Tomás Vasques* –
Jornal i, opinião
Vítor Gaspar, o
principal artífice da penúria em que o país vai ficar, irremediavelmente,
durante décadas, engendrou durante meia-dúzia de meses um novo saque aos
portugueses, cuja dimensão ainda está por apurar. Passos Coelho, o líder do PSD
e, formalmente, do governo, ficou incumbido de apresentar esta nova vaga de
destruição, o que fez com ar solene, na sexta-feira, às 20 horas. Para aqui
chegar, contou com a cumplicidade activa do Presidente da República, que
adoptou este governo como seu, e de Paulo Portas, o subalternizado parceiro da
coligação governamental. O ministro das Finanças sabe melhor do que ninguém que
a aplicação das medidas por si congeminadas, as anteriores e as actuais, vai
fazer de Portugal um país miserável e sem esperança, com um desemprego nunca
atingido, com mão-de-obra barata, sem protecção social, a emigrar para
sobreviver, sem dinheiro para comer, para educar os filhos ou ir ao médico. É
esse o seu objectivo e a sua missão, apadrinhada pelo PSD: reduzir à pobreza a
maioria dos portugueses e à insignificância as competências do Estado na Saúde,
na Educação e na Segurança Social de modo a que estes sectores de actividade se
transfiram para a “competência” de grandes grupos económicos privados. Nessa
altura, Vítor Gaspar voltará à Alemanha, ao BCE ou a qualquer outro poiso e,
provavelmente, receberá uma medalha de mérito pelos serviços prestados,
atribuída por Schauble, o ministro das Finanças alemão e seu patrono, no
Bundestag, dirigindo-lhe na ocasião palavras de apreço e enaltecendo a sua
“clarividência, determinação e coragem”, enquanto, por cá, o povo português o
eternizará como um colaboracionista, estou certo disso, como o fez a Miguel de
Vasconcelos, não o atirando pela janela por falta de oportunidade.
Vítor Gaspar sabe
que todo o país sabe que é ele quem manda, quem decide, quem define o rumo do
governo e do país, como só houve um caso semelhante em Portugal, o de António
de Oliveira Salazar entre 1928 e 1932, com as consequências que todos
conhecemos. Nem sequer o incomoda que o tomem por incompetente por falhar todas
as previsões e todas as contas ou por não atingir o mínimo que lhe era exigido:
cumprir as metas do défice orçamental. E muito menos o incomoda o destino da
maioria dos portugueses. Ele sabe que os objectivos que pretende atingir têm um
percurso a fazer: o completo falhanço do Orçamento do Estado de 2012
permitiu-lhe duplicar a dose, no mesmo sentido, em 2013; a previsível (e parece
que desejada) declaração de inconstitucionalidade do Orçamento de 2013 abriu o
caminho ao saque agora anunciado; e a trama consolida-se com outras manobras de
diversão: agora, mais uma inconsequente conferência de imprensa do líder do
CDS-PP; depois, a convocação de um conselho de Estado. É neste cenário de
distorção democrática, em que quem decide se recolhe atrás da cortina, que
Passos Coelho se esforça, em vão, e sem a noção do descrédito, por tapar o céu
com uma peneira. Na mesma linha de há dois anos, quando disse que não retirava
os subsídios de férias e de Natal ou que não despedia funcionários públicos,
agora quer fazer acreditar que está empenhado em que o saque engendrado por
Vítor Gaspar seja embrulhado num amplo “consenso com os partidos políticos e os
parceiros sociais”, quando nem sequer com o parceiro de coligação se entende.
Ou, pior ainda, querer que alguém acredite em supostas “medidas de crescimento
e de fomento industrial”, entremeadas no saque de mais de seis mil milhões de
euros, é o mesmo que acreditar nos milagres de curandeiros.
Já poucos tomam a
sério o primeiro--ministro e, estou convicto, que este governo só cai antes do
prazo se Vítor Gaspar se demitir ou se o resultado das eleições autárquicas
convencer Paulo Portas que tem condições para ganhar uma fatia importante do
eleitorado do PSD. Até lá, Paulo Portas continuará a marcar diferenças, como na
conferência de imprensa de ontem, mas o excelentíssimo ministro das Finanças
seguirá, impávido e sereno, o seu rumo.
*Jurista, escreve à
segunda-feira
Sem comentários:
Enviar um comentário