Parlamento da
Guiné-Bissau adia eleição de presidente da Comissão Nacional Eleições
15 de Março de
2013, 16:13
Bissau, 15 mar
(Lusa) - O Parlamento da Guiné-Bissau encerrou hoje mais uma sessão plenária
sem eleger um novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), como
estava prevista na agenda dos trabalhos iniciados a 15 de fevereiro último.
Após um mês de
debates, o Parlamento guineense encerrou os trabalhos para ser retomado em
sessão ordinária no mês de maio, mas o presidente do órgão, Ibraima Sory Djaló,
disse ser possível que haja uma sessão extraordinária nos próximos tempos a
pedido do Governo para discussão do Orçamento Geral do Estado de 2013.
Sory Djaló pediu
aos parlamentares para que estejam atentos à convocatória, "que pode
acontecer a qualquer momento".
Além da escolha do
novo presidente da CNE, foram remetidas para a próxima sessão parlamentar a lei
que fixa as remunerações que o Estado deve pagar, a título vitalício, aos
titulares de cargos públicos e a lei que determina o estatuto dos funcionários
do Parlamento.
Também ficou para a
próxima sessão a discussão sobre um pacto de Regime que irá balizar um novo
período de transição que o país terá que observar, uma vez que já não se vão
realizar eleições gerais (tal como estava previsto) em maio deste ano.
Entre os 18 pontos
agendados para a sessão hoje encerrada, destacam-se a aprovação de convenções e
acordos internacionais, entre os quais os que fixam os termos de cooperação com
a Guiné Equatorial e o Irão, e ainda as leis sobre minas, pedreiras e o
petróleo.
O presidente do
Parlamento considerou "positiva" a sessão que hoje terminou enquanto
o líder da bancada parlamentar do Partido da Renovação Social (PRS, segunda
maior força política), Certorio Biote, disse ter sido "proveitosa".
MB // VM
Hortas di Pobreza,
Guiné-Bissau, numa tabanca perto de si
15 de Março de
2013, 14:18
Por Fernando
Peixeiro, da agência Lusa
Bissau, 15 mar
(Lusa) - Pobreza é uma terra da Guiné-Bissau que não vem no mapa mas que este
sábado vai ter cinema. "Hortas di Pobreza", onde os
"atores" são os habitantes da aldeia e o principal produto do país, o
caju.
De Bissau para
Pobreza, na região de Quinará, sul, partiu hoje a "Cine-caravana",
para mostrar à população o documentário que há três anos lá foi rodado. Uma
promessa deixada na altura pela principal responsável do projeto.
"Prometi-lhes
que quando o filme estivesse feito lhes iria mostrar", contou à Lusa a
autora do "Hortas di Pobreza", Sara Correia, uma portuguesa
licenciada em Design de Comunicação que se especializou em audiovisuais e
antropologia artística e que se estreou no cinema com as "Hortas" da
melhor forma: primeiro prémio no Festival Itinerante de Cinema Lusófono
(FESTIN) em 2011.
O filme pretende
alertar para aquilo que Sara Correia considera ser "um perigo para a
população rural", a excessiva dependência de uma monocultura de
exportação, o caju. Para o completar, meteu-lhe dentro pescadores, exportadores
e importadores de caju, o que a obrigou a ir à Índia, país que compra a quase
totalidade de caju da Guiné-Bissau.
"É muito
perigoso ter um país inteiro a depender apenas de uma monocultura de
exportação. Através do filme conclui-se que ainda há possibilidade de viver em
alguns lugares da Guiné-Bissau com culturas mais diversificadas, não dependendo
apenas do caju e fazendo uma extração sustentável dos recursos", alertou
Sara Correia.
E o filme mostra
também, acrescentou, que as populações estão a abandonar as bolanhas (campos de
arroz), pela salinização da terra mas também por falta de mão-de-obra, devido à
"fuga" para as cidades.
"Se as pessoas
que migram para a cidade são capazes de voltar à tabanca (aldeia) dois meses
para a apanha do caju no entanto já não o fazem para apoiar nas bolanhas, que
exigem muito mais tempo e dão muito mais trabalho", disse Sara Correia.
É tudo isto que a
responsável quer mostrar em Pobreza e noutras tabancas, onde as pessoas vão
poder ver empresários indianos a dizer que os preços do caju podem baixar por
vontade de meia dúzia de pessoas.
Foi essa realidade,
a segurança alimentar ou falta dela, que fez Sara Correia "saltar" em
2010 de Amesterdão para a Pobreza e acompanhar em filme o trabalho que na altura
estava a ser feito na Guiné-Bissau pelo investigador Fernando Naves Sousa
(entre 2008 e 2010 na Guiné-Bissau a investigar a exploração dos recursos
naturais e a segurança alimentar), produtor da obra.
"Decidi
focar-me em Pobreza e mostrar o que é tentar viver na base de um modelo
tradicional rural e ao mesmo tempo ser completamente dependente de uma
monocultura, o que não tem nada a ver com o modo de vida tradicional",
contou agora Sara Correia.
E porque a pobreza
é o mote, Sara lamentou a falta de apoios, quer para fazer o filme, em 2010,
quer para, agora, cumprir a promessa de o mostrar em Pobreza. Nada que a sua
própria boa vontade e algumas boas vontades em Bissau impeçam que uma dúzia de
outras tabancas vejam a "Pobreza", incluindo a "grande tabanca"
Bissau, já na segunda-feira.
Num país onde não
há uma única sala de cinema, Sara Correia quer mostrar o filme em tantos locais
quanto possível em duas semanas, mas também que através dele se faça uma
reflexão sobre comércio justo e a segurança alimentar.
Porque pobreza não
é apenas um problema endémico na Guiné-Bissau ou um estado de espírito. Porque
Pobreza é uma aldeia. E um filme.
FP // VM
Sem comentários:
Enviar um comentário