Eduardo Oliveira
Silva – Jornai i, opinião
Em 7, 8 ou 9 de
Maio, consoante os países aliados e vencedores, assinala-se o dia da rendição
da Alemanha que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, data que passa
lamentavelmente entre nós sem qualquer evocação.
Foi portanto por estes dias que aconteceu o fim formal da guerra mais trágica e
mortífera de todas as guerras. Importa também lembrar, neste ano de 2013, que
há cem anos a Europa vivia as convulsões que haveriam de levar à Grande Guerra,
entre 1914 e 1918, na qual Portugal participou tardiamente.
Em ambos os casos o país na génese dos conflitos foi o mesmo. Houve muitas
causas e ainda mais explicações para tudo o que aconteceu. Há culpas de todos
os protagonistas, mas a responsabilidade principal cabe à Alemanha, considerada
num sentido cultural, pois formalmente até as fronteiras eram diferentes.
Por mais que se pretenda usar de tolerância não se deve apagar o que aconteceu,
sobretudo no segundo grande conflito, com os horrores dos campos de
concentração e do Holocausto. Uma coisa é procurar perdoar, outra bem diferente
é esquecer.
Hoje é outra vez a Alemanha, viçosa e já reunificada, que procura a hegemonia,
agora sob a forma económica e financeira, recuperando por aí o que perdeu pelas
armas.
Reconstruída com ajuda dos aliados e dos neutrais, beneficiando de perdões de
dívida, evitando até saldar contas de guerra, a Alemanha tem dentro de si quem
não aprenda nem se emende e até olhe com nostalgia para territórios que
chegaram a integrar o Reich. Churchill terá dito citando um general romano que
os germanos ou estavam prostrados aos nossos pés ou nos estavam a apertar o
pescoço. Quem pode negar?
Há não muito tempo Helmut Schmidt disse (cita-se de cor) que se estivesse no
lugar de Merkel o que mais o preocuparia seria a hostilidade que a Alemanha
está a gerar por toda a Europa. Tem muita razão o antigo chanceler. Há entre
nós quem não pense assim. Jornalistas, economistas, sociólogos e políticos respeitáveis
consideram que a Alemanha de hoje não encerra os perigos do passado e louvam a
capacidade de organização e trabalho do país e do seu povo. Talvez. Mas há
outros povos organizados e trabalhadores. Os suecos e os dinamarqueses são
exemplo disso, mas não os vemos a procurar impor as suas condições a todo um
continente.
É evidente que a dimensão económica, geográfica e demográfica da Alemanha a
torna um factor essencial no eixo europeu, mas uma coisa é isso e outra
diferente é tentar ditar as regras que regem os outros estados, nomeadamente os
da união e mais especialmente os do euro.
Para que a paz e a estabilidade perdurem e haja progresso é preciso realinhar
os equilíbrios. Os políticos de hoje não têm a dimensão histórica e política da
geração de De Gaulle e de Churchill e também não estão à altura das de
Mitterrand, Delors, Soares, González, Schmidt, Andreotti, Kohl e, noutro
momento, Cavaco e Thatcher.
O que aflige quem tenha um mínimo de memória histórico é exactamente essa falta
de dimensão, que permite constatar que realmente a Europa está hoje perigosa –
muito perigosa mesmo.
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