terça-feira, 5 de março de 2013

APOIO SOB MEDIDA




Diário de Notícias, editorial

É duvidoso que as instituições europeias, ao contrário do que afirmam os seus porta-vozes, tenham já tirado todas as consequências devidas dos últimos dados desastrosos do desempenho económico na Zona Euro. E, consequentemente, que tenham uma visão suficientemente abrangente da degradação da situação social. Assim, não pode senão causar alguma reserva ouvir dizer que Bruxelas tomou boa nota das manifestações ocorridas no passado sábado em Portugal e que agirá em conformidade para ajudar a sair do aperto a que chegou a vida de milhões de portugueses.

Até ao momento, os programas de apoio aos jovens desempregados, cofinanciados por fundos europeus, saldam--se entre nós por um embaraçoso fracasso, e o País está suspenso do 7.º exame da troika, ao qual está correntemente sujeito. Em termos orçamentais, já muito poucos resistem a reconhecer que é preciso mais tempo para conseguir funcionar correntemente com défices públicos bem inferiores a 3% do PIB. E quanto às obrigações financeiras de pagamento da dívida pública, aguarda-se o resultado do Eurogrupo - os 17 ministros das Finanças da Zona Euro - e do seu presente "debate de orientação" para saber se o pedido conjunto de Portugal e da Irlanda no sentido de alongar os prazos de reembolso dos empréstimos contraídos vai obter o acordo dos seus pares.

Desde que os países sob assistência se mantenham numa trajetória de redução de consolidação das suas contas públicas (ainda que a marchas menos forçadas), o alargamento dos prazos dos empréstimos e a redução dos juros exigidos constituem ajudas concretas à saída dos respetivos programas de assistência. No fundo, o que os credores querem ver é o alisamento dos picos de pagamentos dos próximos anos, graças ao rescalonamento aceite pelos parceiros da Zona Euro, sem que isso signifique fechar os olhos ao desregramento da disciplina orçamental, que levou à crise das dívidas soberanas. E, complementarmente, se revele compatível com a reanimação progressiva e realista da atividade económica.

Uma tendência europeia?

Depois do excelente resultado obtido nas legislativas italianas pelo "excêntrico" Beppe Grillo, foi a vez de os austríacos nas eleições regionais da Caríntia e da Baixa Áustria concederem, respetivamente, 11,3% de votos e 9,8% a um outro "excêntrico", Frank Stronach, que surgiu a caçar votos em todo os eleitorado, da esquerda à direita e, designadamente, à extrema-direita. Este é o outro facto relevante do voto regional austríaco: a queda da extrema-direita, em especial na Caríntia, feudo de Jörg Haider, morto há quatro anos e cuja memória e carisma estão, naturalmente, a sofrer a erosão da passagem do tempo. O facto de a extrema-direita se apresentar dividida por duas formações pode justificar algo do resultado, mas os índices de voto nos sociais-democratas e na democracia-cristã revelam que o apelo dos herdeiros de Haider está a perder capacidade de mobilização. O que é uma boa notícia. Desconcertante, porventura perigosa - e por isso mesmo a merecer séria reflexão -, é a recorrente presença de "excêntricos" entre os mais votados. Epifenómeno ou sinal de algo mais grave na prática e no discurso políticos "convencionais".

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