Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
A saúde está muito
doente, os pobres passam a miseráveis e as PPP esmifraram-nos totalmente. Eis a
síntese de três documentos arrasadores
Todos os dias
surgem relatórios que mostram o marasmo em que Portugal se encontra, agravando
ainda mais o nosso pessimismo visceral. Há quem diga ser necessário olhar para
o lado positivo das coisas e ter esperança no futuro. Mas onde é que está esse
lado que ninguém vislumbra?
Assim sendo, fiquemos-mos por aquilo que vamos vendo e lendo. Já esta semana
surgiram três estudos, qual deles mais sinistro.
Na saúde, o Observatório Português constatou que 30% dos doentes crónicos com
mais de 65 anos deixaram de usar recursos de saúde ou tratamentos e diminuíram
25% as idas às consultas do médico de família ou do hospital; os cuidados
paliativos são insuficientes; nos cuidados primários os profissionais assinalam
falta de material básico; as tentativas de suicídio aumentaram 35% nos homens e
47% nas mulheres; há um milhão de cidadãos sem médico de família. A isto
soma-se a notícia de que o buraco no Hospital de Santa Maria e no Pulido
Valente atinge 300 milhões. Por mais que o secretário de Estado Leal da Costa
tente minimizar a gravidade da situação, os factos apontam para uma degradação
na área da saúde. Ninguém, aliás, pode acreditar que se possam cortar apoios e simultaneamente
manter o nível da assistência.
Por seu lado, a Cáritas apresentou um relatório sobre o impacto da crise
europeia. A instituição católica mais bem informada sobre a realidade no
terreno demonstra que as políticas de austeridade não só não estão a resultar,
como contraditoriamente fazem aumentar o desemprego, a pobreza e a exclusão
social. O relatório não é só sobre Portugal. Estuda também a Itália, a Espanha,
a Grécia e a Irlanda. Mas no que nos diz respeito é absolutamente dramático,
transformando a pobreza em miséria. Depois veio um relatório sobre as PPP.
Confirma o que se sabia. Foi um regabofe de gastos e um negócio da China para
os privados, feito com base em premissas erradas. O documento da comissão de
inquérito parlamentar responsabiliza basicamente o PS e o governo Sócrates. Não
admira, porque foi nos consulados de Mário Lino e António Mendonça que se deram
os casos mais complicados, mas não deixa de ser um facto que o assunto é
transversal aos partidos do arco da governação. Até mesmo o actual secretário
de Estado Sérgio Monteiro fica numa situação desconfortável, porque negociou pelo
lado privado que saiu altamente beneficiado dos negócios. O relatório vai agora
seguir para o Ministério Público, que o mesmo é dizer que dali não advirá
nenhuma conclusão antes de uma boa dezena de anos, findos os quais já ninguém
se lembrará exactamente do que estava em causa, embora a factura tenha
entretanto continuado a pingar nos cofres dos parceiros privados, vindos do
bolso do parceiro público, ou seja, os contribuintes.
Enquanto o país tomava contacto com estas realidades, Silva Peneda ia à Assembleia
da República apresentar um parecer do CES (Conselho Económico Social) que
reafirma que o programa de ajustamento está mal concebido e que não é em dois
anos que se faz a reforma do Estado. Como se verifica, não há infelizmente
motivos à vista para optimismos. Nem sequer o Verão…
1 comentário:
Afinal vamos ter que dar razão ao tal saramago...
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