Líder da CGTP
compara a atuação do ministro das Finanças à que se verificou no tempo de
Salazar
Expresso - Lusa
A "Marcha
contra o Empobrecimento" da CGTP e União dos Sindicatos de Aveiro reuniu
hoje em Santa Maria da Feira cerca de 400 opositores ao Governo, em particular
às medidas de Vítor Gaspar, que Arménio Carlos considera agora "um ditador
do século XXI".
Grande parte dos
manifestantes dispersou a meio da iniciativa devido à chuva, mas, no final, o
líder da CGTP dava como cumprido o objetivo da caminhada de protesto contra a
política do Governo e do referido ministro das Finanças.
"Estamos aqui
para manifestar a nossa profunda oposição àquilo que foi mais um anúncio
desastrado da política do Governo e que leva a que o ministro das Finanças se
torne num ditador do século XXI", declarou Arménio Carlos depois do
percurso entre a antiga fábrica de calçado Rohde e a Câmara Municipal da Feira.
"Obssesão do
ataque ao Estado social é inadmissível"
"Esta situação
é idêntica à que se verificou no tempo da Ditadura [do Estado Novo], em que o
ministro das Finanças decidia sobre tudo e estava acima de tudo", defende
o líder da CGTP. "Isso é lamentável e não é adequado ao funcionamento da
democracia, porque é uma tentativa de paragem do funcionamento da Administração
Pública.
Para Arménio
Carlos, isso põe em causa serviços fundamentais para as condições de vida da
população e tem consequências práticas irracionais. "Ninguém pode fazer
nada em nenhum serviço público que não passe pela autorização do ministro das
Finanças e isso é de uma insanidade mental como nunca assistimos nos últimos
tempos", afirma.
"Esta obsessão
do ataque ao Estado Social (...) é inadmissível", continua o dirigente da
CGTP, que refere como exemplo prático o caso dos tribunais que, "se
porventura tiverem o azar de o material de gravação avariar, não podem fazer
julgamentos enquanto não tiverem autorização do senhor ministro para repararem
o material".
Contrastes
Quanto à situação
em concreto no distrito que hoje recebeu a "Marcha contra o
Empobrecimento", a União dos Sindicatos de Aveiro traça o retrato de uma
situação que é de contrastes.
Por um lado, como
refere o coordenador dessa estrutura, "há um conjunto de empresas que
foram para a insolvência" e cujos processos se arrastam em tribunal, pelo
que os trabalhadores envolvidos "ainda não viram pagos os salários nem
atraso nem as indemnizações.
Adelino Nunes
garante que, no mesmo contexto, "o desemprego está muito elevado" e,
embora as estruturas oficiais registem atualmente 45.000 desempregados em
Aveiro, o dirigente sindical garante que o número real se aproximará mais dos
100.000. "E ainda há a agravante de que, desses 45.000 desempregados, só
um quarto recebe apoio social", acrescenta o dirigente sindical.
Quanto à outra
faceta do distrito, é Arménio Carlos a descrevê-la: "Tem havido aqui algum
investimento e acréscimo de valor em algumas empresas, nomeadamente do calçado,
dos têxteis e do vestuário, e isso não tem sido acompanhado por uma mais justa
distribuição de riqueza".
Acusando a
associação que representa a indústria do calçado de "estar neste momento a
bloquear a negociação da contratação coletiva e a impedir o aumento dos
salários", o líder da CGTP considera que "isso é profundamente
injusto de desumano".
Os participantes na
caminhada de hoje aprovaram no final da iniciativa uma resolução de que
resultam cinco grandes propostas: o aumento do Salário Mínimo Nacional, a
revogação das medidas que facilitam os despedimentos e reduzem as
indemnizações, a rejeição do acordo com a troica e a renegociação da dívida, a
defesa das funções sociais do Estado e a associação das comemorações do 25 de
Abril e 1 de maio a "grandiosas jornadas de luta contra a política de
Direita e pela demissão do Governo".
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