quarta-feira, 19 de junho de 2013

Portugal: UM PAÍS MORIBUNDO



Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

A saúde está muito doente, os pobres passam a miseráveis e as PPP esmifraram-nos totalmente. Eis a síntese de três documentos arrasadores

Todos os dias surgem relatórios que mostram o marasmo em que Portugal se encontra, agravando ainda mais o nosso pessimismo visceral. Há quem diga ser necessário olhar para o lado positivo das coisas e ter esperança no futuro. Mas onde é que está esse lado que ninguém vislumbra?

Assim sendo, fiquemos-mos por aquilo que vamos vendo e lendo. Já esta semana surgiram três estudos, qual deles mais sinistro.

Na saúde, o Observatório Português constatou que 30% dos doentes crónicos com mais de 65 anos deixaram de usar recursos de saúde ou tratamentos e diminuíram 25% as idas às consultas do médico de família ou do hospital; os cuidados paliativos são insuficientes; nos cuidados primários os profissionais assinalam falta de material básico; as tentativas de suicídio aumentaram 35% nos homens e 47% nas mulheres; há um milhão de cidadãos sem médico de família. A isto soma-se  a notícia de que o buraco no Hospital de Santa Maria e no Pulido Valente atinge 300 milhões. Por mais que o secretário de Estado Leal da Costa tente minimizar a gravidade da situação, os factos apontam para uma degradação na área da saúde. Ninguém, aliás, pode acreditar que se possam cortar apoios e simultaneamente manter o nível da assistência.

Por seu lado, a Cáritas apresentou um relatório sobre o impacto da crise europeia. A instituição católica mais bem informada sobre a realidade no terreno demonstra que as políticas de austeridade não só não estão a resultar, como contraditoriamente fazem aumentar o desemprego, a pobreza e a exclusão social. O relatório não é só sobre Portugal. Estuda também a Itália, a Espanha, a Grécia e a Irlanda. Mas no que nos diz respeito é absolutamente dramático, transformando a pobreza em miséria. Depois veio um relatório sobre as PPP. Confirma o que se sabia. Foi um regabofe de gastos e um negócio da China para os privados, feito com base em premissas erradas. O documento da comissão de inquérito parlamentar responsabiliza basicamente o PS e o governo Sócrates. Não admira, porque foi nos consulados de Mário Lino e António Mendonça que se deram os casos mais complicados, mas não deixa de ser um facto que o assunto é transversal aos partidos do arco da governação. Até mesmo o actual secretário de Estado Sérgio Monteiro fica numa situação desconfortável, porque negociou pelo lado privado que saiu altamente beneficiado dos negócios. O relatório vai agora seguir para o Ministério Público, que o mesmo é dizer que dali não advirá nenhuma conclusão antes de uma boa dezena de anos, findos os quais já ninguém se lembrará exactamente do que estava em causa, embora a factura tenha entretanto continuado a pingar nos cofres dos parceiros privados, vindos do bolso do parceiro público, ou seja, os contribuintes.

Enquanto o país tomava contacto com estas realidades, Silva Peneda ia à Assembleia da República apresentar um parecer do CES (Conselho Económico Social) que reafirma que o programa de ajustamento está mal concebido e que não é em dois anos que se faz a reforma do Estado. Como se verifica, não há infelizmente motivos à vista para optimismos. Nem sequer o Verão…

1 comentário:

Anónimo disse...

Afinal vamos ter que dar razão ao tal saramago...

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