Liliana Coelho -
Expresso
Trigésimo homem
mais rico do mundo critica a gestão alemã da crise das dívidas soberanas e diz
que é a altura do país decidir se quer ou não sair do euro
O multimilionário e investidor George Soros, numa entrevista publicada hoje
pelo jornal "El País", tece duras críticas ao papel da Alemanha na
gestão das crises europeias e defende a necessidade de se recuperar o espírito
de cooperação e solidariedade entre os países-membros da União.
"A Alemanha
deve decidir se quer refazer a Europa da forma em que originalmente estava
destinada a ser, que pressupõe aceitar as responsabilidades necessárias para
avançar nessa direção, ou deve considerar sair do euro e deixar o resto dos
países que acreditam nos eurobonds e podem combater a crise",
diz George Soros ao "El País".
Segundo o
investidor, que está na 30ª posição do ranking dos bilionários da
revista "Forbes", só é possível parar a espiral recessiva na União
Europeia alterando as políticas.
"A política
atual leva a uma dinâmica que consiste em sofrer uma crise atrás da outra,
porque só quando o quadro se torna muito feio os países credores
liderados pela Alemanha extendem apoio aos devedores", acrescenta
Soros, sublinhando que essa política não funciona porque peca por ser demasiado
tardia.
Saída não
significaria fim do euro
Questionado sobre
se a saída da Alemanha da zona euro significaria o fim da moeda única, George
Soros diz claramente que não, apontando para o papel importante do Banco
Central Europeu. Na visão do investidor, os países devedores teriam
necessariamente de seguir uma política comum para manter o euro, caso contrário
pagariam um "preço terrível."
George Soros diz
também acreditar que se a Alemanha saísse do euro, os países devedores de
transformariam em economias competitivas e as suas dívidas diminuiriam
fortemente face à desvalorização da moeda única. O principal prejudicado seria
o próprio país, defende.
"O preço do
ajuste recairia sobre a Alemanha, que teria que lidar com dificuldades, porque
de repente os seus mercados seriam inundados por importações do resto da
Europa", explica Soros.
Alemanha deve
aceitar eurobonds
O investidor
húngaro-americano volta ainda a defender a necessidade de converter a dívida
existente em eurobonds para se sair da crise, frisando que cabe à
Alemanha mudar de direção e aceitar os eurobonds o mais breve
possível, a fim de evitar que a situação se deteriore ainda mais.
Neste sentido,
George Soros defende a necessidade de se recuperar o espírito de
"cooperação" na União Europeia, entre países credores e devedores,
salvaguardando o futuro.
"A crise do
euro transformou a União Europeia numa associação voluntária entre Estados
iguais numa relação entre credor e devedor. E em situação de crise, os credores
ditam o fim da relação, que leva a que os devedores fiquem sempre numa pior
situação. E isso condena a União Europeia a um futuro muito sombrio", remata.
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