segunda-feira, 4 de março de 2013

Portugal: O PAÍS AINDA VAI A TEMPO… MAS SEM ESTE GOVERNO



Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Tudo tem um tempo e sabe-se que assim é desde que na Bíblia foi escrito o Eclesiastes. O tempo, agora, é o de pedir mais tempo. Pode argumentar-se que o PS há muito o dizia, e é verdade. Mas jamais saberemos qual seria a credibilidade de agora pedirmos mais tempo, se já há muito o tivéssemos começado a pedir, em vez de termos um governo tão ou mais troikista do que a troika.

Talvez este seja o tempo de pedir mais tempo, como está agora Vítor Gaspar a fazer no Eurogrupo. E talvez seja este o tempo de mudar de Governo, porque se na frente europeia é importante alargar o prazo da dívida, na frente nacional é urgente que o Governo seja credível aos olhos dos portugueses. E não é.

Como hoje escreve Mário Soares no 'Público' - talvez no único parágrafo em que concordo com ele - deve mudar-se o Governo antes que o Tribunal Constitucional decrete a inconstitucionalidade de algumas normas orçamentais. Um Governo novo, com legitimidade democrática plena, saído do Parlamento, eventualmente mantendo alguns ministros, mas mudando o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o há muito liquidado ministro Relvas, pode ainda trazer algo importante: a capacidade de saber recuar em relação a algumas medidas; a perceção de que a mudança se faz por continuidade e não por rotura; a travagem do espírito antidemocrático e antipartidos que começa a campear; a compreensão de que este Governo não encarnou o diabo e foi necessário ao país até se esgotar por erros e contradições próprias.

Um novo Governo, como escrevi já o ano passado na edição em papel deste jornal, ao contrário das desastrosas experiências grega e italiana, deve ser um governo político e não tecnocrático. Deve ter gente ligada a todos os partidos do arco da governação e ter o apoio explícito de um Presidente que, bem ou mal, foi eleito por voto secreto, direto e universal.

Servir o país é saber sacrificar-se em determinados momentos. Não é querer impor razões pessoais, ainda que nelas se acredite convictamente. É de um serviço claro e explícito que o país necessita por parte do primeiro-ministro - que se afaste e ceda o lugar a outro. Este tempo de crise não é o da normalidade absoluta e é por isso que em cada partido, em cada dirigente e em cada eleitor deve haver um cuidado extremo nas opções que faz.

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