domingo, 16 de junho de 2013

Portugal: GREVE GERAL PELO PAÍS




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

A situação em que o país e o povo português se encontram exige um persistente esforço para a construção de atos políticos coletivos de consciencialização e mobilização. É muito importante que a greve geral convocada pela CGTP-IN, pela UGT e por sindicatos independentes seja preparada e concretizada como um desses atos. O seu êxito terá significativo impacto imediato e contribuirá para que outros, de caráter mais social ou mais político, possam ocorrer com força e em tempo útil.

Os portugueses têm direito ao futuro, a viver na sua pátria, a que o seu país seja soberano e independente. Têm direito a viver em democracia e com dignidade. Estes são os grandes objetivos da greve geral.

O que se passa no mundo do trabalho - existência de uma brutal taxa de desemprego, queda da qualidade do emprego, alastramento da precariedade, aniquilação da contratação coletiva, abaixamento de salários e pensões, aumento dos horários de trabalho e do trabalho não remunerado, imposição de uma mobilidade social descendente - exige a luta de todos os trabalhadores.

A atitude ostensiva do Governo de desprezar os protestos, as reivindicações e propostas dos mais diversos setores de atividade, das populações e suas organizações; a forma sistemática como desrespeita as leis e achincalha as decisões dos tribunais; a persistência em políticas que apenas empobrecem e debilitam o país; a sua subserviência face a interesses externos contra o interesse nacional, tudo isto coloca a exigência de um "forte grito de revolta" e um ato de "insubmissão dos portugueses", expressões utilizadas na decisão da UGT.

Esse ato de insubmissão é imprescindível, também para exigir o pleno funcionamento das instituições democráticas e, desde logo, para reclamar do presidente da República (PR) que cumpra a Constituição da República (CR) que jurou.

O professor Cavaco Silva, cidadão que de livre vontade se propôs ser PR, o mais alto magistrado da nação, tem de interpretar os anseios e interesses de todo um povo à luz da CR. Por outro lado, as suas mensagens, a sua ação ou inação, os seus pronunciamentos são sempre, inevitável e necessariamente, atos políticos de grande significado. O PR não pode refugiar-se em discursos dúplices, que por vezes parecem prenhes de cobardia política.

Ao proteger o Governo e os rumos que este segue, vai reforçando a existência de uma "governação" praticamente marginal ao regime constitucional e ao Estado de direito democrático que a CR consagra.

A insubmissão dos portugueses, afirmando novos rumos para o país, tem de chegar à exigência da demissão do Governo, bem como da libertação do jugo colocado pela troika. Isto implica a denúncia do memorando e o desencadear de uma justa e adequada renegociação da dívida, que só um novo Governo apoiado na mobilização dos portugueses e numa intervenção articulada das instituições poderá concretizar. Todos estes objetivos estão muito bem expressos no pré-aviso de greve formulado pela CGTP-IN.

Temos, pois, uma grande convergência sobre o conjunto de objetivos da greve, mas os obstáculos imediatos que se colocam a centenas e centenas de milhares de trabalhadores são grandes, quer os materiais, quer os que emanam da "impossibilidade" de exercerem os seus atos em liberdade e por vontade própria.

Nesta greve geral, a análise que suporta as decisões tem de se sustentar muito numa perspetiva de futuro. Mesmo que a alguns pais não pareça face a objetivos imediatos, a greve dos professores é, de forma exemplar, a conjugação da luta pela dignidade com a luta pelo futuro das jovens gerações.

Quando alguns "velhos do Restelo" teimam em dizer que os sindicatos se batem apenas por direitos adquiridos, há que lembrar-lhes que não existe, em sociedade, qualquer espécie de direitos e deveres que não seja adquirida.

Quando algumas almas "piedosas" dizem que a greve é justa mas que agora é preciso produzir, lembremos-lhes a evidência de que são as políticas seguidas que destroem, de forma brutal, empresas e capacidades de produção.

Em tempo de crise, há que proteger os mais fragilizados, promover a escola e o conhecimento, reforçar a dimensão social do Estado articulando-a com uma ajustada estratégia económica.

Esta é, sem dúvida, uma greve geral pela dignidade e pelo futuro.

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