EJ – MLL - Lusa
Eleita há um ano, a
deputada da oposição birmanesa Aung San Suu Kyi tem mantido o silêncio sobre as
violências religiosas dos últimos dias no país e assistiu, pela primeira vez,
às cerimónias anuais do exército.
Há dois anos
apenas, Aung San Suu Kyi era considerada uma inimiga do poder militar birmanês.
Agora, é acusada de apoiar as reformas do Governo e de se aproximar, cada vez
mais, dos inimigos do passado.
Em 2015, a Birmânia
vai organizar as primeiras legislativas realmente livres em décadas. Uma etapa
importante para o presidente Thein Sein e para Aung San Suu Kyi, que conquistou
o lugar de deputada nas legislativas parciais de 01 de abril de 2012, depois do
seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND) ter boicotado as eleições
de 2010.
A LND ganhou 43 dos
44 lugares a que concorreu, tornando-se a principal força no parlamento
birmanês. Em 1990, a LND tinha vencido por larga maioria as eleições, mas os
resultados nunca foram reconhecidos pela junta militar, então no poder.
No início deste
mês, Aung San Suu Kyi foi reeleita presidente da LND, por unanimidade, pelos
120 membros do comité central do partido, reunidos no primeiro congresso da
história da Liga, num encontro visto como um sinal de força política.
Suu Kyi pediu a
unidade do partido, tendo vista as legislativas de 2015, para as quais parte
como favorita.
A Prémio Nobel da
Paz (1991) nunca tinha participado neste "dia das forças armadas" e a
sua presença mostra como o seu posicionamento na política está a evoluir.
Até 2011, as
comemorações de 27 de março resumiam-se a uma demonstração do poder dos
militares, que dominam o país há cerca de meio século e mantiveram a opositora
em detenção durante 15 anos.
"Ela
participou [nas comemorações] porque foi convidada", esclareceu Nyan Win,
porta-voz do seu partido.
Numa entrevista à
estação britânica BBC, difundida em janeiro, Suu Kyi confessou gostar
"muito do exército".
"Sempre o vi
como o exército do meu pai", acrescentou a filha do general Aung San,
herói da independência assassinado.
A líder da
oposição, de 67 anos, seguiu na quarta-feira, na capital Naypyidaw, a parada
dos seis mil soldados, tanques, helicópteros e aviões de combate perante o
comandante, o generalíssimo Min Aung Hlaing.
A cerimónia foi
menos pomposa do que no tempo da junta militar, mas permitiu às forças armadas
lembrar o seu papel político.
O "Tatmadaw
(nome do exército birmanês) protege a nação de todos os perigos, mas também
desempenha um papel na política, conforme a vontade do povo, quando a nação se
depara com conflitos étnicos ou lutas políticas", declarou.
"Devemos
construir o nosso 'Tatmadaw' para que seja forte e poderoso, moderno e
patriótico", acrescentou o generalíssimo e garantiu que a tropa quer
"consolidar o caminho para a democracia".
Estas declarações
acontecem num contexto de grande tensão entre budistas e muçulmanos.
As violências que
causaram 40 mortos na passada semana em Meiktila (a 130 quilómetros de
Naypyidaw) ainda não se extinguiram completamente.
Várias novas
mesquitas foram destruídas na terça-feira em outras localidades, de acordo com
fontes policiais, enquanto em algumas localidades se mantém o recolher
obrigatório.
Em 2012, os
confrontos entre budistas da minoria étnica rakhine e muçulmanos da minoria
apátrida Rohingya causaram mais de 180 mortos e 110.000 deslocados no oeste.
Na altura, Suu Kyi
foi criticada por não ter defendido os Rohingyas, limitando as intervenções a
um apelo ao Estado de direito. Mas, há uma semana, também não interveio quando
um desentendimento entre um vendedor muçulmano e clientes em Meiktila degenerou
em violência.
Foi necessária a
intervenção das forças armadas e a imposição do estado de emergência para
conseguir acalmar a situação. E, coisa inimaginável há dois anos, os habitantes
congratularam-se com a chegada dos militares.
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