SV - GC – Lusa
O sociólogo e
diretor do Centro de Estudos Sociais, Boaventura Sousa Santos, defendeu hoje
que em Portugal a democracia está suspensa e o país vive sob um “brutalismo
político”, comparando o atual Governo a Salazar.
Boaventura Sousa
Santos esteve hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para encerrar o
colóquio internacional “Mobilidade social e desigualdades em tempos de crise”,
onde defendeu que Portugal e a Europa vivem debaixo de um “brutalismo
político”.
Em relação a
Portugal, Boaventura Sousa Santos disse mesmo que a democracia está suspensa e
que as ações são tomadas por poderes não democráticos.
“Até há ministros
que dizem que não foram eleitos”, apontou o sociólogo, fazendo alusão a
declarações recentes do ministro das Finanças, Vítor Gaspar.
Para o sociólogo, o
Governo português está “ao serviço de interesses transnacionais” e “isto há de
suscitar a ação direta” de quem sofre as consequências, nomeadamente os
desempregados e os pensionistas.
“A rua é o único
lugar que ainda não está colonializado, mas na rua não se faz formulação
política”, alertou, defendendo, no entanto, que o espaço público vai ser a rua.
O brutalismo
político afeta Portugal e a Europa e Boaventura Sousa Santos entende mesmo que
“não há eufemismo nem a preocupação de iludir o que se está a fazer”.
“Brutalismo
político é um sistema em que o poder político reside não no sistema político,
mas num sistema global em que economia e política não fazem distinção”,
explicou Boaventura Sousa Santos, perante um auditório com algumas dezenas de
pessoas, acrescentando que “o sistema político está canibalizado pela
economia”.
Para o sociólogo, a
culpa está no neoliberalismo que conseguiu entrar na Europa e está a destruir
as conquistas feitas nos últimos 50 anos.
Disse mesmo que a
atual crise foi criada para destruir o Estado Social e que está em marcha um
ajuste de contas levado a cabo por “elites” que como não conseguiram faz esse
ajuste de contas através de eleições, fazem-no através da legitimação dos
mercados.
“É importante criar
desemprego e cortar nos subsídios porque assim o trabalho torna-se penoso e o
trabalho passa a ser a forma de destruir a cidadania. E o povo assiste sem
revolta”, sublinhou.
De acordo com o
sociólogo, o objetivo é degradar o sistema público de modo a que fique
segmentado e seja um fator de desigualdades, onde os serviços estejam apenas ao
alcance de quem os possa pagar.
“O Governo pensa
que se há assistência, caridade, então não é preciso Estado Social. Isto é
Salazar puro”, acusou.
Como medidas
concretas de combate ao atual estado da Europa e das nações, Boaventura Sousa
Santos propôs a refundação da Europa e a regulação do capital financeiro.
Alertou que a
“democracia está no osso” e defendeu ser “fundamental” que os cidadãos não
pensem nem confiem que os partidos políticos representem os seus interesses.
Pediu, por isso, mais
democracia participativa, mais referendos, mais atuação ao nível local e mais
ação direta por parte dos cidadãos, mas sem ser violenta.
Boaventura Sousa
Santos questionou como foi possível a Europa transformar-se num “continente de
guerra de todos contra todos”, apontando que a Europa está sem alternativas ao
comunismo e ao capitalismo, estando agora paralisada e sem soluções.
Foto Tiago Petinga
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