domingo, 21 de julho de 2013

A CRISE CAVAQUISTA E O CONTROVERSO VITAL MOREIRA EM CAUSA NOSSA




Vital Moreira, ex-dirigente e deputado do PCP que aderiu ao PS e que por esse partido foi eleito para o Parlamento Europeu, escreve no Causa Nossa um seriado de “curtas” referentes à mais recente crise do descredibilizado governo Cavaco-PSD-CDS. A mais evidente e recente guerra intestina desse governo caiu violentamente no colo do apoiante Cavaco Silva transformando-se em crise cavaquista quando aquele decidiu a todo o transe salvar o seu governo e a sua maioria através de jogos sujos, antidemocráticos e nada patrióticos. Disso nos fala Vital Moreira no Causa Nossa, blogue que partilha com todos que o visitem e tem por co-autores Ana Gomes (AG); Maria Manuel Leitão Marques (MMLM) - Redação PG


Sábado, 20 de julho de 2013

O País poderia e deveria ter sido poupado pelo Presidente da República a esta novela rasca de três semanas de suspense político, antecipadamente votada ao fracasso. Além dos prejuízos causados à governação do País e à credibilidade dos partidos políticos, o episódio revelou também a perda de capacidade de avaliação política de Cavaco Silva. É ele o principal derrotado nesta aventura caprichosa, tanto mais que, tendo excluido a antecipação de eleições, não lhe resta agora outra alternativa se não a de rebobinar o filme e aceitar a remodelação governamental que antes se permitiu ignorar sem qualquer justificação pública. Lamentável.


Quinta-Feira, 11 de julho de 2013

Afinal, já não vai ser vice-primeiro-ministro, nem coordenador da política económica, nem comissário especial para as relações com a troika; Portas vai continuar, forçado, no cargo de MNE, de que se tinha demitido, de um governo totalmente desacreditado pelo próprio Presidente da República, e enquanto este o desejar.

O ainda líder do CDS (por quanto tempo mais?) não podia passar por maior humilhação e não pode deixar de pensar que Cavaco Silva cobra a sua vingança, duas décadas depois, com juros usurários, das tropelias do então jornalista Portas contra os Governos de Cavaco Silva.

Melhor do que na ficção de uma novela da Globo!



Por esta personalidade política próxima de Belém,ficámos agora a saber provavelmente a principal razão por que Cavaco Silva rejeitou a remodelação da coligação que Passos lhe apresentou na semana passada. Fazendo suas a dores do PSD profundo, que consideraram humilhantes as cedências de Passos a Portas - que logo aqui foram evidenciadas --, o antigo líder do PSD nem sequer cuidou de se pronunciar publicamente sobre a proposta do primeiro-ministro (tal o desagrado!).

A ser assim, porém, não foi o interesse da República mas sim o interesse do seu próprio partido que levou Cavaco Silva a preferir enxertar na crise política que se recusou a resolver a sua própria crise política, que não se sabe onde nos levará.


Não consta que Cavaco Silva tenha consultado os partidos políticos sobre a sua proposta para o "compromisso de salvação nacional" que anunciou hoje ao País nem que tenha ouvido o Conselho de Estado sobre o pré-anúncio de convocar eleições antecipadas e de interromper prematuramente a actual legislatura daqui a um ano.


Quarta-Feira, 10 de julho de 2013

Nem Belém escapa ao desatino político que avassala o País. Onde se esperava uma discreta operação de encerramento da lamentavel crise política da semana passada, Cavaco Silva conseguiu tornar as coisas piores do que estavam anteriormente em termos de incerteza política.

Negando ao PS a convocação de eleições antecipadas (sem surpresa), O Presidente da República exige-lhe porém que entre num compromisso político com o Governo em matéria de execução do programa da troika, lá onde sabe que nenhum compromisso é possível, porque significaria anular a sua oposição ao Governo. O PS nunca poderia aceitar continuar na oposição sem poder ser oposição.

Considerando que o Governo continua "em plenitude de funções" (mas sem sequer anunciar a aceitação da remodelação governamental proposta pelo Primeiro-Ministro!...), Cavaco Silva logo lhe tira porém o tapete debaixo dos pés, não só exigindo-lhe que chegue a um compromisso impossível com a oposição socialista, mas também colocando-o a prazo, o que é a pior maneira de deslegitimar um Governo. Com que convicção e autoridade é que Passos & Portas podem governar, com a corda ao pescoço, condenados ao açougue eleitoral a curto prazo?

Parecendo aceitar a democracia parlamentar, onde a maioria parlamentar governa e a oposição se prepara para substituí-la nas eleições seguintes, Cavaco Silva logo impõe um compromisso político entre Governo e oposição como condição de subsistência do Governo, o que vai contra toda a lógica do sistema parlamentar.

Decididamente, Portugal parece condenado irremediavelmente ao caos político que conduz ao desastre financeiro. O próprio bombeiro revela-se afinal um incendiário.

A partir de agora, toda a esperança é uma ousadia.

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