Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Eu nem queria
acreditar quando ouvi Marques Mendes anunciar uma reunião do Conselho de
Estado. Não só porque sendo ele próprio conselheiro devia estar calado (parece-me
uma questão ética essencial não se aproveitar de um lugar para o qual foi
eleito no Parlamento, pelo PSD, para dar notícias como comentador político -
mas será que o percebe?), mas sobretudo pelas palavras que utilizou para
caracterizar a situação política. Cito com cuidado:
"Passos
Coelho, com este conjunto de medidas apresentadas nesta altura deu um sinal
político aqui. É de que já não acredita em ganhar eleições. É uma espécie
de deitar a toalha ao chão, o que lhe pode vir, de resto, a criar problemas
amanhã, dentro do partido, quando deputados, autarcas e gente perceberem que
vão perder tudo. Agora, Paulo Portas não desistiu de ganhar eleições pelo que
pode haver aqui uma clivagem".
Eu não sei se toda
a gente lê o mesmo do que eu. Mas se olharmos para a situação do país,
parece-me que Passos Coelho ganhar ou perder eleições (o mesmo direi para
Seguro ou Portas) é totalmente irrelevante. Com quase 20 por cento de
desemprego, falências em massa, miséria, fome, pobreza, esta gente -
gostaria de dizer esta gentinha - analisa os problemas do país pelos seus
egozinhos de boys. "Deputados, autarcas e gente do partido perceberem
que vão perder tudo", diz Marques Mendes, que foi líder do PSD e ministro
deste país? Pelo amor de Deus! É tão revoltante que não tenho mais palavras...
Sinceramente, eu
próprio sinto vergonha quando vejo pessoas, que deveriam ser exemplares nesta
altura das nossas vidas, continuarem como sempre fizeram até aqui: a achar que
a política é um jogo que se faz em nome de um povo que apenas serve para pagar
impostos e votar, e onde o que conta é o seu clubinho vencer eleições. Marques
Mendes, que foi bastante sério como líder do PSD, demonstrou que afinal mantém
intacta a sua alma deboy, de jotinha. Não é capaz de dizer o óbvio: se
Passos já não acredita em ganhar eleições faz muito bem. Foram as
promessas e mais promessas, as medidas e mais medidas baseadas em ilusões e
facilidades que nos deixaram onde estamos. O que o país lhe pede não é que
as ganhe, é que o tire desta situação que muitos governos (e Mendes fez parte
de alguns) o meteram. Churchill também perdeu eleições depois de ganhar a
guerra e quem me dera que Passos ganhasse esta guerra de reequilibrar as
contas. Não acredito que o faça, até porque tem cometido muitos erros, mas se
os seus amigos e conselheiros são assim como Marques Mendes, nem precisava de
inimigos.
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