IL
SOLE-24 ORE, MILÃO – Presseurop – imagem Esquivel
Assente em
critérios económicos, políticos e geopolíticos, a UE terá de ser julgada de
acordo com estes mesmos critérios. E o veredicto do historiador britânico Niall
Ferguson é irreversível.
Thank you. Merci. Mersi.
Grazie. Gracias. Grazzi. Go raibh maith agat. Dziekuje. Danke. Aitäh. Köszönöm.
Multumesc. Dêkuji. Paldies. Ačiū.
Dakujem. Obrigado. Hvala. Dank u. Kiitti. Blagodaria. Merci villmahl. Efharisto.
E o meu favorito, tak.
Há 23 maneiras de
dizer obrigado na União Europeia e parece-me que isso, por si só, ilustra por
que motivo a experiência europeia redundou num fracasso. Recorda-se daquelas
experiências que fazia em criança com o estojo de química? Ia juntando
substâncias químicas, umas atrás das outras, para ver quando se dava a
explosão. Foi o que fizeram na Europa. Começaram com seis; não era suficiente.
Passaram para nove ... e nada. Dez ... e apareceu um bocadinho de fumo e nada
mais. Doze ... e nada. Quinze ... e outra vez nada. Vinte e cinco ... e começou
a borbulhar. Vinte e sete ... e explodiu!
Tenho a certeza
absoluta de que Lord Mandelson e Daniel Cohn-Bendit vos vão dizer que a
experiência europeia foi bem-sucedida porque tem havido paz na Europa desde que
esta surgiu, no início da década de 1950. Será que não poderíamos deixar morrer
esta ideia? A integração europeia não tem absolutamente nada que ver com a paz
na Europa desde a II Guerra Mundial, que foi uma conquista da NATO [a
Organização do Tratado do Atlântico Norte]. A criação da União Europeia não foi
sobre guerra e paz pois, se assim tivesse sido, teria havido uma Comunidade
Europeia de Defesa, que foi vetada pela Assembleia Nacional Francesa em 1954.
Avaliação económica
A Europa tem de ser
julgada em termos económicos, visto que os seus próprios termos têm sido sempre
económicos. E como resultou isso? Na década de 1950, a economia da Europa
integrada cresceu a um ritmo anual de 4%. Na década de 1960, era praticamente
igual. Na década de 1970, o crescimento foi de 2,8%; na década de 1980, desceu
para 2,1%; na década de 1990, foi de apenas 1,7%; e por aí adiante, até ao
zero.
À medida que a
integração europeia continuava, o seu crescimento declinava. A parte da Europa
no PIB global tem vindo a registar uma descida desde 1980 de 31% para apenas
19%. Desde 1980 que a UE registou um crescimento mais rápido do que o dos EUA
em apenas nove anos num total de trinta e dois. A sua taxa de desemprego nunca
foi inferior à dos EUA.
Será que os meus
leitores são investidores? Quais foram os piores mercados de valores dos
últimos dez anos? Grécia, Irlanda, Finlândia, Portugal, Holanda e Bélgica –
foram os piores do mundo. E, para além disto tudo, temos a União Monetária – a
mais recente experiência correu mal.
Nós avisámos, meus
senhores. Dissemos que uma União Monetária sem integração do mercado de
trabalho e sem qualquer federalismo acabaria por explodir. Foi a minha previsão
em 2000. É o que está a acontecer, em tempo real, num laboratório de química,
do outro lado do Atlântico.
Mas esta também foi
uma experiência política que correu mal. Sabem que experiência foi esta? Foi
ver se os europeus podiam ser forçados a uma união ainda mais coesa –
independentemente das suas vontades – pela via económica, visto que as
estratégias políticas não deram resultado.
Perda de
legitimidade política
E quando os povos
europeus votaram contra uma maior integração, os seus governos receberam
indicações para tentar outra vez. Foi o que se passou com os dinamarqueses em
1992 e duas vezes com os irlandeses: em 2001 e novamente em 2008. Estes
cidadãos deram a resposta errada no referendo e foi por isso que os seus
governos fizeram outro. Isto diz-nos alguma coisa sobre o motivo que levou esta
experiência a fracassar – fracassou porque deixou de ter legitimidade política.
E vemos isto não apenas na Grécia, mas em todos os sucessivos governos por essa
Europa fora. Desde que a crise começou, há dois anos, que já caíram treze
governos e nos próximos meses vão cair mais.
Por último, a
experiência europeia tem sido um fracasso geopolítico. Esperava-se que a União
Europeia servisse de contrapeso aos EUA. Recordam-se do discurso de Jacques
Poos, em 1991, “a hora da Europa”, onde ele anunciava que a Europa ia resolver
a guerra na Bósnia? [De facto, o seu discurso foi proferido depois de estalar a
guerra na Eslovénia e na Croácia.] Isto passar-se-ia em 1991. Mas nessa guerra
morreram cem mil pessoas e houve 2,2 milhões de deslocados e o conflito só
terminou quando os EUA finalmente intervieram e puseram fim ao conflito.
Ficou famosa a
pergunta de Henry Kissinger, “A quem hei de telefonar quando quiser falar com a
Europa?”. A resposta chegou alguns anos mais tarde: telefone à baronesa Ashton
de Upholland. Nunca mais ninguém soube dela, nem ouviu falar dela. Meus
senhores! Sendo canadianos, sabem como é difícil gerir um sistema federal com
apenas dez províncias e duas línguas oficiais; por isso compreenderão mais
depressa do que a maioria das pessoas por que motivo a experiência europeia,
com 27 países e um número impressionante de 23 línguas, redundou num vergonhoso
fracasso. Felizmente que agora aqui no Canadá só tenho de usar duas ou talvez
três palavras: Thank you e Merci.
Este artigo é uma
transcrição da intervenção de Niall Ferguson como orador a favor do “sim” no Munk Debate sobre o tema “Será que a
experiência europeia falhou?”. Fez parte da história
de capa da revista IL do jornal Il Sole-24 Ore sobre “A Europa debaixo
de fogo”, publicada em abril de 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário