segunda-feira, 13 de maio de 2013

Portugal: UM SUICÍDIO POLÍTICO




Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião

O governo esteve para cair durante o fim-de-semana – infelizmente, para uma boa parte dos portugueses, não caiu. Mas uma outra pessoa que tinha tudo a ganhar com a queda do governo, Paulo Portas, aceitou manter-se, a troco de uma cedência da troika – a TSU dos pensionistas deixa de ser obrigatória para a entrega da próxima tranche. A questão é que Paulo  Portas tinha assinalado que essa era a sua “última fronteira”, a que “não poderia deixar passar” e falhou. Deixando de ser obrigatório, o imposto novo sobre os pensionistas, ficou no acordo. Está lá, tem existência escrita. Pode não ser aplicado, mas os portugueses já perderam toda a fé de que uma medida alegadamente “facultativa” valha alguma coisa no estado das coisas, uma vez que o governo nos habituou a esperar que a uma notícia aterrorizadora se seguirá provavelmente mais outra medida pestífera.

Paulo Portas já tinha partido fragilizado para este combate. Ao levantar, no domingo passado, o estandarte do “cisma grisalho” – tentando recuperar a confiança do seu eleitorado de eleição, os pensionistas e idosos – Paulo Portas fez uma promessa grandiloquente (“o primeiro-ministro sabe que esta é a fronteira que não posso deixar passar”) quando já tinha contribuído para esse mesmo “cisma grisalho”, ao dar o seu ámen ao corte das pensões da Caixa Geral de Aposentações – que afectará os mesmos grisalhos que, como nesse discurso referiu Portas, contribuem para o mínimo de coesão ao sustentar os filhos desempregados e a consumir o mínimo para aguentar a procura interna. O “cisma” já existia e vai deixar marcas profundas na imagem política de Portas.

Claro que a prova de que o governo está todo partido e não tarda a tranformar--se num “holograma” foi o facto da “fonte oficial” do governo se ter empenhado em humilhar Paulo Portas, anunciando aos quatro ventos a sua cedência, mal a reunião acabou – ignorando objectivamente o trade-off alcançado. Independentemente de ter conseguido limitar o alcance da TSU dos reformados – e, eventualmente, fazer com que não venha a ser aplicada – a imagem de Paulo Portas ficará indissoluvelmente ligada àquilo que, na prática, constituiu um recuo face à “fronteira que não podia ultrapassar”. Na semana que passou, o CDS perdeu o discurso do protector dos pensionistas e idosos. Ao aceitar ficar no governo sob esta condição “eventual”, Portas cometeu um suicídio político. O homem das sete vidas pode ter deliberadamente acabado com esta.

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