João Lemos Esteves –
Expresso, opinião - ontem
1. Dia de pesadelo
para o Governo. Futuro negro para Portugal. Troika aponta o dedo ao Governo
pelo falhanço total das políticas. Eis algumas das frases que enchem as páginas
dos jornais deste fim de semana. Não é, pois, necessário ser especialmente
perspicaz para concluir (ou intuir) que hoje é o primeiro dia do fim de Passos
Coelho: o actual Primeiro-ministro (e, consequentemente, o Governo que lidera)
chegou ao fim da linha. É o seu fim: não há qualquer margem de retorno. O
Governo caiu de tal forma no fundo que já não vai conseguir regressar à tona.
Note-se que esta minha análise nada tem que ver com um fanatismo
anti-Passos-Coelho ou o meu desejo ávido (que, alguns, aqueles que não percebem
o significado de liberdade de pensamento e liberdade de expressão, repetem que
tenho) de tirar Passos Coelho do Governo de Portugal -está apenas relacionada
com a minha análise objectiva da realidade política portuguesa.
Pergunta-se, então,
quais as razões que sustentam a minha tese da inviabilidade da manutenção do
actual executivo em funções? Passo a enumera-las e a explica-las devidamente.
1.1. Em primeiro, Passos
Coelho optou por um rumo - que já, na altura, era discutível - e esse rumo
traduziu-se em defender acerrimamente o memorando de entendimento da troika.
Passos Coelho chegou mesmo a afirmar que desejava ir "além da
troika". Pois bem, todos os esforços do Governo forma, no sentido, de
aplicar as ordens da troika - ora, nem isso o Governo foi capaz. O Ministro
Vítor Gaspar falhou todas as previsões económicas. Todas! Ou seja, a única meta
que o Governo traçou, o único desígnio nacional que Passos Coelho apresentou
aos portugueses, não foi atingido. Por conseguinte, a governação Passos Coelho
vai ficar na História como um insucesso estrondoso! Um exemplo de incompetência
do nosso Governo! Ora, quando um Governo reduz a sua acção a um só objectivo e
falha redondamente esse objectivo, poderá tal Governo continuar em funções? Com
que credibilidade? Pior: o Governo falhou - e não admite que falhou....Continua
Vítor Gaspar a insistir que o Governo não muda de rumo, não quer mais dinheiro,
nem mais tempo (não obstante, o FMI ter dado mais tempo e com a imprensa
internacional - por exemplo, Financial Times - fala de mais tempo e mudança de
rumo do Governo...), contra as evidências! Isto já não é um erro político - já
é pura loucura política! O Governo Passos Coelho entrou numa fase lunática: já
não vive em Portugal, vive na lua! Noutro planeta que não é definitivamente o
planeta dos portugueses!
1.2. Em segundo
lugar, a base de apoio social do Governo reduz-se actualmente a Ulrich, um ou
outro banqueiro e mais meia dúzia de amigalhaços! Já nem Ângelo Correia, o
"padrinho" de Passos Coelho, está com o Governo! Até já a própria
troika - a maior aliada de Vítor Gaspar e Passos Coelho - se arroga no direito
de bater no Governo, culpando-o do insucesso das suas políticas! Os portugueses
andaram a ser esmagados fiscalmente, vamos atingir um número socialmente
insustentável de desempregos, as famílias sofrem para pagar as suas contas, é
já impossível ser feliz em Portugal! Passos Coelho quer fazer de nós,
portugueses, pobres e miseráveis - é este o momento de bater o pé! Porque a
solução que ele afirmava que iria trazer-nos a esperança e a confiança no
futuro tem produzido como único efeito o agravamento dos nossos problemas
económicos e sociais! Basta, caro Passos Coelho, basta! Os portugueses já não
aguentam: as manifestações, as greves, as formas de luta social vão passar a
ser ainda mais constantes, desgastando o Governo a um ritmo (quase) diário!
Sinceramente, acha que o Governo aguenta assim até 2015? Claro que não. E
Portugal - o interesse superior do nosso país! - não se compadece com Governo
híper-fragilizado, que está a prazo.
1.3. Em terceiro
lugar - mas não menos importante - convém apelar ao elemento humano. Passos
Coelho é humano, é uma pessoa com as suas angústias, hesitações, sofrimentos
pessoais. Ora, Passos Coelho deve assumir a sua dimensão humana e admitir que
já não tem forças nem motivação para liderar Portugal. E percebe-se: um homem
que andou a lutar por um único objectivo, coloca o seu futuro político
dependente desse objectivo, e depois vem a concluir-se que nem isso
conseguiu...É difícil encarar os portugueses nestas circunstâncias. Passos
Coelho deve passar à História política portuguesa nos próximos dias. E para um
dos seus capítulos mais negros.
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