segunda-feira, 15 de abril de 2013

Miguel Relvas: o herói nacional do PSD de Passos Coelho (a vergonha tem limites?




João Lemos Esteves – Expresso, opinião

1. Na Política, é preciso competência, capacidade de trabalho, honestidade. São características de personalidade que reflectem valores cruciais para o desempenho de funções públicas. Mas, antes de tudo isso, é preciso ter uma coisa que vai rareando no mundo e no tempo em que vivemos: vergonha. A vergonha que faltou aos conselheiros nacionais do PSD (com a honrosa e dignificante ressalva para Virgínia Estorninho) que aprovaram uma declaração de congratulação pelo trabalho realizado por Miguel Relvas. A ideia deve ter partido certamente da mesma cabeça brilhante a quem pertence a autoria daquela célebre frase de Miguel Relvas: " a história julgará o meu trabalho". Meu caro Miguel Relvas, não é preciso esperar pela história: os portugueses já fizeram o seu julgamento - o seu trabalho foi péssimo e nada dignificante para a democracia portuguesa. Todos já percebemos isso. Todos, excepto os conselheiros nacionais do PSD.

2. Depois admiram-se que os portugueses tenham uma opinião claramente desfavorável em relação aos políticos e à Política. E uma opinião devastadora sobre os partidos políticos. Nunca, na história democrática portuguesa, um partido política tivera essa ousadia, essa desfaçatez, essa falta gritante de vergonha que é aprovar uma declaração de louvor a um Ministro que cessou funções. O PSD abriu uma excepção ao Ministro que desbaratou, que destruiu grande parte do capital de credibilidade, de seriedade, de idoneidade para liderar o país deste Governo. O ter aguentado Miguel Relvas vai custar muito, muito, muito caro a Passos Coelho - e ao PSD.

2.1. Como perceber este louvor? Racionalmente, não dá para perceber: é um fenómeno imperceptível. Mas, entrando nas cabecinhas dos conselheiros nacionais do PSD, a única explicação admissível é que, embora tenham (muitos deles) gritado insistentemente pela demissão de Miguel Relvas, muitos do aparelho sentem-se com medo da influência e do poder de Miguel Relvas. Daí que tenham ficado satisfeitos com a demissão de Miguel Relvas - mas para ficarem bem na fotografia, para agradarem a Miguel Relvas, agora votaram a favor de uma declaração de louvor. Isto é triste e é humilhante para os envolvidos: este PSD parece estar refém de Miguel Relvas. É um partido com medo da influência de uma só pessoa - Miguel Relvas. Que diabo: o PSD está muito mal - para chegar ao ponto de o partido ter medo de um indivíduo como Miguel Relvas é porque Passos Coelho fez mesmo muito, muito mal ao PSD. O PSD não é, nunca foi, e terá de deixar de ser rapidamente, assim.

2.2. E os portugueses perguntam, legitimamente: se Passos Coelho, no PSD; está refém de Miguel Relvas, tendo a sua demissão sido uma fachada para enganar os portugueses (já percebemos, pois Miguel Relvas vai estarbem presente no Governo e no partido), de quem estará refém Passos Coelho no governo? Pessoas próximas de Passos Coelho, dizem-me que ele nada tem que ver com a figura que adoptou enquanto Primeiro-Ministro. Se assim é, o que se passa com Passos Coelho? Era bom saber a quem é que ele, por outras vias, também passa "declarações de louvor". Além disso, aquela inspecção do ministro Nuno Crato soa a falso: como é que é possível um ministro do Governo PSD criticar publicamente (e censurar) Miguel Relvas e o mesmo PSD aprovar uma declaração de louvor. O PSD sai manchado de todo este processo - os conselheiros que aprovaram tal declaração de louvor deviam olhar-se ao espelho todos os dias e reflectirem muito bem sobre o que fizeram.

3. Uma nota final para dizer que isto nada tem a ver com o PSD de milhares de militantes, nada tem a ver com o meu PSD, com o PSD que sempre defendi como a melhor solução para o Governo de Portugal, com o PSD de Francisco Sá Carneiro e Marcelo Rebelo de Sousa que sempre colocou um interesse à frente do todos: o interesse de Portugal. O PSD precisa de ser resgatado de Passos Coelho e dos seus amigalhaços.

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