domingo, 17 de março de 2013

GASPAR TRADUZIDO: A DERROTA DO GOVERNO, MAIS AUSTERIDADE E MAIS TEMPO

 


Henrique Monteiro – Expresso, opinião
 
Egas Moniz, quando se apresentou de corda ao pescoço perante o rei de Leão, não devia ter pior aspeto. A conferencia de imprensa do ministro das Finanças, a anunciar as conclusões da sétima avaliação da troika, não disfarçou o desanimo e o sentimento de derrota que perpassa no Governo
 
Tentando traduzir o que foi dito em linguagem simples, comecemos pelo mais brutal - o desemprego. E sobre isto há a dizer o seguinte: vai subir até ao fim deste ano. Só. Em 2016 voltará - imaginem! - ao nível que hoje tem. O seu pico mais elevado não andará longe dos 19%. Isto nos dados oficiais, já sabemos que o real, incluindo o subemprego e aqueles que abandonam o mercado de trabalho, será bem pior.
 
A seguir vamos aos cortes. Como o Eurostat não aceitou que a privatização da ANA entrasse para o calculo do défice - uma derrota clara do Governo português e dos seus estrategos em contabilidade publica - o défice real de 2012 foi de 6,6% e não os 4,9% anunciados anteriormente. Assim, a redução terá de partir de um patamar mais elevado. Acresce que a recessão, que era para ser de 1%, depois de 2%, vai ser afinal de 2,3% (só estamos em Março, veremos o que se dirá em Abril...). O Orçamento do Estado para este ano apenas prevê 90% do esforço necessário. Os outros 10% vêm de cortes adicionais. Para abreviar, vêm de rescisões na função publica, que provoca, naturalmente, desemprego. Em causa estão 500 milhões de euros de corte estrutural, ou seja, definitivo. Partindo do principio que 100 milhoes são conseguidos em poupanças em todo o Estado, sem despedimentos, significa que os restantes 400 milhoes serão conseguidos através de despedimentos, ou eufemisticamente, de rescisões de contratos (20 mil, diz-se aqui).
 
Perante esta catástrofe - e ainda faltam cortes estruturais de 3,5 milhoes até 2015 - o facto de Portugal conseguir mais um ano para atingir, agora,um défice de 2,5%, não passando de 5,5% de défice este ano e de 4% em 2014, é melhor do que nada, mas não disfarça a catástrofe. Como disse Vitor Gaspar, não se trata de mais tempo nem de mais dinheiro, mas de um mero alargamento do prazo, para além do fim do programa da troika em Julho de 2014. Mas, como se entende, isto são jogos de palavras. Trata-se ao fim e ao cabo de estender no tempo o que não se consegue de outra forma, porque já não se pode aumentar impostos e porque não se vê modo de a economia crescer.
 
O resumo é este: temos mais austeridade estendida por mais tempo, como diz João Vieira Pereira. O governo diz que se deve à má performance da zona Euro e, em parte, tem razão. Mas foi este o Governo que, quando chegou, vinha de peito feito a anunciar que dois anos de austeridade punham o país na ordem. Se agora se queixam da conjuntura, teremos de lhes citar os clássicos: não tem vento favorável o marinheiro que não conhece o rumo. Pois é!
 

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