FPA – PJA - Lusa
O
ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada rejeitou hoje a acusação de
branqueamento de capitais de que é alvo num processo-crime e atribuiu-a a uma
"atitude obcecada" do governo para o impedir de voltar ao poder.
O processo-crime
foi instaurado pela Procuradoria-Geral da República de São Tomé e Príncipe na
sequência de uma queixa feita ao Ministério Publico pelo Partido da
Convergência Democrática (PCD), terceira maior formação política do arquipélago
e na atual coligação governamental em São Tomé e Príncipe.
"Apresentámos
uma queixa-crime contra o ex primeiro-ministro por lavagem de dinheiro e
branqueamento de capital que, tudo indica, ele cometeu, porque há indícios
muito evidentes", disse recentemente Armindo Aguiar, dirigente do PCD,
acusando Trovoada de ter feito uma transferência em dinheiro vivo para o Gabão
na quantia de 624.600 euros.
Em entrevista à
Lusa em Lisboa seis meses após ser demitido pelo presidente, Manuel Pinto da
Costa, na sequência de uma moção de censura, Patrice Trovoada disse não ter
conhecimento oficial do processo-crime, por não ter sido notificado.
Sobre a acusação do
PCD, foi perentório: "Eu desminto".
"Já me acusaram
de tantas coisas, das mais terríveis. Eu sou um homem completamente tranquilo.
Sempre agi na defesa dos interesses dos são-tomenses (...). Vamos ver no que
isto vai dar, se a montanha não vai mais uma vez parir um rato", afirmou.
O presidente d
principal partido são-tomense, Ação Democrática Independente, lembrou que a
justiça do país tem de se credibilizar e alertou os políticos para as
consequências dos seus atos.
"Da maneira
como [os partidos do governo] têm estado a comportar-se, estão a criar as condições
para o regresso do ADI ao poder, não há dúvidas".
Para Trovoada, os
partidos da coligação que assumiu o poder após a queda do seu governo têm uma
"atitude obcecada" que visa fazer "tudo para Patrice Trovoada
não voltar ao poder", mas essa atitude "vai levar a um
fracasso".
"Em vez de
estarem preocupados em saber como ganhar as eleições, estão preocupados em
impedir alguém de ganhar as eleições", acusou.
Sobre as
declarações do atual primeiro-ministro, Gabriel Costa, que em fevereiro acusou
o seu governo de envolvimento em atos de corrupção, má gestão e da prática de
irregularidades, o ex-governante disse compreender que existe um "esforço
de comunicação para destruir Patrice Trovoada, mas alertou que "o que está
em causa é São Tomé e Príncipe".
"Nós estamos
sob o escrutínio do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, da União
Europeia, do Banco Africano de Desenvolvimento e de outros observadores, como a
fundação Mo Ibrahim e a Transparência Internacional", disse o
ex-primeiro-ministro.
Lembrou que durante
o seu mandato o país "ganhou 28 lugares em termos de transparência",
a União Europeia deu-lhe "um bónus de 20% suplementar para recompensar a
boa gestão dos fundos europeus", e outras organizações classificaram-no
como "bom aluno".
"É bom não
destruir o trabalho que é o esforço de toda a gente, em particular do povo
são-tomense. Para chegarmos a estes resultados foram precisos muitos
sacrifícios, muitas reformas, e que vêm dos mais pobres", avisou.
Afirmando que as
pessoas sabem que a sua governação foi "correta, corajosa" e teve
"algum resultado", que foi limitado pela interrupção do mandato,
Trovoada mostrou-se convencido "de que as mentiras têm sempre pernas
curtas" e que "chegará o momento" em que o país estará
"completamente estabilizado, respeitado (...) e em que acima de tudo estão
os interesses dos são-tomenses".
Patrice Trovoada,
que saiu do país logo após a demissão do governo e se tem mantido afastado
desde então, justificou a ausência com motivos de segurança, referindo ter
havido "muitos elementos de perseguição", nomeadamente contra os seus
colaboradores.
"Enquanto eu
não sentir que a minha segurança física, a minha integridade está garantida em
São Tomé e Príncipe, eu não voltarei a São Tomé e Príncipe", disse,
afirmando haver "um comportamento de grande excitação por parte do atual
governo para criar problemas a Patrice Trovoada".
Foto: JOSE
COELHO/LUSA
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