quinta-feira, 14 de março de 2013

Passos fala em “consequências sociais”, CDS em desespero. Austeridade mantém-se

 


Liliana Valente – Jornal i
 
Avaliação da troika já terminou. Passos diz que vai defender no Conselho Europeu o crescimento económico
 
A troika mostrou-se preocupada com a comunicação do governo e com a coesão social, e o executivo tentou emendar a mão e tentar falar mais para (e das) pessoas. Ontem, no debate de preparação do Conselho Europeu de hoje e de amanhã, o primeiro-ministro, apesar de focar o seu discurso nas questões económicas e financeiras, falou por três vezes na necessidade de apaziguar “as consequências sociais da crise” e o CDS lembrou que “o desespero” pode agravar um problema político. A austeridade, essa é para continuar, mesmo que haja uma extensão de prazos para o cumprimento do défice.
 
A manifestação nas ruas foi há cerca de 15 dias, mas as marcas da contestação social ficaram no discurso da maioria. É que, depois do aviso da troika para uma melhor comunicação, de acordo com o “Expresso”, o executivo deixa escapar algumas intervenções nesse sentido. Ontem, Passos Coelho falou três vezes nas “consequências sociais” da crise, e o CDS no “desespero”. Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, avisou que é necessário ter em atenção que o “desespero” social pode levar ao aparecimento de movimentos radicais que agravem um “problema político” e que, por isso, “é bom que esta Europa, e estou certo que também este governo, tenha em conta o problema que não é só económico e social, mas também político”.
 
Passos mostrou-se preocupado com a ideia: “Há, hoje em dia, uma corrente de opinião que justamente põe em causa a nossa resiliência democrática face à dimensão das consequências sociais da crise”, disse. Apesar disso, o caminho é o mesmo. Numa resposta à deputada do PEV Heloísa Apolónia, o primeiro-ministro garantiu que a negociação dos prazos com os parceiros é muito importante para mitigar os riscos, mas “não tem efeito directo na austeridade”.
 
O governo, através de Paulo Portas e de Vítor Gaspar, já tinha feito uma tentativa de mudar o discurso falando na necessidade de manter o “consenso político” e o “acordo social” no debate de urgência marcado pelo PS no início do mês, mas depois Passos saiu da rota na intervenção na semana passada. Ontem, apesar de ter sido um debate mais quente sobre questões mais económicas, frisou, nas respostas às bancadas da maioria, essa necessidade de responder às “consequências sociais” da crise.
 
Crescimento Hoje, o primeiro-ministro terá um papel mais reservado no Conselho Europeu, uma vez que este é dedicado ao Semestre Europeu, mas sobretudo para os países que não estão sujeitos a programas de ajustamento. E aos deputados garantiu que o que irá dizer mais não é do que pedir uma “resposta muito importante relativamente ao desemprego e às consequências sociais, modernizar a administração pública e promover o crescimento e a competitividade”, numa altura em que, em Portugal, o ministro das Finanças dá conta, numa conferência de imprensa marcada para sexta-feira de manhã, dos resultados da sétima avaliação da troika ao cumprimento do Memorando.
 
Sobre a avaliação da troika, Passos Coelho pouco disse, apenas que estava a ser concluída, que o essencial estava fechado. A confirmação do final chegou à tarde, à hora a que, na televisão, aparecia o fumo branco e era anunciado que tinha sido eleito o novo Papa. Desta vez, o governo enveredou pela estratégia de passar a ideia de que pressionou a troika para flexibilizar alguns pontos (daí a demora na conclusão da avaliação). No debate, Passos lembrou que a pressão foi feita, não só com os técnicos, no sentido de uma “necessidade de fazer uma flexibilização do nosso programa em termos que nos permitam realizar, tornar estáveis e duráveis os esforços de correcção dos desequilíbrios e a nossa aposta em termos estruturais para que a economia torne a crescer”.
 
Palavras que não agradaram ao líder socialista, que salientou o facto de o primeiro-ministro até falar agora em crescimento económico - “quem o via e quem o vê”, disse -, mas que isso de nada serve se continuar com a mesma política. E questionou: “Vai manter a sua opção de fazer um corte de quatro mil milhões de euros nas funções do Estado?” Do outro lado, não obteve resposta sobre o corte na despesa, apenas uma lista dos “resultados positivos” que o governo vai mostrar aos parceiros europeus - isto porque António José Seguro tinha questionado que resultados tinha o governo para mostrar, falando no desemprego, no défice e na dívida.
 

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