Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Maus resultados não
faltam. Vamos a caminho da tragédia grega
A conferência de
imprensa do ministro das Finanças confirmou o que se tornava evidente: os
objectivos do governo falharam novamente. Veja-se que o desemprego vai atingir
cerca de 19% ainda este ano (o que significa uma taxa real, com subemprego e
não contabilizados, de 24%); o défice permitido este ano vai até 5,5% (mais
1%); o corte dos 4 mil milhões foi estendido; a recessão estimada é agora de
2,3%, o que antevê um resultado real de mais de 3%; e o nível da dívida pública
pode chegar a 123,7% do PIB, percentagem que continuará a subir na exacta
medida em que o PIB continuar a descer, o que é agora inevitável. A integração
da concessão da ANA para atenuar o défice foi vetada pela Europa, como aqui
dissemos. Enfim, estamos a caminho da tragédia grega.
Face à rara
capacidade de engano previsional de Gaspar, é de admitir que os números possam
derrapar tragicamente, mesmo se não se contar com o eventual efeito de uma
decisão do Tribunal Constitucional que vete o imposto extraordinário atirado
para cima dos reformados que ganham mais de 1350 euros brutos. O simples facto
de o governo nem sequer admitir que isso suceda é uma chantagem junto do
tribunal.
Com o seu ar
seráfico, Vítor Gaspar foi justificando o desastre com o contexto
internacional, achando até que há sinais positivos, o que é surrealista. É
verdade que as coisas estão más por todo o lado, tirando alemães e
escandinavos.
Mas importa
procurar quem, cá dentro, tem culpa do descalabro. Ora não há dúvida de que é o
ministro das Finanças, que não quis ouvir, por exemplo, empresários conscientes
e gestores privados que conhecem bem a realidade, isto para não falar de
macroeconomistas altamente qualificados. Era elementarmente impossível
apoiar-se em exportações sem substrato permanente, ignorando o mercado interno
e a necessidade de manter níveis de consumo interno que aguentassem as
empresas.
De facto, logo no
início, o caminho escolhido pelo ministro foi errado. Procurou receitas subindo
brutalmente os impostos e esqueceu-se de que a boa lógica mandava atacar, em
primeira linha, a despesa, enquanto os cidadãos ainda tinham alguma folga para
enfrentar com os seus recursos pessoais a descida das prestações e dos apoios
sociais.
Agora, não há recuo
possível. A espiral recessiva acelera e vem aí mais austeridade. Entrámos numa
estrada de sentido único. Os cortes que vão ser anunciados nas próximas semanas
vão ainda agravar as coisas numa Europa em recessão.
Face a este
lamentável panorama, não vale a pena acrescentar uma crise política. No estado
actual das coisas, o PS já não tem hipótese de alterar o que quer que seja e
António José Seguro até deve evitar ir parar ao governo, uma vez que as bases
erradas de Gaspar inquinam o caminho por alguns anos.
Em síntese, é
indiscutível que Vítor Gaspar se tornou um problema grave para o primeiro-ministro
que, ingenuamente, foi no seu engodo. E já se viu que, da Europa, não poderemos
contar com nada para inverter a trajectória mortal em que nos meteu. Atenas que
espere que Lisboa vai a caminho.
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