domingo, 23 de junho de 2013

A CORRUPÇÃO EM ANGOLA NO SEU MELHOR. QUEM É ACUSADO DE ROUBO É PROMOVIDO




William Tonet e Arlindo Santana* - Folha 8 – edição 1144 de 1 junho 2013

A carreira de Sívio Burity “ao serviço do seu país”, um país que não é Angola, mas um misterioso território independente que só ele conhece, é o retrato exacto daquilo que a corrupção é em Angola.

Variadíssimas vezes denunciado por pessoas de diferentes quadrantes como protagonista de actos e tomadas de atitude imorais, ilegais, e por demais incompatíveis com as suas funções e responsabilidades, Burity sempre conseguiu dar a volta por cima às acusações de que era alvo e mesmo agora, quando foi exonerado da chefia das alfândegas, foi isso mesmo que aconteceu.

O F8, sobretudo na pessoa do seu director, William Tonet, sabe do que está a tratar, uma vez que, quando teve a oportunidade de confirmar algumas denúncias do que se estava a passar na Alfândega e revelar até que ponto nessa instituição de Estado, entre as mais importantes do país, reinavam assiduamente práticas do desvio de fundos, de corrupção activa, passiva e peculato, foi, como já neste espaço relatámos, levado à barra do tribunal para ser julgado e condenado a pagar uma indemnização de USD 100 mil dólares, solicitada, entre outras pessoas,pelo próprio Sílvio Burity, alegando não serem verdadeiras as denúncias.

Claro está que a sentença terá sido encomendada e pronunciada em favor dos interesses superiores de um partido e seus interesses difusos, pelo juiz Manuel Manuel da Silva “Manico”, que, sem a mais pequena réstia de bom senso, imparcialidade, sentido de justiça e o que se pede de vergonha concedeu uma sentença adesão, mesmo tendo tudo ficado provado.

Passou o tempo e, num artigo publicado numa das nossas últimas edições, depois de termos feito alusão ao facto de ter sido a sua própria mulher a revelar a dada altura até que ponto esse dirigente podia ir na perfídia para levar avante os seus intentos, os seus alicerces tremeram, mas o dirigente não caiu.

Recentemente, porém, a situação agravou-se quando uma carta de queixa foi enviada ao Presidente da República e ao ministro das Finanças de Angola,que não se deve confundir com república das bananas por um grupo de quadros superiores e não só das Alfândegas, que, atempadamente pensavam eles, avisavam os seus superiores hierárquicos do que se estava a passar nos serviços alfandegários, sobretudo no porto de Luanda e demais fronteiras.Foi como se não tivessem avisado, pois o superior JES, indirectamente, estava na jogada por intermédio do seu filho Zenú, segundo relatam as fontes que nos informaram sobre este caso da Bromangol.

Entre parênteses, digamos desde já que até hoje não se sabe com exactidão quem são os donos da Bromangol. Mas o rumor diz que José Filomeno dos Santos,“Zenu”, é apontado como um dos sócios predominantes da empresa, em associação com o inefável Sívio Burity. Anotemos.

Voltando, porém, ao nosso tema, verdade é que na missiva dos trabalhadores alfandegários podemos ler um apanhado de todas as denúncias das trafulhices feitas antes, trata-se, portanto, de uma confirmação do que já se sabia, sugerindo pela ocasião e com firmeza, que a Inspecção Geral do Trabalho ou o MAPESS se decidissem a fazer uma auditoria para ver in loco o abuso de poder do Sílvio Burity e fazer um relatório a quem de direito, que nestas ocasiões nunca se sabe bem quem é!... Nada se passou!

A páginas tantas, inquietos, os trabalhadores denunciantes vão mais longe, ao assegurar que «é tempo de este cidadão ir embora, mesmo sabendo nós que o mesmo é facilitador de negócios escuros que entram e saem do Pais (Entrada de Drogas e mercadorias, Saída de Capitais de forma clandestina). O país precisa de quadros capazes de levar o país a bom porto e não dizimá-lo e/ou reduzi-lo a pó”, denunciaram.

