quinta-feira, 28 de março de 2013

Birmânia: Com eleições no horizonte, Suu Kyi acusada de se aproximar dos inimigos do passado




EJ – MLL - Lusa

Eleita há um ano, a deputada da oposição birmanesa Aung San Suu Kyi tem mantido o silêncio sobre as violências religiosas dos últimos dias no país e assistiu, pela primeira vez, às cerimónias anuais do exército.

Há dois anos apenas, Aung San Suu Kyi era considerada uma inimiga do poder militar birmanês. Agora, é acusada de apoiar as reformas do Governo e de se aproximar, cada vez mais, dos inimigos do passado.

Em 2015, a Birmânia vai organizar as primeiras legislativas realmente livres em décadas. Uma etapa importante para o presidente Thein Sein e para Aung San Suu Kyi, que conquistou o lugar de deputada nas legislativas parciais de 01 de abril de 2012, depois do seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND) ter boicotado as eleições de 2010.

A LND ganhou 43 dos 44 lugares a que concorreu, tornando-se a principal força no parlamento birmanês. Em 1990, a LND tinha vencido por larga maioria as eleições, mas os resultados nunca foram reconhecidos pela junta militar, então no poder.

No início deste mês, Aung San Suu Kyi foi reeleita presidente da LND, por unanimidade, pelos 120 membros do comité central do partido, reunidos no primeiro congresso da história da Liga, num encontro visto como um sinal de força política.

Suu Kyi pediu a unidade do partido, tendo vista as legislativas de 2015, para as quais parte como favorita.

A Prémio Nobel da Paz (1991) nunca tinha participado neste "dia das forças armadas" e a sua presença mostra como o seu posicionamento na política está a evoluir.

Até 2011, as comemorações de 27 de março resumiam-se a uma demonstração do poder dos militares, que dominam o país há cerca de meio século e mantiveram a opositora em detenção durante 15 anos.

"Ela participou [nas comemorações] porque foi convidada", esclareceu Nyan Win, porta-voz do seu partido.

Numa entrevista à estação britânica BBC, difundida em janeiro, Suu Kyi confessou gostar "muito do exército".

"Sempre o vi como o exército do meu pai", acrescentou a filha do general Aung San, herói da independência assassinado.

A líder da oposição, de 67 anos, seguiu na quarta-feira, na capital Naypyidaw, a parada dos seis mil soldados, tanques, helicópteros e aviões de combate perante o comandante, o generalíssimo Min Aung Hlaing.

A cerimónia foi menos pomposa do que no tempo da junta militar, mas permitiu às forças armadas lembrar o seu papel político.

O "Tatmadaw (nome do exército birmanês) protege a nação de todos os perigos, mas também desempenha um papel na política, conforme a vontade do povo, quando a nação se depara com conflitos étnicos ou lutas políticas", declarou.

"Devemos construir o nosso 'Tatmadaw' para que seja forte e poderoso, moderno e patriótico", acrescentou o generalíssimo e garantiu que a tropa quer "consolidar o caminho para a democracia".

Estas declarações acontecem num contexto de grande tensão entre budistas e muçulmanos.
As violências que causaram 40 mortos na passada semana em Meiktila (a 130 quilómetros de Naypyidaw) ainda não se extinguiram completamente.

Várias novas mesquitas foram destruídas na terça-feira em outras localidades, de acordo com fontes policiais, enquanto em algumas localidades se mantém o recolher obrigatório.

Em 2012, os confrontos entre budistas da minoria étnica rakhine e muçulmanos da minoria apátrida Rohingya causaram mais de 180 mortos e 110.000 deslocados no oeste.

Na altura, Suu Kyi foi criticada por não ter defendido os Rohingyas, limitando as intervenções a um apelo ao Estado de direito. Mas, há uma semana, também não interveio quando um desentendimento entre um vendedor muçulmano e clientes em Meiktila degenerou em violência.

Foi necessária a intervenção das forças armadas e a imposição do estado de emergência para conseguir acalmar a situação. E, coisa inimaginável há dois anos, os habitantes congratularam-se com a chegada dos militares.


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