacionamento de uma força multinacional" no país.
Para Fernando Vaz,
a posição de Portugal mudou devido à sua relação com Angola, que antes do golpe
de Estado tinha uma força militar estacionada em Bissau na sequência de um
acordo com as autoridades de então.
"Os angolanos,
a serem humilhados e expulsos como foram da Guiné-Bissau, e Portugal,
participando nesse processo sendo parceiro e dependendo hoje muito de Angola,
toma as mesmas posições de Angola. Embora Angola não fale, manda Portugal
falar", afirmou.
Fernando Vaz, que
nesta deslocação a Lisboa pediu reuniões com a Presidência da República e o
Governo, sem obter respostas, nem sequer ao nível informal, disse ter já sido
alvo de tentativas de represálias.
"Chamaram a
minha esposa, que é portuguesa, ao SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras),
intimidando e querendo estabelecer algum clima desfavorável à minha vinda cá a
Portugal. Mas, com a intervenção de um advogado amigo, nós conseguimos resolver
o problema", contou.
"Se Portugal
entender que eu sou 'persona non grata' que o declare e eu não venho cá
mais", afirmou.
Sem comentários:
Enviar um comentário