sábado, 16 de março de 2013

Guiné-Bissau: ELEIÇÃO DA CNE ADIADA, HORTAS DI POBREZA SAI FILME DE SARA CORREIA

 

 
 
Parlamento da Guiné-Bissau adia eleição de presidente da Comissão Nacional Eleições
 
15 de Março de 2013, 16:13
 
Bissau, 15 mar (Lusa) - O Parlamento da Guiné-Bissau encerrou hoje mais uma sessão plenária sem eleger um novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), como estava prevista na agenda dos trabalhos iniciados a 15 de fevereiro último.
 
Após um mês de debates, o Parlamento guineense encerrou os trabalhos para ser retomado em sessão ordinária no mês de maio, mas o presidente do órgão, Ibraima Sory Djaló, disse ser possível que haja uma sessão extraordinária nos próximos tempos a pedido do Governo para discussão do Orçamento Geral do Estado de 2013.
 
Sory Djaló pediu aos parlamentares para que estejam atentos à convocatória, "que pode acontecer a qualquer momento".
 
Além da escolha do novo presidente da CNE, foram remetidas para a próxima sessão parlamentar a lei que fixa as remunerações que o Estado deve pagar, a título vitalício, aos titulares de cargos públicos e a lei que determina o estatuto dos funcionários do Parlamento.
 
Também ficou para a próxima sessão a discussão sobre um pacto de Regime que irá balizar um novo período de transição que o país terá que observar, uma vez que já não se vão realizar eleições gerais (tal como estava previsto) em maio deste ano.
 
Entre os 18 pontos agendados para a sessão hoje encerrada, destacam-se a aprovação de convenções e acordos internacionais, entre os quais os que fixam os termos de cooperação com a Guiné Equatorial e o Irão, e ainda as leis sobre minas, pedreiras e o petróleo.
 
O presidente do Parlamento considerou "positiva" a sessão que hoje terminou enquanto o líder da bancada parlamentar do Partido da Renovação Social (PRS, segunda maior força política), Certorio Biote, disse ter sido "proveitosa".
 
MB // VM
 
Hortas di Pobreza, Guiné-Bissau, numa tabanca perto de si
 
15 de Março de 2013, 14:18
 
Por Fernando Peixeiro, da agência Lusa
 
Bissau, 15 mar (Lusa) - Pobreza é uma terra da Guiné-Bissau que não vem no mapa mas que este sábado vai ter cinema. "Hortas di Pobreza", onde os "atores" são os habitantes da aldeia e o principal produto do país, o caju.
 
De Bissau para Pobreza, na região de Quinará, sul, partiu hoje a "Cine-caravana", para mostrar à população o documentário que há três anos lá foi rodado. Uma promessa deixada na altura pela principal responsável do projeto.
 
"Prometi-lhes que quando o filme estivesse feito lhes iria mostrar", contou à Lusa a autora do "Hortas di Pobreza", Sara Correia, uma portuguesa licenciada em Design de Comunicação que se especializou em audiovisuais e antropologia artística e que se estreou no cinema com as "Hortas" da melhor forma: primeiro prémio no Festival Itinerante de Cinema Lusófono (FESTIN) em 2011.
 
O filme pretende alertar para aquilo que Sara Correia considera ser "um perigo para a população rural", a excessiva dependência de uma monocultura de exportação, o caju. Para o completar, meteu-lhe dentro pescadores, exportadores e importadores de caju, o que a obrigou a ir à Índia, país que compra a quase totalidade de caju da Guiné-Bissau.
 
"É muito perigoso ter um país inteiro a depender apenas de uma monocultura de exportação. Através do filme conclui-se que ainda há possibilidade de viver em alguns lugares da Guiné-Bissau com culturas mais diversificadas, não dependendo apenas do caju e fazendo uma extração sustentável dos recursos", alertou Sara Correia.
 
E o filme mostra também, acrescentou, que as populações estão a abandonar as bolanhas (campos de arroz), pela salinização da terra mas também por falta de mão-de-obra, devido à "fuga" para as cidades.
 
"Se as pessoas que migram para a cidade são capazes de voltar à tabanca (aldeia) dois meses para a apanha do caju no entanto já não o fazem para apoiar nas bolanhas, que exigem muito mais tempo e dão muito mais trabalho", disse Sara Correia.
 
É tudo isto que a responsável quer mostrar em Pobreza e noutras tabancas, onde as pessoas vão poder ver empresários indianos a dizer que os preços do caju podem baixar por vontade de meia dúzia de pessoas.
 
Foi essa realidade, a segurança alimentar ou falta dela, que fez Sara Correia "saltar" em 2010 de Amesterdão para a Pobreza e acompanhar em filme o trabalho que na altura estava a ser feito na Guiné-Bissau pelo investigador Fernando Naves Sousa (entre 2008 e 2010 na Guiné-Bissau a investigar a exploração dos recursos naturais e a segurança alimentar), produtor da obra.
 
"Decidi focar-me em Pobreza e mostrar o que é tentar viver na base de um modelo tradicional rural e ao mesmo tempo ser completamente dependente de uma monocultura, o que não tem nada a ver com o modo de vida tradicional", contou agora Sara Correia.
 
E porque a pobreza é o mote, Sara lamentou a falta de apoios, quer para fazer o filme, em 2010, quer para, agora, cumprir a promessa de o mostrar em Pobreza. Nada que a sua própria boa vontade e algumas boas vontades em Bissau impeçam que uma dúzia de outras tabancas vejam a "Pobreza", incluindo a "grande tabanca" Bissau, já na segunda-feira.
 
Num país onde não há uma única sala de cinema, Sara Correia quer mostrar o filme em tantos locais quanto possível em duas semanas, mas também que através dele se faça uma reflexão sobre comércio justo e a segurança alimentar.
 
Porque pobreza não é apenas um problema endémico na Guiné-Bissau ou um estado de espírito. Porque Pobreza é uma aldeia. E um filme.
 
FP // VM
 


Sem comentários:

Mais lidas da semana