Martinho Júnior,
Luanda
À medida que a
lógica capitalista pervertida pelos detentores de poder e do capital na União
Europeia vai colocando a “periferia” na qual Portugal se inscreve numa situação
de completa dependência e neo colonialismo, mais a confusão se instala na vida
política portuguesa, onde pontificam os mesmos fazedores de opinião conotados
ao mesmo círculo social democrata que é um dos grandes actores e responsáveis
pela deriva.
Foi esse círculo
social democrata que colocou Portugal de forma menos consistente e avisada na
Europa, que motivou o povo português a tal “lavando” as suas próprias
tendências e acções e, em função da história, é esse mesmo círculo que está
apostado em esconder suas responsabilidades na aventura, apesar de estar agora
confrontado, como há décadas não acontecia, com os ideais do 25 de Abril!
Nos últimos dias a
opinião pública portuguesa está a ser atraída às mesmas ramagens de sempre, as
ramagens que “lavam a imagem” da social democracia, uma social democracia que a
todo o custo evita discutir o que é essencial a Portugal: o que provocou a
situação neo colonial em que o país hoje se encontra!…
…Daí perder-se
tanto tempo e “queimarem-se tantas pestanas” com as ramagens do presente,
discutindo-se exaustivamente o sexo dos anjos para se fazer esquecer a
necessidade de se avaliarem os problemas em função das suas profundas razões
históricas e causais, para se fazer esquecer que a social democracia está a
levar à promoção de fantoches incapazes de conduzir Portugal a sair do beco que
procuraram e do qual não pretendem sair!
Um homem do 25 de
Abril, Pedro Pezarat Correia, General do Exército na Reforma e Professor
Universitário, reconhece agora precisamente o dilema a que foi conduzido
Portugal:
“Há um aspecto que
não posso deixar de registar.
Hoje, quando a
União Europeia navega em águas agitadas sem rumo perceptível e em que os
chamados países periféricos sofrem as consequências de decisões que parecem
tudo menos inocentes, é oportuno recordara voz lúcida de Álvaro Cunhal que na
altura muitos acusaram de velho do Restelo.
Quando os
responsáveis políticos embandeiravam em arco com a adesão à Comunidade
Económica Europeia e a entrada no clube dos ricos, quando a maioria do povo
português embarcava na euforia da festa das remessas dos fundos estruturais e
se empanturrava em betão a troco do abandono da agricultura, da extinção da
frota pesqueira, do esvaziamento da marinha mercante, do encerramento de
indústrias de base, Álvaro Cunhal alertava e repetia: os portugueses irão pagar
isto.
Era ouvido com
cepticismo.
Não me excluo, a
palavra de Álvaro Cunhal levava-me a reflectir, mas deixava-me dúvidas.
Álvaro Cunhal tinha razão.
Os portugueses
estão a pagar isso”.
Pior que isso é que o “exemplo português” está a servir de inspiração a outras
opções pelo “mercado”, onde muitos teimam em não compreender que o capitalismo
neo liberal é o caminho que irá directamente favorecer as opções próprias do
neo colonialismo, que avassala África como nunca, um neo colonialismo moldado à
conformidade com os velhos padrões da “FrançAfrique”!
Em África
expande-se em direcção ao sul o “arco de crise” com todas as suas componentes
de perturbação que conduzem às situações propícias a mais e mais intervenções
francesas, a potência colonial que nunca pôs fim ao seu domínio.
Nessa senda,
ideologias conservadoras e ultra conservadoras vão ganhando terreno na super
estrutura dos frágeis estados, socorrendo-se da contradição entre religiões e
dentro do quadro dessas religiões, em especial a islâmica, propícia ao
radicalismo salafita…
Reaprender com o
movimento de libertação e em função dele está em aberto, em aberto está a
trilha da lógica com sentido de vida, mas também em África se vai ficando pelas
ramagens, esquecendo-se a necessidade de se avaliarem os problemas em função
das suas profundas razões históricas e causais!
A persistência da
social democracia em África, ao se aplicarem os mesmos erros de apreciação como
em Portugal, como nos países do sul da Europa, trará também, irremediavelmente,
profundas clivagens em muitos dos países, a favor dos desequilíbrios sociais,
da injustiça e do subdesenvolvimento, enquanto se instalam regimes que fogem
até à “democracia representativa” sob o incentivo dos habituais “fazedores de
reis”… provavelmente em muitos deles nunca se esteve tão longe do exercício de
soberania como agora!
Em África a
tendência persiste: cada vez há mais fantoches que assumem o poder, mais saque
das riquezas naturais e mais radicais rebeldes que, de acordo com o AFRICOM e a
“FrançAfrique”, é imperioso caçar!
Ilustração: Alusão à “FrançAfrique”.
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