segunda-feira, 18 de março de 2013

O NEOLIBERALISMO ESTÁ EM AGONIA




Tomás Vasques – Jornal i, opinião

A impreparação, a incompetência e o oportunismo político do grupo que tomou conta do PSD e do governo, mais cedo ou mais tarde, tinha de vir ao de cima, como o azeite

Já é oficial: o ministro das Finanças, o inefável Vítor Gaspar, anunciou que este governo, dirigido por Passos Coelho e pelo PSD, em menos de dois anos, meteu o país na ruína e empobreceu a maioria dos portugueses por muitas décadas. Os números deste desastre, para o qual, a tempo e horas, muitos alertaram, são conhecidos - o desemprego não pára de subir; o défice orçamental não se deixa controlar; a recessão e a dívida externa estão imparáveis. Pior: os portugueses vão sofrer por muitos anos os efeitos do “buraco escuro” para onde este governo atirou - e continuará a atirar - Portugal. E o mais grave é que o objectivo era esse: salários baixos, precariedade no trabalho, e serviços mínimos na protecção social, na saúde e na educação - o empobrecimento total. E tanto assim é que, perante este descalabro, o governo diz que está no “rumo certo” e, por sua vez, a troika concluiu, após mais esta “avaliação”, que a execução do programa de ajustamento “continua no bom caminho”.

Tudo o que está a acontecer resulta de uma mistura explosiva - uma espécie de tempestade perfeita. Um grupo de ultra-liberais mal preparados, teórica e tecnicamente, sem cultura política democrática, nem ligação às pessoas e às realidades económicas e sociais do país, tomou conta da direcção do PSD. Este grupo, com meia dúzia de ideias mal-amanhadas, colhidas em vagas leituras na diagonal, vertidas num desastroso projecto de revisão constitucional e atiçado pelo fanatismo contra o Estado social de meia centena de pessoas, agrupados em meia dúzia de blogues, partiu à aventura da conquista do poder. Beneficiando do desgaste do último governo e do seu primeiro-ministro, e sobretudo escondendo os seus propósitos ou mentindo deliberadamente durante a campanha eleitoral, ganharam as eleições. Sem programa de governo, nem uma ideia digna desse nome sobre o que se estava a passar na Europa e em Portugal, tomaram como seu o programa da troika, vertida em memorando, e entregaram de alma e coração o governo do país, sem o mínimo assomo de dignidade nacional e democrática, aos ditames da troika, subordinando-se à “visão alemã” da Europa, defendida pela senhora Merkel. A tudo isto se juntou o oportunismo político eleitoralista de Passos Coelho: ultrapassar largamente o “programa de ajustamento” (era o tempo do “custe o que custar”) com um conjunto de medidas, sobretudo ao nível do saque fiscal, que duplicou a austeridade exigida pelos nossos credores, patenteando uma despudorada insensibilidade social, na ilusão de que tais medidas começassem a produzir efeitos positivos em 2015, ano de novas eleições. Era isto que Passos Coelho pensava quando disse, no seu discurso, no parque aquático de Quarteira, no Verão do ano passado, que “já estamos a colher resultados das nossas medidas e é por essa razão que o próximo ano - 2013 - não será de recessão”.

A impreparação, a incompetência e o oportunismo político do grupo que tomou conta do PSD e do governo, mais cedo ou mais tarde, tinha de vir ao de cima, como o azeite. Hoje, perante os resultados que estão em cima da mesa (e suas consequências na vida da maioria dos portugueses), qualquer previsão feita pelo ministro das Finanças provoca uma gargalhada geral; qualquer declaração do primeiro-ministro sobre o futuro é patética. Este governo já não tem credibilidade, nem tem legitimidade política para se manter em funções. O Presidente da República não pode ignorar esta situação, sob pena de arrastar para o descrédito o cargo para o qual foi eleito. Estamos dependentes da “Europa” e da germanização imposta pela senhora Merkel, mas antes quebrar com dignidade, do que de cócoras a lamber botas.

Deste dois anos de governo saem dois ensinamentos positivos para o futuro dos portugueses: primeiro, precisamos de mais democracia e de mais participação dos cidadãos na vida política; segundo, em Portugal, o neo-liberalismo está em agonia e vai morrer às mãos de Passos Coelho e do PSD. Paz à sua alma.

Jurista, escreve à segunda-feira

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