domingo, 10 de março de 2013

Moçambique: O PROBLEMA É DO TOPO




Verdade (mz) - editorial

Algumas situações são bastante difíceis de entender, e outras, na verdade, são demonstrações cabais da falta de traquejo e de entendimento. É deprimente encontrar pessoas com um certo grau de escolaridade a exercerem certas funções nas instituições públicas, que não sabem que todos os cidadãos têm direito à informação e atendimento.

E o pior ainda é que não sabem que existe algo denominado Constituição da República, onde estão garantidos os deveres, os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos moçambicanos.

As diversas instituições que compõem o sector público são uma verdadeira lástima. Para além da morosidade insuportável no atendimento ao público, está vivamente patente um sistema letárgico institucionalizado tornando, de certo modo, as instituições num antro de inaptos mentais que se vangloriam da sua soberba. Por um lado, há um sistema de reclamações que não funciona de modo algum e que deixa o cidadão sem alternativa quando, porventura, se sente lesado ou mal atendido.

O acesso à informação nessas instituições por parte de um cidadão comum é um verdadeiro martírio, porque é-lhe negado inescrupulosamente. Trata-se de informações que servem para que o cidadão não saia por aí a fazer comentários ou a tratar de certos assuntos ligados àquela instituição de forma equivocada.

Tudo porque as instituições são compostas por uma multidão de papagaios, ditos funcionários públicos, mal-humorados que passam o tempo todo a cantar desarmonicamente que não estão autorizados a falar, e o mais caricato é que não sabem quem está autorizado e quem autoriza. São desculpas enfadonhas que, de uma maneira ou de outra, mancham a imagem de uma instituição que deveria servir condignamente todos cidadãos sem excepção.

Hoje em dia, fazer-se a uma unidade sanitária para se obter cuidados médicos ou qualquer outra instituição pública para se tratar de algum expediente é o mesmo que se tentar escalar o monte Binga de costas. Porque os funcionários públicos colocaram na cabeça que estão ali para fazer favores aos utentes.

Diga-se, em abono da verdade, o relaxamento dos funcionários deve-se à falta de verticalidade por parte dos utentes em apontar as coisas e as respectivas pessoas quando não fazem os seus trabalhos com o devido apuro, e também a ausência de um princípio deontológico capaz de despertar a consciência dos funcionários e que escancare nas suas caras que o funcionário não faz favor a ninguém, mas foi empregue para servir o público profissionalmente.

Contudo, para que tal vingasse seria necessário que os dirigentes deste país servissem, de facto, o público. Ou seja, que trabalhassem em prol dos moçambicanos. Porque, na verdade, o comportamento do funcionário público (sem generalizar) reflecte a forma como somos governados.

O dirigente faz um favor ao povo e serve-se deste para legitimar as suas fantasias mais recalcadas. O funcionário público, em última análise, é o rosto visível da podridão. O exemplo veio do topo e, para mudarmos o funcionário público, é bom que mudemos o topo.

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