Recorde-se ainda ter Silvio Burity assumido publicamente que ganhava entre 100 a 200.000 USD mensalmente.

De onde sai esse dinheiro todo? Quem lho dá? É lícito? Quanto ganha o Presidente da República e o ministro das Finanças, se o vosso subordinado assumiu perante o juiz que ganha 100.000.00 (cem mildólares)?»

A “volta por cima” de Burity graças aos dólares

Neste lance de exoneração para cima de Sílvio Burity, o que desencadeou terá sido o papel da estranha empresa Bromangol, de inspecção de produtos alimentares, com todas as suas derrapagens e atropelamentos das leis.

O sentimento de culpabilidade dos mais altos dirigentes das instituições sob égide de Burity reflecte-se no nervosismo do mesmo e no esbanjamento de dinheiro, tirado ele também dos cofres do Estado, para defesa dos seus chefes em tribunal.

Dizer que ao serviço da Alfândega Nacional oficia uma enorme brigada de mais de 20 (vinte) juristas e advogados, parece denunciar que trabalho não falta no que toca a diferendos e makas de toda a espécie, mas como porta de fuga de  dinheiro dos cofres públicos,são sempre recrutados os serviços de advogados de fora, inclusive estrangeiros.

O resultado, como se vê, sai exactamente ao contrário do que estava programado por esses auto-servidores dos seus Estados, de alma e de finanças.

Se formos ao fundo da questão, vemos primeiro que a demissão de Burity, formalmente ordenada pelo novo ministro das Finanças, Armando Manuel,foi, segundo fonte de F8, “decidida” pelo Presidente, José Eduardo dos Santos (JES) por estar intimamente relacionada com o chamado “caso Bromangol”.

Isso parece estar provado

Esta instituição privada foi criada em condições consideradas opacas em fins de 2012, tendo-lhe sido atribuída a faculdade de efectuar, a título obrigatório, análises bromatológicas a todos os produtos alimentares importados por Angola.

Sem delongas, verificaram-se exageros nos custos das análises efectuadas pela empresa, assim como se lamentava a lentidão da entrega dos resultados aos importadores das mercadorias, que espontaneamente, se lançaram em campanhas de protestos muito contundentes.

Armou-se uma frente de protesto alargada num clima de descontentamento geral, pois eram os próprios consumidores as principais vítimas do agravamento causado aos preços pelas práticas da Bromangol.

Perante esta situação de protestos dos importadores, secundados por manifestações de descontentamento de distribuidores e do público consumidor o que é que aconteceu? - estamos em Angola -, o Serviço Nacional das Alfândegas correu ao socorro da Bromangol “com uma campanha de imprensa, inspirada em métodos de agitação considerados insidiosos”.

Dá vontade de meter toda essa gente na cadeia, mas não é possível, pois em Angola, quem vegeta as cadeias são os inocentes, acusados injustamente.

Entretanto, sabe-se que existe uma instituição pública com o mesmo fim, o Laboratório Central Agro-Alimentar, dependente do Ministério da Agricultura, habilitado a realizar análises bromatológicas a preços aceitáveis. Brincadeira! Não tutelada pelas Finanças, foi, num primeiro tempo, enviada às favas. A Bromangol do filhote e amigo estava ali para as encomendas.

Só que, agora, neste exercício para apagar o calor insuportável do descontentamento geral, o novo ministro das Finanças pôs também termo ao monopólio da Bromangol. Mas, faz calma, não te precipites…

Na preocupação superior de poupar Sílvio Burity - e temos aqui com certeza uma das chaves das denúncias de corrupção em Angola - explica-se o facto de ele ter sido automaticamente nomeado Director Nacional do Património, um departamento do Ministério das Finanças, que tem sob sua alçada os imóveis do Estado, no país e no estrangeiro, o parque automóvel, etc – o que de certeza alimentará com sucesso a sua polimorfia, dinheiro, riqueza acumulada e negócios sujos.

E JES, tem agora mais uma batata quente, pois acolhe mais uma vez, alguém que todos contestam. Assim terá de fazer alguma coisa para que não digam estar ele por trás de tudo isso.

Como se diz estar provado, ficamos por aqui e está tudo explicado!

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