Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Egas Moniz, quando
se apresentou de corda ao pescoço perante o rei de Leão, não devia ter pior
aspeto. A conferencia de imprensa do ministro das Finanças, a anunciar as
conclusões da sétima avaliação da troika, não disfarçou o desanimo e o
sentimento de derrota que perpassa no Governo
Tentando traduzir o
que foi dito em linguagem simples, comecemos pelo mais brutal - o desemprego. E
sobre isto há a dizer o seguinte: vai subir até ao fim deste ano. Só. Em 2016
voltará - imaginem! - ao nível que hoje tem. O seu pico mais elevado não andará
longe dos 19%. Isto nos dados oficiais, já sabemos que o real, incluindo o
subemprego e aqueles que abandonam o mercado de trabalho, será bem pior.
A seguir vamos aos
cortes. Como o Eurostat não aceitou que a privatização da ANA entrasse para o
calculo do défice - uma derrota clara do Governo português e dos seus
estrategos em contabilidade publica - o défice real de 2012 foi de 6,6% e não
os 4,9% anunciados anteriormente. Assim, a redução terá de partir de um patamar
mais elevado. Acresce que a recessão, que era para ser de 1%, depois de 2%, vai
ser afinal de 2,3% (só estamos em Março, veremos o que se dirá em Abril...). O
Orçamento do Estado para este ano apenas prevê 90% do esforço necessário. Os
outros 10% vêm de cortes adicionais. Para abreviar, vêm de rescisões na função
publica, que provoca, naturalmente, desemprego. Em causa estão 500 milhões de
euros de corte estrutural, ou seja, definitivo. Partindo do principio que 100
milhoes são conseguidos em poupanças em todo o Estado, sem despedimentos,
significa que os restantes 400 milhoes serão conseguidos através de
despedimentos, ou eufemisticamente, de rescisões de contratos (20
mil, diz-se aqui).
Perante esta
catástrofe - e ainda faltam cortes estruturais de 3,5 milhoes até 2015 - o
facto de Portugal conseguir mais um ano para atingir, agora,um défice de 2,5%,
não passando de 5,5% de défice este ano e de 4% em 2014, é melhor do que nada,
mas não disfarça a catástrofe. Como disse Vitor Gaspar, não se trata de mais
tempo nem de mais dinheiro, mas de um mero alargamento do prazo, para além do
fim do programa da troika em Julho de 2014. Mas, como se entende, isto são
jogos de palavras. Trata-se ao fim e ao cabo de estender no tempo o que não se
consegue de outra forma, porque já não se pode aumentar impostos e porque não
se vê modo de a economia crescer.
O resumo é este: temos
mais austeridade estendida por mais tempo, como
diz João Vieira Pereira. O governo diz que se deve à má performance
da zona Euro e, em parte, tem razão. Mas foi este o Governo que, quando chegou,
vinha de peito feito a anunciar que dois anos de austeridade punham o país na
ordem. Se agora se queixam da conjuntura, teremos de lhes citar os clássicos: não
tem vento favorável o marinheiro que não conhece o rumo. Pois é!
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