Verdade (mz) -
editorial
Somos incapazes de
fiscalizar os nossos recursos naturais e de proteger, devidamente, as nossas
fronteiras. O saque aos nossos recursos e fauna bravia não nos deixa mentir. No
entanto, a Força de Intervenção Rápida anda fortemente armada o que é, no mínimo,
estranho para um país em paz. Ou seja, vivemos amordaçados por um Governo que,
pelos gastos em material bélico, está voltado para a repressão aos seus
cidadãos e não para proteger as suas/nossas fronteiras. O que prova, sem
grandes dificuldades, que o Executivo teme os cidadãos que dirige.
Importa, portanto,
questionar a raiz do medo. O que leva um Governo eleito com maioria a agir de
tal forma? Qual é a necessidade de armar até aos dentes a PRM, sobretudo quando
a retórica governativa fala de um povo maravilhoso e trabalhador? Afinal a
legitimidade da Frelimo não assenta na democracia das urnas?
É provável que sim.
Contudo, os resultados das eleições dizem mais da qualidade do povo que somos
do que da competência governativa da Frelimo. Descontando, também, o facto de o
grosso dos moçambicanos não exercer tal dever importa salientar que, em grande
parte do país, os cidadãos desconhecem a existência de qualquer direito.
Nem é preciso andar
muito pelo país para deparar com tal realidade. Grande parte dos moçambicanos
que reside nas áreas onde a informação e a educação ainda não chegaram acredita
que um posto de saúde é um favor.
Essas pessoas não
falam da distribuição de riqueza porque a desconhecem e nem pensam que têm
direito à Educação. Portanto, quando sentem os açoites da vida madrasta não é
para o Governo que olham, mas para os seus antepassados. A morte, a doença e as
calamidades naturais, nesses espaços, não são explicados pela ausência de
políticas públicas, mas pela zanga de um antepassado qualquer a quem não se deu
a devida atenção na época da colheita. Essas pessoas que realizam o seu desejo
de consumo no período das campanhas eleitorais não representam, de forma
alguma, um perigo para a Frelimo. Exigem camisetas, capulanas e bonés porque
precisam de roupa para esconder o corpo. Portanto, o problema que enfrentam,
aos seus olhos, não é da escolha de liderança, mas da satisfação de
necessidades imediatas. Questionar ainda não é uma prioridade.
Não é com esses que
o Governo se preocupa quando apetrecha a FIR de material de guerra. O inimigo
da Frelimo reside nos grandes meios urbanos. Onde a contestação é maior e a
informação circula sem que ela possa controlar. É, portanto, para o meio urbano
que a FIR é treinada e armada. Aliás, os resultados eleitorais do MDM, na
cidade de cimento, revelam a razão do medo. O meio urbano já se libertou das
amarras da história libertária e da gratidão que justifica tudo.
É de nós, portanto,
que a Frelimo tem medo.
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