Tomás Vasques – Jornal
i, opinião
Já todos perceberam
que o ministro das Finanças, respaldado num primeiro-ministro incompetente e
num Presidente da República reformado, arruinou o país
O Conselho de
Ministros reuniu, no sábado, no Mosteiro de Alcobaça, para assinalar os dois
primeiros anos de governo PSD-CDS. O local, onde repousam a bela Inês e o seu
amado Pedro, foi o escolhido para fazer um balanço do passado governativo e
definir o rumo para os dois anos finais do mandato que lhes foi conferido pelos
portugueses. Sobre o passado não se sabe nada, porque nada foi dito, nem uma
palavra de lá saiu, mas é fácil de calcular perante tantas provas e evidências
produzidas nestes dois anos: só pode ter sido tratado como um desastre, cujas
consequências sobre o futuro dos portugueses ainda não estão totalmente
apuradas. O que saiu do conclave, descontraído e informal, para enganar
papalvos, como as férias de Verão na Manta Rôta do primeiro-ministro, foi muito
pouco para tão respeitável efeméride, mas dá para entender que ninguém naquele
Conselho de Ministros quer qualquer relação de proximidade com o que sobra da
política do "daqui ninguém sai vivo", não na versão de Jim Morrison,
mas na versão de Vítor Gaspar. E não é para menos: já todos perceberam que o
ministro das Finanças, respaldado num primeiro-ministro incompetente e
quezilento e num Presidente da República reformado, arruinou o país - mais do
que já estava - por muitas décadas.
Já assistíamos a um
despudorado lavar de mãos de muitos autarcas do PSD que se envergonham dos
resultados das políticas executadas pelo partido pelo qual concorrem,
escondendo na sua propaganda eleitoral o símbolo do partido, o que não abona
nada a seu favor, nem da hombridade política e da transparência que é devida
aos eleitores. Agora, no Mosteiro dos monges de Cister, o governo também quis
lavar as mãos, como Judas, da política do "daqui ninguém sai vivo" de
Vítor Gaspar. Para tal, ensaiou a transferência do protagonismo político, nos
próximos dois anos, de Vítor Gaspar para Paulo Portas e Poiares Maduro,
acentuando ainda mais a irrelevância do primeiro-ministro, senão mesmo do PSD.
Paulo Portas, a coordenar a "reforma do Estado", forneceu a "nova"
estratégia política do governo para os próximos dois anos, através das medidas
que constam na sua moção ao congresso dos centristas, uma agenda para o
"crescimento económico": reposição progressiva dos rendimentos de
funcionários públicos e pensionistas, desagravamento progressivo do IRS e da
sobretaxa, aumento do salário mínimo nacional. Poiares Maduro, com o seu ar
desempoeirado, ficou responsável pela estratégia de coordenação política e
comunicação, em que irá repetir, à saciedade, em conferências de imprensa diárias,
as palavras "consenso", "credibilidade",
"esperança", "sempre fiéis à verdade".
Mas, sejamos
realistas: esta "mudança" de política ensaiada em Alcobaça, uma
falcatrua para eleitor ver, uma peça de teatro mal ensaiada, vai sair furada
para mal dos nossos pecados. Não há uma única medida do governo que altere o
rumo traçado desde o primeiro dia. O que se aproxima até ao fim deste ano e
durante 2014 são despedimentos aos milhares na função pública, são cortes de
mais de quatro milhões de euros na despesa do Estado, o que corresponde, no
essencial, a uma transferência dessa despesa para os cidadãos, que provocarão
ainda mais retracção económica e mais desemprego, mais défice (já se negoceia
com a troika nova flexibilização nas metas do défice para este ano e o
próximo), mais dívida externa, mais pobreza e miséria. Esta é a linha de rumo
que está traçada e, quanto a isto, não há estratégia de comunicação de Poiares
Maduro que alivie a rota de descalabro traçada, nem promessas de Paulo Portas
que nos salvem.
Vítor Gaspar, o
homem forte desta bancarrota, do qual o PSD agora se quer descartar, mal a
troika desabelhe, não dorme. Nem ele, nem o ministro das Finanças alemão.
Jurista - Escreve à
segunda-feira
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