Rafael Barbosa –
Jornal de Notícias
O Governo vai
cortar no Estado Social, quando deveria fazê-lo nas Parcerias Público Privadas
e nos juros da dívida. Uma sondagem para o JN revela um divórcio claro entre a
austeridade com que o Governo ameaça e os cortes que os portugueses defendem.
As manifestações de
sábado passado deram um sinal claro de falta de sintonia entre quem governa e
quem é governado. Mas outra prova desse divórcio são os dados recolhidos por
uma sondagem da Universidade Católica para o JN.
Perante o anúncio
de cortes de quatro mil milhões de euros nos gastos anuais do Estado, os
portugueses têm respostas diferentes, quando confrontados com as áreas onde
acreditam que o Governo vai cortar e as áreas onde acham que deveria cortar.
Saúde (61%),
Educação (54%) e Segurança Social (52%) serão os serviços mais afetados,
apontam. Sendo que a energia do Governo deveria estar a ser direcionada para
obter poupança nas Parcerias Público Privadas (57%) e nos juros da dívida
(36%).
Como explica a
analista Cristina Azevedo, os portugueses já perceberam que os interesses dos
parceiros privados nas PPP e os interesses da Troika serão "ferozmente
defendidos" (ver opinião).
O único ponto de
contacto entre os portugueses e o Governo está nos cortes na área da Defesa:
33% defende que se façam, 34% pensa que se fará. Um dado confirmado quando se
faz uma pergunta mais concreta sobre o número de militares no ativo: 43% dos
portugueses defende uma diminuição, contra 49% que quer a sua manutenção ou até
o seu aumento.
Quando se pede um
julgamento a outro tipo de medidas concretas, a rejeição é demolidora: 85% dos
cidadãos não aceita a criação de propinas no Ensino Secundário (que Pedro
Passos Coelho admitiu em entrevista televisiva e o ministro da Educação Nuno
Crato desmentiu no dia seguinte); 92% não aceita o aumento da propina máxima no
Ensino Superior (60% diz até que tem de baixar); 87% não admite a diminuição do
número de polícias, que um recente relatório elaborado pelo FMI a pedido do
Governo considerava excessivo (38% dos inquiridos, ao contrário, pede mais
polícias); e finalmente 93% dos portugueses não admite que idade da reforma
ultrapasse os 65 anos (53% até defende que deveria ser aos 60 ou aos 55 anos de
idade).
Défice já não é
prioridade
Para lá dos cortes
nas despesas do Estado, a sondagem procurou perceber quais as prioridades para
um Governo em tempo de crise económica. E também aqui se nota o divórcio entre
a prática e o desejo dos cidadãos.
O desemprego está
no topo (88%), como já acontecia há três anos. Preocupação condizente com o
facto de ser "o maior drama da sociedade", argumenta Carvalho da
Silva (ver opinião).
Longe vão os tempos
em que os portugueses consideravam a redução do défice uma das prioridades:
passou de 44% para 25% de defensores. Para Passos Coelho e Vítor Gaspar, o
défice ainda será uma obsessão, para os portugueses já não é.
O caminho inverso
fez a prioridade à redução de impostos, que há três anos era apontada por
apenas 33% dos cidadãos e agora passou a ser uma prioridade para 48%. Uma
consequência do "saque fiscal" que se instalou no arranque deste ano
2013.
Ficha técnica
Esta sondagem foi
realizada pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade
Católica Portuguesa (CESOP) para a Antena 1, a RTP, o Jornal de Notícias e o
Diário de Notícias nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro de 2013. O universo alvo é
composto pelos indivíduos com 18 ou mais anos recenseados eleitoralmente e
residentes em Portugal Continental. Foram selecionadas aleatoriamente dezanove
freguesias do país, tendo em conta a distribuição da população recenseada
eleitoralmente por regiões NUT II e por freguesias com mais e menos de 3200
recenseados. A seleção aleatória das freguesias foi sistematicamente repetida
até os resultados eleitorais das últimas eleições legislativas nesse conjunto
de freguesias, ponderado o número de inquéritos a realizar em cada uma,
estivessem a menos de 1% do resultados nacionais dos cinco maiores partidos. Os
domicílios em cada freguesia foram selecionados por caminho aleatório e foi
inquirido em cada domicílio o mais recente aniversariante recenseado
eleitoralmente na freguesia. Foram obtidos 1141 inquéritos válidos, sendo que
57% dos inquiridos eram do sexo feminino, 24% da região Norte, 22% do Centro,
39% de Lisboa, 7% do Alentejo e 8% do Algarve. Todos os resultados obtidos
foram depois ponderados de acordo com a distribuição de eleitores residentes no
Continente por sexo, escalões etários, região e habitat na base dos dados do
recenseamento eleitoral e do Censos 2011. A taxa de resposta foi de 41,1%*. A
margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1141 inquiridos é de
2,9%, com um nível de confiança de 95%.
* A taxa de
resposta é estimada dividindo o número de inquéritos realizados pela soma das seguintes
situações: inquéritos realizados; inquéritos incompletos; não contactos (casos
em que é confirmada a existência de um inquirido elegível mas com o qual não
foi possível realizar a entrevista); e recusas.
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