sábado, 16 de março de 2013

BALANÇO DE VITOR GASPAR: CORREU TUDO MUITO BEM E… FALHOU

 


Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
Maus resultados não faltam. Vamos a caminho da tragédia grega
 
A conferência de imprensa do ministro das Finanças confirmou o que se tornava evidente: os objectivos do governo falharam novamente. Veja-se que o desemprego vai atingir cerca de 19% ainda este ano (o que significa uma taxa real, com subemprego e não contabilizados, de 24%); o défice permitido este ano vai até 5,5% (mais 1%); o corte dos 4 mil milhões foi estendido; a recessão estimada é agora de 2,3%, o que antevê um resultado real de mais de 3%; e o nível da dívida pública pode chegar a 123,7% do PIB, percentagem que continuará a subir na exacta medida em que o PIB continuar a descer, o que é agora inevitável. A integração da concessão da ANA para atenuar o défice foi vetada pela Europa, como aqui dissemos. Enfim, estamos a caminho da tragédia grega.
 
Face à rara capacidade de engano previsional de Gaspar, é de admitir que os números possam derrapar tragicamente, mesmo se não se contar com o eventual efeito de uma decisão do Tribunal Constitucional que vete o imposto extraordinário atirado para cima dos reformados que ganham mais de 1350 euros brutos. O simples facto de o governo nem sequer admitir que isso suceda é uma chantagem junto do tribunal.
 
Com o seu ar seráfico, Vítor Gaspar foi justificando o desastre com o contexto internacional, achando até que há sinais positivos, o que é surrealista. É verdade que as coisas estão más por todo o lado, tirando alemães e escandinavos.
 
Mas importa procurar quem, cá dentro, tem culpa do descalabro. Ora não há dúvida de que é o ministro das Finanças, que não quis ouvir, por exemplo, empresários conscientes e gestores privados que conhecem bem a realidade, isto para não falar de macroeconomistas altamente qualificados. Era elementarmente impossível apoiar-se em exportações sem substrato permanente, ignorando o mercado interno e a necessidade de manter níveis de consumo interno que aguentassem as empresas.
 
De facto, logo no início, o caminho escolhido pelo ministro foi errado. Procurou receitas subindo brutalmente os impostos e esqueceu-se de que a boa lógica mandava atacar, em primeira linha, a despesa, enquanto os cidadãos ainda tinham alguma folga para enfrentar com os seus recursos pessoais a descida das prestações e dos apoios sociais.
 
Agora, não há recuo possível. A espiral recessiva acelera e vem aí mais austeridade. Entrámos numa estrada de sentido único. Os cortes que vão ser anunciados nas próximas semanas vão ainda agravar as coisas numa Europa em recessão.
 
Face a este lamentável panorama, não vale a pena acrescentar uma crise política. No estado actual das coisas, o PS já não tem hipótese de alterar o que quer que seja e António José Seguro até deve evitar ir parar ao governo, uma vez que as bases erradas de Gaspar inquinam o caminho por alguns anos.
 
Em síntese, é indiscutível que Vítor Gaspar se tornou um problema grave para o primeiro-ministro que, ingenuamente, foi no seu engodo. E já se viu que, da Europa, não poderemos contar com nada para inverter a trajectória mortal em que nos meteu. Atenas que espere que Lisboa vai a caminho.
 

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