Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Tudo tem um tempo e
sabe-se que assim é desde que na Bíblia foi escrito o Eclesiastes. O tempo,
agora, é o de pedir mais tempo. Pode argumentar-se que o PS há muito o
dizia, e é verdade. Mas jamais saberemos qual seria a credibilidade de
agora pedirmos mais tempo, se já há muito o tivéssemos começado a pedir, em vez
de termos um governo tão ou mais troikista do que a troika.
Talvez este seja o
tempo de pedir mais tempo, como está agora Vítor Gaspar a fazer no Eurogrupo. E
talvez seja este o tempo de mudar de Governo, porque se na frente europeia é
importante alargar o prazo da dívida, na frente nacional é urgente que o
Governo seja credível aos olhos dos portugueses. E não é.
Como hoje escreve
Mário Soares no 'Público' - talvez no único parágrafo em que concordo com ele - deve
mudar-se o Governo antes que o Tribunal Constitucional decrete a
inconstitucionalidade de algumas normas orçamentais. Um Governo novo, com
legitimidade democrática plena, saído do Parlamento, eventualmente mantendo
alguns ministros, mas mudando o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o
há muito liquidado ministro Relvas, pode ainda trazer algo importante: a capacidade
de saber recuar em relação a algumas medidas; a perceção de que a mudança se faz
por continuidade e não por rotura; a travagem do espírito antidemocrático e
antipartidos que começa a campear; a compreensão de que este Governo não
encarnou o diabo e foi necessário ao país até se esgotar por erros e
contradições próprias.
Um novo Governo,
como escrevi já o ano passado na edição em papel deste jornal, ao contrário das
desastrosas experiências grega e italiana, deve ser um governo político e
não tecnocrático. Deve ter gente ligada a todos os partidos do arco da
governação e ter o apoio explícito de um Presidente que, bem ou mal, foi
eleito por voto secreto, direto e universal.
Servir o país é
saber sacrificar-se em determinados momentos. Não é querer impor razões
pessoais, ainda que nelas se acredite convictamente. É de um serviço claro e
explícito que o país necessita por parte do primeiro-ministro - que se
afaste e ceda o lugar a outro. Este tempo de crise não é o da normalidade
absoluta e é por isso que em cada partido, em cada dirigente e em cada eleitor
deve haver um cuidado extremo nas opções que faz.
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