Jornal i, editorial
Existe em Portugal
uma quinta coluna: o seu líder chama-se Vítor Gaspar
A decisão de
Antonis Samaras, primeiro-ministro grego, de encomendar um relatório oficial
sobre as dívidas que a Alemanha nunca pagou à Grécia em reparações da Segunda
Guerra Mundial, caiu como uma bomba. Samaras fez uma coisa muito simples:
recordou a História para os devidos efeitos e vai apelar aos tribunais
internacionais - uma decisão inédita numa Europa que, como escreveu Tony Judt,
adoptou como política comum o “esquecimento” que, em boa parte, era a única
forma de continuar a viver depois de Auschwitz. Para a institucionalização
desse “esquecimento” criaram-se os embriões da União Europeia, muito pouco
tempo depois do fim da guerra - a comunidade do carvão e do aço e o resto que
se lhe seguiu.
Menos de 70 anos
depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa voltou ao estado de guerra -
produzida através de uma nova arma que foi expressamente criada para coroar o
sucesso do “esquecimento” (os líderes europeus aceitaram, desde logo,
subordinar-se a um banco, o BCE, feito à imagem e semelhança do Bundesbank, o
banco central alemão e de uma moeda muito próxima do marco alemão).
Este estado de
guerra está a dizimar as populações do Sul - a taxa de desemprego em Portugal é
histórica e na Grécia ainda vai chegar aos 30% - e essa guerra está a ser
vencida pelo Norte, com a cumplicidade de uma “quinta coluna” robusta em países
como Portugal. Aqui, Vítor Gaspar é o líder dessa quinta coluna incapaz de
colocar os interesses nacionais - não implodir o país através do aumento do
desemprego, por exemplo - à frente dos interesses dominantes na troika e no
Norte. Essa quinta coluna não só partilha a teologia da austeridade com mais
fanatismo do que os seus Papas como tem uma ideologia de classe evidente -
enquanto o accionista Estado se abstém na atribuição dos prémios milionários
aos gestores da EDP, prepara-se para cortar nos mais fracos, os doentes e os
de-sempregados.
Há uma destruição
de Portugal em curso - provocada por um governo obediente, venerador e obrigado
a políticas europeias devastadoras, mas dificilmente reversíveis. Acreditar
numa mudança radical na Europa - onde Hollande se passeia a fazer figuras
tristes - já começa a ser equivalente a acreditar nos amanhãs que cantam. A
crise do euro é hoje mais profunda do que era há dois anos e não existem (os eleitorados
respectivos não as aceitam) armas federais para lhe pôr cobro. Aceitar ficar no
euro nestas condições, começa a ser um atentado de lesa-pátria.
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