Henrique Raposo –
Expresso, opinião
No dicionário da
língua portuguesa, com ou sem acordo, só há uma palavra para descrever a acção
política desse grande presidente de junta chamado Cavaco Silva. A palavra é cobardia.
Muitos políticos à esquerda, assim ao estilo de Alegre ou Arnaut, nem sequer
percebem aquilo que se está a passar. As suas declarações têm o lastro da
inconsciência. Com Cavaco Silva, o assunto muda de figura. O sôr presidente
sabe que os problemas existem, mas não tem coragem para os enfrentar.
Resultado? Na hora h, coloca-se sempre ao lado da reacção às medidas difíceis,
toma sempre o lado do status quo que está a afundar Portugal. Pior: tem a
presidencialíssima lata de legitimar essa posição reaccionária com um suposto
patriotismo. Cavaco julga que fala em nome da pátria, ou melhor, julga que a
pátria fala através da sua esfíngica figura. Lamento, mas os discursos de
Cavaco Silva não são a tradução do estado da alma da pátria. Aliás, as
declarações do Presidente Cavaco Silva representam, cada vez mais, a visão
pessoalíssima do reformado Cavaco Silva.
Eu não acredito
que Cavaco Silva não sabe como é que funciona o sistema de
segurança social em Portugal . Portanto, quando diz que as pensões são
intocáveis, o Presidente não está a negar o problema através da inconsciência.
Está a negá-lo através da cobardia política. Cavaco não quer ficar com o ónus
que resultaria da seguinte declaração: "caros reformados, lamento mas os
sistemas de segurança social deixaram de ser sustentáveis e justos; dizer o
contrário é estar a enganar as pessoas". No fundo, o inquilino de Belém
não quer ser um dos mensageiros do mal, porque sabe que a maioria das pessoas
vai odiar o mensageiro e fingir que o mal não existe. O que é uma pena. Este
tempo delicado pedia um Presidente com uma coragem à Silva Lopes. Sim, o
Presidente da República Portuguesa devia ter a coragem de dizer que as reformas
mais altas têm de ser cortadas, porque a geração grisalha não pode continuar a
asfixiar o presente e, acima de tudo, o futuro das gerações mais novas. Mas, lá
está, Cavaco está mais interessado na sua popularidade. E - pior ainda -
continua a dar a impressão de que está mais preocupado com a intocabilidade da
sua pensão do que com a resolução do problema geracional da segurança social.
Ainda por cima, o
seu discurso recorre a um vago "grupo social", os
"reformados". Com esta artimanha, Cavaco procura criar a imagem do
pobre velhinho a sofrer um corte na reforma de 400 euros. Sucede que esta
imagem não corresponde à realidade. Os cortes nos subsídios de férias que foram
negados pelo TC abrangiam apenas 10% dos reformados, aqueles que recebiam uma
pensão acima dos 1300 euros. E, agora, qualquer plano decente de cortes tem de
obedecer ao princípio da progressividade. Por outras palavras, os grandes alvos
dos cortes eram e continuam a ser as reformas de Cavaco Silva e demais
reformados de luxo. O velhinho dos 400 euros não entra nesta história. Não
entra, mas tem dado jeito à demagogia de Bagão Félix, Ferreira Leite e Cavaco
Silva, o presidente dos Drs. Pinhais desta vida.
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