Ana Sá Lopes –
Jornal i, opinião
O governo esteve
para cair durante o fim-de-semana – infelizmente, para uma boa parte dos
portugueses, não caiu. Mas uma outra pessoa que tinha tudo a ganhar com a queda
do governo, Paulo Portas, aceitou manter-se, a troco de uma cedência da troika
– a TSU dos pensionistas deixa de ser obrigatória para a entrega da próxima
tranche. A questão é que Paulo Portas tinha assinalado que essa era a sua
“última fronteira”, a que “não poderia deixar passar” e falhou. Deixando de ser
obrigatório, o imposto novo sobre os pensionistas, ficou no acordo. Está lá,
tem existência escrita. Pode não ser aplicado, mas os portugueses já perderam
toda a fé de que uma medida alegadamente “facultativa” valha alguma coisa no
estado das coisas, uma vez que o governo nos habituou a esperar que a uma
notícia aterrorizadora se seguirá provavelmente mais outra medida pestífera.
Paulo Portas já tinha partido fragilizado para este combate. Ao levantar, no
domingo passado, o estandarte do “cisma grisalho” – tentando recuperar a confiança
do seu eleitorado de eleição, os pensionistas e idosos – Paulo Portas fez uma
promessa grandiloquente (“o primeiro-ministro sabe que esta é a fronteira que
não posso deixar passar”) quando já tinha contribuído para esse mesmo “cisma
grisalho”, ao dar o seu ámen ao corte das pensões da Caixa Geral de
Aposentações – que afectará os mesmos grisalhos que, como nesse discurso
referiu Portas, contribuem para o mínimo de coesão ao sustentar os filhos
desempregados e a consumir o mínimo para aguentar a procura interna. O “cisma”
já existia e vai deixar marcas profundas na imagem política de Portas.
Claro que a prova de que o governo está todo partido e não tarda a
tranformar--se num “holograma” foi o facto da “fonte oficial” do governo se ter
empenhado em humilhar Paulo Portas, anunciando aos quatro ventos a sua
cedência, mal a reunião acabou – ignorando objectivamente o trade-off
alcançado. Independentemente de ter conseguido limitar o alcance da TSU dos
reformados – e, eventualmente, fazer com que não venha a ser aplicada – a
imagem de Paulo Portas ficará indissoluvelmente ligada àquilo que, na prática,
constituiu um recuo face à “fronteira que não podia ultrapassar”. Na semana que
passou, o CDS perdeu o discurso do protector dos pensionistas e idosos. Ao aceitar
ficar no governo sob esta condição “eventual”, Portas cometeu um suicídio
político. O homem das sete vidas pode ter deliberadamente acabado com esta.
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