quinta-feira, 20 de junho de 2013

São Tomé e Príncipe: Patrice Trovoada rejeita acusação de branqueamento de capitais



FPA – PJA - Lusa

O ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada rejeitou hoje a acusação de branqueamento de capitais de que é alvo num processo-crime e atribuiu-a a uma "atitude obcecada" do governo para o impedir de voltar ao poder.

O processo-crime foi instaurado pela Procuradoria-Geral da República de São Tomé e Príncipe na sequência de uma queixa feita ao Ministério Publico pelo Partido da Convergência Democrática (PCD), terceira maior formação política do arquipélago e na atual coligação governamental em São Tomé e Príncipe.

"Apresentámos uma queixa-crime contra o ex primeiro-ministro por lavagem de dinheiro e branqueamento de capital que, tudo indica, ele cometeu, porque há indícios muito evidentes", disse recentemente Armindo Aguiar, dirigente do PCD, acusando Trovoada de ter feito uma transferência em dinheiro vivo para o Gabão na quantia de 624.600 euros.

Em entrevista à Lusa em Lisboa seis meses após ser demitido pelo presidente, Manuel Pinto da Costa, na sequência de uma moção de censura, Patrice Trovoada disse não ter conhecimento oficial do processo-crime, por não ter sido notificado.

Sobre a acusação do PCD, foi perentório: "Eu desminto".

"Já me acusaram de tantas coisas, das mais terríveis. Eu sou um homem completamente tranquilo. Sempre agi na defesa dos interesses dos são-tomenses (...). Vamos ver no que isto vai dar, se a montanha não vai mais uma vez parir um rato", afirmou.

O presidente d principal partido são-tomense, Ação Democrática Independente, lembrou que a justiça do país tem de se credibilizar e alertou os políticos para as consequências dos seus atos.

"Da maneira como [os partidos do governo] têm estado a comportar-se, estão a criar as condições para o regresso do ADI ao poder, não há dúvidas".

Para Trovoada, os partidos da coligação que assumiu o poder após a queda do seu governo têm uma "atitude obcecada" que visa fazer "tudo para Patrice Trovoada não voltar ao poder", mas essa atitude "vai levar a um fracasso".

"Em vez de estarem preocupados em saber como ganhar as eleições, estão preocupados em impedir alguém de ganhar as eleições", acusou.

Sobre as declarações do atual primeiro-ministro, Gabriel Costa, que em fevereiro acusou o seu governo de envolvimento em atos de corrupção, má gestão e da prática de irregularidades, o ex-governante disse compreender que existe um "esforço de comunicação para destruir Patrice Trovoada, mas alertou que "o que está em causa é São Tomé e Príncipe".

"Nós estamos sob o escrutínio do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, da União Europeia, do Banco Africano de Desenvolvimento e de outros observadores, como a fundação Mo Ibrahim e a Transparência Internacional", disse o ex-primeiro-ministro.

Lembrou que durante o seu mandato o país "ganhou 28 lugares em termos de transparência", a União Europeia deu-lhe "um bónus de 20% suplementar para recompensar a boa gestão dos fundos europeus", e outras organizações classificaram-no como "bom aluno".

"É bom não destruir o trabalho que é o esforço de toda a gente, em particular do povo são-tomense. Para chegarmos a estes resultados foram precisos muitos sacrifícios, muitas reformas, e que vêm dos mais pobres", avisou.

Afirmando que as pessoas sabem que a sua governação foi "correta, corajosa" e teve "algum resultado", que foi limitado pela interrupção do mandato, Trovoada mostrou-se convencido "de que as mentiras têm sempre pernas curtas" e que "chegará o momento" em que o país estará "completamente estabilizado, respeitado (...) e em que acima de tudo estão os interesses dos são-tomenses".

Patrice Trovoada, que saiu do país logo após a demissão do governo e se tem mantido afastado desde então, justificou a ausência com motivos de segurança, referindo ter havido "muitos elementos de perseguição", nomeadamente contra os seus colaboradores.

"Enquanto eu não sentir que a minha segurança física, a minha integridade está garantida em São Tomé e Príncipe, eu não voltarei a São Tomé e Príncipe", disse, afirmando haver "um comportamento de grande excitação por parte do atual governo para criar problemas a Patrice Trovoada".

Foto: JOSE COELHO/LUSA

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