Tomás Vasques –
Jornal i, opinião
A impreparação, a
incompetência e o oportunismo político do grupo que tomou conta do PSD e do
governo, mais cedo ou mais tarde, tinha de vir ao de cima, como o azeite
Já é oficial: o
ministro das Finanças, o inefável Vítor Gaspar, anunciou que este governo,
dirigido por Passos Coelho e pelo PSD, em menos de dois anos, meteu o país na
ruína e empobreceu a maioria dos portugueses por muitas décadas. Os números
deste desastre, para o qual, a tempo e horas, muitos alertaram, são conhecidos
- o desemprego não pára de subir; o défice orçamental não se deixa controlar; a
recessão e a dívida externa estão imparáveis. Pior: os portugueses vão sofrer
por muitos anos os efeitos do “buraco escuro” para onde este governo atirou - e
continuará a atirar - Portugal. E o mais grave é que o objectivo era esse:
salários baixos, precariedade no trabalho, e serviços mínimos na protecção
social, na saúde e na educação - o empobrecimento total. E tanto assim é que,
perante este descalabro, o governo diz que está no “rumo certo” e, por sua vez,
a troika concluiu, após mais esta “avaliação”, que a execução do programa de
ajustamento “continua no bom caminho”.
Tudo o que está a
acontecer resulta de uma mistura explosiva - uma espécie de tempestade
perfeita. Um grupo de ultra-liberais mal preparados, teórica e tecnicamente,
sem cultura política democrática, nem ligação às pessoas e às realidades
económicas e sociais do país, tomou conta da direcção do PSD. Este grupo, com
meia dúzia de ideias mal-amanhadas, colhidas em vagas leituras na diagonal,
vertidas num desastroso projecto de revisão constitucional e atiçado pelo
fanatismo contra o Estado social de meia centena de pessoas, agrupados em meia
dúzia de blogues, partiu à aventura da conquista do poder. Beneficiando do
desgaste do último governo e do seu primeiro-ministro, e sobretudo escondendo
os seus propósitos ou mentindo deliberadamente durante a campanha eleitoral,
ganharam as eleições. Sem programa de governo, nem uma ideia digna desse nome
sobre o que se estava a passar na Europa e em Portugal, tomaram como seu o
programa da troika, vertida em memorando, e entregaram de alma e coração o
governo do país, sem o mínimo assomo de dignidade nacional e democrática, aos
ditames da troika, subordinando-se à “visão alemã” da Europa, defendida pela
senhora Merkel. A tudo isto se juntou o oportunismo político eleitoralista de
Passos Coelho: ultrapassar largamente o “programa de ajustamento” (era o tempo do
“custe o que custar”) com um conjunto de medidas, sobretudo ao nível do saque
fiscal, que duplicou a austeridade exigida pelos nossos credores, patenteando
uma despudorada insensibilidade social, na ilusão de que tais medidas
começassem a produzir efeitos positivos em 2015, ano de novas eleições. Era
isto que Passos Coelho pensava quando disse, no seu discurso, no parque
aquático de Quarteira, no Verão do ano passado, que “já estamos a colher
resultados das nossas medidas e é por essa razão que o próximo ano - 2013 - não
será de recessão”.
A impreparação, a
incompetência e o oportunismo político do grupo que tomou conta do PSD e do
governo, mais cedo ou mais tarde, tinha de vir ao de cima, como o azeite. Hoje,
perante os resultados que estão em cima da mesa (e suas consequências na vida
da maioria dos portugueses), qualquer previsão feita pelo ministro das Finanças
provoca uma gargalhada geral; qualquer declaração do primeiro-ministro sobre o
futuro é patética. Este governo já não tem credibilidade, nem tem legitimidade
política para se manter em funções. O Presidente da República não pode ignorar
esta situação, sob pena de arrastar para o descrédito o cargo para o qual foi
eleito. Estamos dependentes da “Europa” e da germanização imposta pela senhora
Merkel, mas antes quebrar com dignidade, do que de cócoras a lamber botas.
Deste dois anos de
governo saem dois ensinamentos positivos para o futuro dos portugueses:
primeiro, precisamos de mais democracia e de mais participação dos cidadãos na
vida política; segundo, em Portugal, o neo-liberalismo está em agonia e vai
morrer às mãos de Passos Coelho e do PSD. Paz à sua alma.
Jurista, escreve à
segunda-feira
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