Voz da América, em
Angola Fala Só
Professores que já
morreram continuam nas listas de salários e são promovidos sendo os seus
salários desviados para “os bolsos de alguém”, disse Cazenga Rodrigues,
Secretário-geral do Sindicato Nacional de Professores na Lunda Norte.
Rodrigues falava numa animada edição do programa “Angola Fala Só” em que a
greve de professores naquela província foi o tópico de discussão.
A greve dura há quase dois meses sem sinal de solução mas o sindicalista
confirmou que o governo provincial começou a “desactivar” os professores
grevistas.
O número de professores despedidos ascende assim já a 485 disse Rodrigues que
disse que o sindicato está agora a estudar as medidas que pode tomar contra
essa acção que considera de ilegal.
O sindicato, disse, “vai a tribunal para ver se o governo” tem autoridade para
tal media pois, acrescentou, professores só podem ser despedidos após um
processo disciplinar que não foi instaurado.
Só o ministério ou um tribunal pode despedir professore e não o governador
provincial, acrescentou Rodrigues.
Por seu turno o próprio SINPROF a nível nacional reunido no Kwanza Sul.
O ouvinte Paulo Dinis do Uíge insurgiu-se contra a atitude do governador
fazendo notar que o direito à greve faz parte dos direitos dos angolanos e
que “o governador não está acima da lei”.
O Ouvinte Roque Ngolo da Lunda Norte disse que os professores são “os
combatentes da linha da frente” na luta pelo futuro de Angola e por isso “têm
que estar cientes de que podem exercer a sua profissão em paz”.
O sindicalista Cazenga Rodrigues disse que apesar das ameaças do governo a
“totalidade” do ensino primário continua paralisado enquanto as aulas do
secundo ciclo acontecem “aos soluços”.
Para Rodrigues os professores que têm ido ensinar são “medrosos” e são
“ameaçados pelos directores”.
“Nós os dirigentes sindicalistas há dois meses que não temos salários mas
continuamos firmes,” disse.
O sindicalista disse que até agora não deparou com alguma reacção negativa por
parte de familiares dos alunos e que pelo contrário tem havido apoio á acção
dos professores.
Cazenga Rodrigues descreveu a situação educacional na província como “péssima”
afirmando que a reforma educacional do governo tinha sido “precipitada”.
Qualquer reforma, disse, tinha que ouvir as partes envolvidas na educação e não
“ser feita em segredo”.
Professores estão a dar aulas em salas com mais de 100 alunos pelo que é
impossível “fazer uma avaliação”.
Interrogado pelo ouvinte Estevão Kachipopa do Kuanza Sul sobre a questão das
passagens automáticas, Cazenga disse opor-se a isso.
“os professores têm que saber se o aluno sabe ou não e tem que haver
disciplina,” disse.
“Estamos a formar analfabetos,” acrescentou Cazenga que disse ainda que as
autoridades ignoram os resultados dos concursos públicos para postos na
educação para darem emprego aqueles que querem.
Cazenga negou no entanto que na Lunda Norte houvesse discriminação em termos
partidários
Interrogado sobre se durante estes anos de paz o governo tem investido em
infra-estruturas escolares, o sindicalista disse que “está-se a construir
mas pouco.
Para além disso continua a construir-se escolas com poucas salas de aula quando
são precisas escolas com pelo menos 10 salas de aulas”.
Interrogado pelo ouvinte André Muteka do Namibe sobre o problema de
“professores fantasmas” ou seja nomes de professores que continuam na lista dos
assalariados afirmou que “isso é um problema sério que existe”.
“Há falecidos a quem continuam a ser pagos salários e alguns deles até são
promovidos,” disse acrescentando que os salários desses “fantasmas” são
desviados.
O sindicalista descreveu de “pura mentira” a alegação do governo provincial de
que os partidos da oposição Unita, CASA CE e PRS estavam por detrás da greve.
“Não sou de nenhum desses partidos, sou do MPLA mas sou acima de tudo
sindicalista,” disse afirmando que o seu sindicato não faz qualquer tipo de
discriminação.
O ouvinte Bernardo Augusto do Namibe, o último a entrar em linha, mostrou-se indignado com esta revelação.
“Você diz que é do MPLA? Então peça ao governo para resolver a questão,” disse.
Sem comentários:
Enviar um comentário