Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Mantém-se um estado
forte com fracos e fraco com fortes. A opacidade tornou-se um método
O respeito do
Estado pelo cidadão não é uma virtude de Portugal. Verdade se diga também que o
Estado é o verdadeiro motor de praticamente tudo o que se faz e é nele que se
penduram grupos económicos para fazerem dinheiro e negócios. Se não fosse o
Estado, alguns nem sequer existiam.
Nos últimos anos,
as desconsiderações pelos cidadãos têm-se multiplicado. Nasceram como cogumelos
novas polícias que não hesitam em recorrer à força contra os fracos, pois com
os fortes a coisa fia mais fino. A ASAE e a Autoridade Tributária são dois
exemplos paradigmáticos dos poderes de que são revestidas e que usam como
querem. Veja-se, por exemplo, que no caso da carne de cavalo não havia
aparentemente fiscalização preventiva com análise de ADN, mas nos pequenos
produtores e restaurantes não faltam expedições punitivas.
Num campo
diferente, verifique-se a fórmula de cálculo do IMI que fazem chegar às pessoas
depois de aberrantemente lhes pedirem documentos que os serviços deveriam ter.
Entre números e fórmulas, mais parece uma carta em chinês que a comunicação de
uma entidade europeia para cidadãos com direitos. Isto para não falar do caso
das facturas e dos seus delirantes e caricatos episódios colaterais, enquanto
os bancos nem as passam. Debitam em conta!
Os pensionistas,
esses, só retroactivamente foram informados dos montantes dos cortes que lhes
foram aplicados e se querem pormenores têm de ser eles a mexer-se para obter
dados completos.
São muitos os
exemplos em que ninguém se entende. Uns não percebem o que lhes fizeram, outros
não explicam. A opacidade tornou-se um método. E não vale a pena achar que é a
administração pública que é incompetente porque não é. Fica-se com a sensação
de que muito do que é feito tem precisamente por objectivo não esclarecer e até
omitir. São obviamente os cidadãos mais velhos e com menos capacidade de se
informarem que são surpreendidos por medidas que os penalizam e que não
entendem. É o conto do vigário ao nível estatal.
É legítimo pensar
que a decisão de proceder desse modo é politicamente intencional. Claro que,
indo à net, está tudo explicado para quem tiver o equipamento, o conhecimento,
o tempo e a paciência, mas não é isso que se espera de um sistema que
supostamente funciona para o povo e em seu nome - embora a produção legislativa
se torne diariamente mais críptica.
Como suplício para
os mais velhos há agora a barbaridade de os obrigar a fazer declarações de IRS
de que estavam dispensados se recebessem menos de 293 euros/mês. Depois
admiram-se que as ruas se encham também de reformados revoltados que respondem
ao chamamento de grupos anti-sistema.
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