Pedro Almeida
Cabral – Expresso, opinião
Um país com quase
um milhão de desempregados, que corresponde a cerca de 18% da sua população
activa, e com quase 40% de jovens entre os 15 e os 24 anos desempregados é um
país com poucas perspectivas. E é certamente um país com medo. Pois
não há grandes dúvidas de que haverá um milhão de desempregados ainda durante o
ano de 2013.
Um país onde
haveria quase 4,5 milhões de pobres se não houvesse qualquer tipo de
transferência social (incluindo pensões) é um país em risco. Mesmo com
transferências sociais, há ainda cerca de 1,8 milhões pessoas que vive com
menos de € 360 por mês, que é a medida do limiar da pobreza. Ou seja, 18%
dos portugueses são oficialmente pobres.
Estas duas
descrições já seriam suficientes para perceber melhor em que país vivemos. Mas
vamos ainda acrescentar mais uma. Portugal é o país com maior desigualdade
de rendimentos da zona Euro. E, na União Europeia, só a Letónia e a
Bulgária são mais desiguais.
É este o país que
temos: um país pobre, onde o emprego escasseia e onde o fosso entre os mais
ricos e os mais pobres é profundo.
Espera-se que o
Governo deste país quando opta por diminuir o valor das pensões ou despedir
funcionários públicos em massa o faça de forma ponderada, séria e transparente. Na verdade, o pobre país que temos até exige mais. Exige que estas decisões
sejam fundamentadas e muito bem explicadas. É que os cidadãos não são
menos cidadãos por serem pensionistas ou funcionários públicos. No actual
contexto, ficar desempregado ou passar a receber uma quantia menor como pensão
não é algo que possa ser tratado com ligeireza.
O que se passou nos
últimos dias foi exactamente o contrário. Passos Coelho e Portas montaram
uma encenação grosseira e aproveitaram-se abusivamente da pobreza que
Portugal é. Primeiro, Passos afirma solenemente que será necessário uma
nova contribuição de sustentabilidade sobre as reformas. Depois, Portas afirma
solenemente que não pode haver uma nova contribuição de sustentabilidade sobre
as reformas. Para concluir, os grupos parlamentares dos partidos do Governo
fazem juras de amor. Entretanto, em completa contradição, surge a medida
de cortar 10% de todas as pensões dos aposentados do Estado que, entretanto
também, já foi desmentida. Não admira. Qualquer corte de 10% das pensões
de aposentação parece ser gloriosamente inconstitucional.
Mas já tinha havido
mais episódios destes. Ainda na semana passada, correu a notícia de que
tinha sido o Governo a salvar as pensões inferiores a € 600 das garras de
Gaspar. Ou os vários números que têm surgido de funcionários públicos que
têm de ser despedidos. Sem se esclarecer se haverá ou não subsídio de
desemprego para estas pessoas.
Tudo isto demonstra
que o Governo trata os pensionistas e os funcionários públicos como cidadãos de
segunda, mas como primeiros responsáveis pela despesa do Estado e, portanto,
merecedores de um tratamento de terceira. Decisões destas não podem estar
sujeitas a golpes de teatro, desmentidos constantes e a uma completa falta de
preparação. Mesmo que o Governo esteja numa situação delicada devido à
sétima avaliação da Troika, não pode esquecer-se que governa para os seus
cidadãos e não para os seus credores.
Depois da
governação para além do memorando da Troika, o Governo passou simplesmente a
governar pelo medo. Primeiro, assustam-se as pessoas com decisões que as
podem condenar a uma vida de dificuldades. Depois, diz-se que afinal não era
nada. Finalmente, surgem medidas alternativas, tão graves ou piores que as que
foram rejeitadas.
Primeiro o Governo
afunda-nos. Depois, salva-nos num acto de generosidade. Mas, na verdade, o
afundamento e a salvação consistem exactamente no mesmo.
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