sábado, 16 de março de 2013

GOVERNAR PELA NEGATIVA O EXEMPLO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

 


Benjamin Formigo – Jornal de Angola, opinião
 
O país sempre pronto a criticar e a opinar globalmente está, desde o início deste mês, a dar um exemplo notável de incapacidade de diálogo, de radicalização ideológica, mais sucintamente: de como é possível, na oposição, governar pela negativa. No final da campanha eleitoral de 2012 os republicanos deixaram saber que uma derrota presidencial (como sucedeu) não seria a entrega do poder a Obama e aos democratas apontando para a conquista da maioria numa das câmaras. Adivinhava-se mas não se queria acreditar que os republicanos, perdida a Presidência e, como se esperava, sem maioria no Senado iriam bloquear a acção da Administração.

A situação porém seria tão surrealista que a maioria dos analistas americanos e estrangeiros acabava, após muitas considerações, por recusar a possibilidade. O interesse nacional falaria mais alto, sobretudo quando o Mundo atravessa uma grave crise – a cuja origem os EUA não foram alheios -, o Mundo tornou-se um local pouco seguro e os EUA mantêm conflitos não declarados em vários pontos do globo. Mais, a economia americana dava sinais positivos.

Por outro lado bloquear a acção da Administração não fazia parte da cultura política americana, quase se pode dizer que era “antiamericano”. No passado as divergências entre os dois partidos, obviamente a divergência entre o Presidente e a oposição era dirimida com uma política de “checks and balances” onde todos acabavam por ganhar alguma coisa. A oposição cedia num determinado ponto e o Presidente dava uma contrapartida. Desta vez a questão tornou-se falsamente ideológica. Os Estados Unidos têm de reduzir o seu défice orçamental. Entre a Casa Branca e os republicanos que controlam a Câmara dos Representantes não existe acordo.

Obama pretende um entendimento de longo prazo e uma política que equilibre cortes orçamentais com aumentos de impostos selectivos aos mais favorecidos. Os republicanos nem querem ouvir falar de aumentos de impostos. Pura e simplesmente o “Great Old Party” recusa sentar-se a qualquer mesa ou a ter qualquer conversa onde a palavra impostos possa ser pronunciada, a menos claro que seja para os descer.

Assim, o país entrou na tão impensável como ridícula e perigosa situação de sofrer automaticamente um corte transversal em todos os sectores, desde a Defesa à Segurança Social. Centenas de milhares de pessoas podem ficar sem emprego; só na Califórnia entre 100 a 200 mil pessoas poderão perder o seu trabalho. Mas as consequências não ficam por aí: as empresas privadas com importantes contratos com o Governo central, designadamente a industria de defesa, poderão ser obrigadas a despedimentos em massa.

Sendo estas empresas centrais na economia americana as que se encontram quer a montante quer a jusante irão ser arrastadas para a mesma crise. Outros países irão sofrer de novo os erros dos Estados Unidos.

Nunca foi testada uma política de cortes indiferenciados. Solução curiosa e bem mais fácil que estudar cortes selectivos. Mais interessante é que os republicanos tenham deixado que isto sucedesse quando a economia está a dar sinais positivos e o desemprego a descer, ao contrário do que o candidato derrotado, Mitt Romney, dizia durante a campanha presidencial.

O precedente que os republicanos estão a criar faz regredir o entendimento social, contraria os entendimentos bipartidários, põe em causa a política de compromisso. Deixa antever que de futuro os EUA poderão ser governados pela negativa e que o segundo mandato de Barack Obama passa da cefaleia à enxaqueca.

O mundo teria o direito de esperar um pouco mais do Congresso dos Estados Unidos da América, sempre pronto a dar aos outros lições de democracia e de civismo.

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