Vital Moreira,
ex-dirigente e deputado do PCP que aderiu ao PS e que por esse partido foi
eleito para o Parlamento Europeu, escreve no Causa Nossa um seriado de “curtas”
referentes à mais recente crise do descredibilizado governo Cavaco-PSD-CDS. A mais evidente e recente guerra intestina desse governo caiu violentamente no colo do apoiante Cavaco Silva transformando-se em crise cavaquista quando
aquele decidiu a todo o transe salvar o seu governo e a sua maioria através de jogos sujos, antidemocráticos e nada patrióticos. Disso
nos fala Vital Moreira no Causa Nossa, blogue que partilha com todos que o
visitem e tem por co-autores Ana Gomes
(AG); Maria Manuel Leitão Marques
(MMLM) - Redação PG
Sábado, 20 de julho
de 2013
O País poderia e
deveria ter sido poupado pelo Presidente da República a esta novela rasca de
três semanas de suspense político, antecipadamente votada ao fracasso. Além dos
prejuízos causados à governação do País e à credibilidade dos partidos
políticos, o episódio revelou também a perda de capacidade de avaliação
política de Cavaco Silva. É ele o principal derrotado nesta aventura caprichosa,
tanto mais que, tendo excluido a antecipação de eleições, não lhe resta agora
outra alternativa se não a de rebobinar o filme e aceitar a remodelação
governamental que antes se permitiu ignorar sem qualquer justificação pública. Lamentável.
Quinta-Feira, 11 de
julho de 2013
Afinal, já não vai
ser vice-primeiro-ministro, nem coordenador da política económica, nem
comissário especial para as relações com a troika; Portas vai continuar,
forçado, no cargo de MNE, de que se tinha demitido, de um governo totalmente
desacreditado pelo próprio Presidente da República, e enquanto este o desejar.
O ainda líder do CDS (por quanto tempo mais?) não podia passar por maior
humilhação e não pode deixar de pensar que Cavaco Silva cobra a sua vingança,
duas décadas depois, com juros usurários, das tropelias do então jornalista
Portas contra os Governos de Cavaco Silva.
Melhor do que na ficção de uma novela da Globo!
Por esta personalidade política próxima de Belém,ficámos agora a saber
provavelmente a principal razão por que Cavaco Silva rejeitou a remodelação da
coligação que Passos lhe apresentou na semana passada. Fazendo suas a dores do
PSD profundo, que consideraram humilhantes as cedências de Passos a Portas - que
logo aqui foram evidenciadas --, o antigo líder do PSD nem sequer
cuidou de se pronunciar publicamente sobre a proposta do primeiro-ministro (tal
o desagrado!).
A ser assim, porém, não foi o interesse da República mas sim o interesse do seu
próprio partido que levou Cavaco Silva a preferir enxertar na crise política
que se recusou a resolver a sua própria crise política, que não se sabe
onde nos levará.
Não consta que
Cavaco Silva tenha consultado os partidos políticos sobre a sua proposta para o
"compromisso de salvação nacional" que anunciou hoje ao País nem que
tenha ouvido o Conselho de Estado sobre o pré-anúncio de convocar eleições
antecipadas e de interromper prematuramente a actual legislatura daqui a um
ano.
Quarta-Feira, 10 de
julho de 2013
Nem Belém escapa ao
desatino político que avassala o País. Onde se esperava uma discreta operação
de encerramento da lamentavel crise política da semana passada, Cavaco Silva
conseguiu tornar as coisas piores do que estavam anteriormente em termos de
incerteza política.
Negando ao PS a convocação de eleições antecipadas (sem surpresa), O Presidente
da República exige-lhe porém que entre num compromisso político com o Governo
em matéria de execução do programa da troika, lá onde sabe que nenhum
compromisso é possível, porque significaria anular a sua oposição ao Governo. O
PS nunca poderia aceitar continuar na oposição sem poder ser oposição.
Considerando que o Governo continua "em plenitude de funções" (mas
sem sequer anunciar a aceitação da remodelação governamental proposta pelo
Primeiro-Ministro!...), Cavaco Silva logo lhe tira porém o tapete debaixo dos
pés, não só exigindo-lhe que chegue a um compromisso impossível com a oposição
socialista, mas também colocando-o a prazo, o que é a pior maneira de
deslegitimar um Governo. Com que convicção e autoridade é que Passos &
Portas podem governar, com a corda ao pescoço, condenados ao açougue eleitoral
a curto prazo?
Parecendo aceitar a democracia parlamentar, onde a maioria parlamentar governa
e a oposição se prepara para substituí-la nas eleições seguintes, Cavaco Silva
logo impõe um compromisso político entre Governo e oposição como condição de
subsistência do Governo, o que vai contra toda a lógica do sistema parlamentar.
Decididamente, Portugal parece condenado irremediavelmente ao caos
político que conduz ao desastre financeiro. O próprio bombeiro revela-se afinal
um incendiário.
A partir de agora, toda a esperança é uma ousadia.
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