João Lemos Esteves –
Expresso, opinião
1. Na Política, é
preciso competência, capacidade de trabalho, honestidade. São características
de personalidade que reflectem valores cruciais para o desempenho de funções
públicas. Mas, antes de tudo isso, é preciso ter uma coisa que vai rareando no
mundo e no tempo em que vivemos: vergonha. A vergonha que faltou aos
conselheiros nacionais do PSD (com a honrosa e dignificante ressalva para
Virgínia Estorninho) que aprovaram uma declaração de congratulação pelo
trabalho realizado por Miguel Relvas. A ideia deve ter partido certamente da
mesma cabeça brilhante a quem pertence a autoria daquela célebre frase de
Miguel Relvas: " a história julgará o meu trabalho". Meu caro Miguel
Relvas, não é preciso esperar pela história: os portugueses já fizeram o seu
julgamento - o seu trabalho foi péssimo e nada dignificante para a
democracia portuguesa. Todos já percebemos isso. Todos, excepto os conselheiros
nacionais do PSD.
2. Depois
admiram-se que os portugueses tenham uma opinião claramente desfavorável
em relação aos políticos e à Política. E uma opinião devastadora sobre os
partidos políticos. Nunca, na história democrática portuguesa, um partido
política tivera essa ousadia, essa desfaçatez, essa falta gritante de vergonha
que é aprovar uma declaração de louvor a um Ministro que cessou funções. O PSD
abriu uma excepção ao Ministro que desbaratou, que destruiu grande parte do
capital de credibilidade, de seriedade, de idoneidade para liderar o país deste
Governo. O ter aguentado Miguel Relvas vai custar muito, muito, muito caro a
Passos Coelho - e ao PSD.
2.1. Como perceber
este louvor? Racionalmente, não dá para perceber: é um fenómeno imperceptível.
Mas, entrando nas cabecinhas dos conselheiros nacionais do PSD, a única
explicação admissível é que, embora tenham (muitos deles) gritado
insistentemente pela demissão de Miguel Relvas, muitos do aparelho sentem-se
com medo da influência e do poder de Miguel Relvas. Daí que tenham ficado
satisfeitos com a demissão de Miguel Relvas - mas para ficarem bem na
fotografia, para agradarem a Miguel Relvas, agora votaram a favor de uma
declaração de louvor. Isto é triste e é humilhante para os envolvidos: este PSD
parece estar refém de Miguel Relvas. É um partido com medo da influência de uma
só pessoa - Miguel Relvas. Que diabo: o PSD está muito mal - para chegar ao
ponto de o partido ter medo de um indivíduo como Miguel Relvas é porque Passos
Coelho fez mesmo muito, muito mal ao PSD. O PSD não é, nunca foi, e terá de
deixar de ser rapidamente, assim.
2.2. E os
portugueses perguntam, legitimamente: se Passos Coelho, no PSD; está refém de
Miguel Relvas, tendo a sua demissão sido uma fachada para enganar os
portugueses (já percebemos, pois Miguel Relvas vai estarbem presente no Governo
e no partido), de quem estará refém Passos Coelho no governo? Pessoas próximas
de Passos Coelho, dizem-me que ele nada tem que ver com a figura que adoptou
enquanto Primeiro-Ministro. Se assim é, o que se passa com Passos Coelho? Era
bom saber a quem é que ele, por outras vias, também passa "declarações de
louvor". Além disso, aquela inspecção do ministro Nuno Crato soa a falso:
como é que é possível um ministro do Governo PSD criticar publicamente (e
censurar) Miguel Relvas e o mesmo PSD aprovar uma declaração de louvor. O
PSD sai manchado de todo este processo - os conselheiros que aprovaram tal
declaração de louvor deviam olhar-se ao espelho todos os dias e reflectirem
muito bem sobre o que fizeram.
3. Uma nota final
para dizer que isto nada tem a ver com o PSD de milhares de militantes, nada
tem a ver com o meu PSD, com o PSD que sempre defendi como a melhor
solução para o Governo de Portugal, com o PSD de Francisco Sá Carneiro e
Marcelo Rebelo de Sousa que sempre colocou um interesse à frente do todos: o
interesse de Portugal. O PSD precisa de ser resgatado de Passos Coelho e dos
seus amigalhaços.
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