Verdade (mz) - editorial
“Nós o Governo e
nós os moçambicanos temos confiança em vós (polícias)... Quando ouvirem gritos,
alaridos, muitas vezes tentando desacreditar ou desmoralizar a Polícia,
continuem a respeitar a confiança depositada em vós. Confiamos em vós”,
palavras de Armando Emílio Guebuza na celebração dos 38 anos da Polícia da
República de Moçambique.
Se é verdade que
não se pode afirmar, de forma generalizada e irresponsável, que a Polícia serve
os interesses do partido no poder e das suas lideranças não seria injusto, de
todo, afirmar que o silêncio – de quem manda no país – sempre que a mesma
Polícia abraça, de forma reiterada, o excesso de zelo é suspeito, é nefasto ao
exercício das nossas liberdades constitucionais.
Quando a acção
destes agentes é louvada e a crítica pública em relação ao seu desempenho é
reduzida literalmente à dimensão de sabotagem à tranquilidade e ordem pública,
não é preciso dizer mais nada. Temos uma Polícia, como ficou explícito na
detenção de Jorge Arroz, que o cidadão deplora, mas que o Chefe de Estado ama
profundamente.
Indubitavelmente, o
nosso “idolatrado” Chefe de Estado perdeu uma nobre oportunidade de ficar
calado. Já disse o escritor brasileiro, Augusto Cury, “o silêncio é a oração
dos sábios”, mas Guebuza provou que de sábio não tem nada. O PR, como sempre,
saiu-se muito, muito mal. É sempre assim quando depara com os críticos à sua
(des)governação.
Ao proferir tal
pronunciamento no dia da Polícia, o filho “mais querido da nação” mostrou, à
saciedade, a insensibilidade por que ainda se rege, a mesma que tem vindo a
apresentar aos moçambicanos há sensivelmente 10 anos.
Parece que o senhor
Guebuza, à medida que se aproxima o fim do seu mandato, vai perdendo
discernimento, tornando-se incapaz de perceber que ele é o grande problema
desta nação. Diga-se de passagem, não há registo no país de tanto
descontentamento, quer por parte dos médicos, desmobilizados de guerra, quer do
povo em geral. O desgoverno de Guebuza é tão nítido, mas tão nítido que até
quem não dispõe de um sistema HD vê.
Como é que a
Polícia vai deixar, sem generalizações, de atropelar literalmente os direitos
de cidadãos? Se o PR aplaude pornograficamente comportamentos desviantes dos
agentes da lei e desordem isto não vai mudar. Eles estão no caminho certo. Nós,
as vítimas, é que não compreendemos que o Chefe de Estado não respeita os
nossos direitos.
O que diriam os
agentes da G4S se ouvissem as palavras de Guebuza depois do que lhes aconteceu
num passado recente nas mãos da FIR? O que diriam todos os cidadãos honestos
que são vítimas todo o santo dia destes trabalhadores abnegados que o PR
delirantemente tanto ama? Acreditamos que nenhuma pessoa sensata gostaria de
estar na pele de Guebuza para ouvir.
Na verdade, o PR
está a perder as estribeiras. Não é de bom grado um Chefe de Estado deixar-se
levar pelas emoções. Aplaudindo o péssimo comportamento da nossa Polícia, ele
mostrou a todos a imagem de um homem aflitivamente triste e desesperado com a
situação desgrenhada a que nos leva.
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