O filme brasileiro
"Xingu - A Expedição", a ser lançado em Portugal a 18 de julho, pode
servir para diminuir o brutal preconceito e ignorância que ainda paira sobre a
cultura das civilizações indígenas, disse hoje o realizador, Cao Hamburger.
"Resgatar a
incrível aventura dos irmãos Villas-Boas, pode servir para diminuir o brutal
preconceito e ignorância que paira sobre a cultura das civilizações
indígenas", declarou à Lusa o realizador brasileiro.
O filme, que já
estreou no Brasil em abril de 2012, relata o percurso de três irmãos, Orlando,
Cláudio e Leonardo Villas-Boas, que se tornaram grandes defensores das causas
indígenas no Brasil e foram os idealizadores da primeira reserva indígena
oficial do país, criada em 1961.
Os irmãos
Villas-Boas alistaram-se em 1944 na expedição Roncador-Xingu, organizada pelo
Governo brasileiro para explorar as terras desconhecidas do centro do Brasil.
O que começou como
uma aventura para os três jovens, que acabaram por conhecer a realidade
indígena, tornou-se na sua missão de vida: proteger os índios brasileiros.
"O filme
resgata este esforço dos irmãos Villas-Boas pela criação de uma reserva
indígena, que se concretizou com o Parque Indígena do Xingu", sublinhou o
realizador, valorizando toda a obra realizada pelos Villas-Boas.
Cao Hamburger
afirmou, entretanto, que nos últimos anos o tratamento dado às questões
indígenas pelo Governo brasileiro sofreu "um retrocesso gigantesco".
"O
desenvolvimento antiquado e retrógrado que está a ser implantado não tem
inteligência suficiente para entender as novas ideias e demandas do século
21", declarou Hamburger.
"Só conseguem
ver os povos indígenas como um entrave ao progresso e não como um aliado ao que
poderia ser o novo paradigma de progresso no século 21. Um progresso que leva
em consideração que a relação da sociedade com o planeta deve ser civilizada",
argumentou ainda.
Atualmente, vivem
mais de cinco mil índios na área do Parque Indígena do Xingu - que se localiza
no norte do Estado de Mato Grosso, com cerca de 30 mil quilómetros quadrados -
de catorze etnias diferentes pertencentes aos quatro grandes troncos
linguísticos indígenas: caribe, aruaque, tupi e macro-jê.
Segundo a Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) existem somente 817 mil indígenas no Brasil,
representando 0,4% da população de quase 200 milhões.
Muitas tribos
brasileiras ainda não têm as suas reservas oficializadas e mesmo aquelas que
possuem os seus territórios demarcados são sistematicamente ameaçadas por
fazendeiros, garimpeiros e empresas de madeira.
Várias tribos
sentem-se ameaçadas também pelas construções de hidroelétricas nos rios
brasileiros, como Belo Monte, no Pará, uma obra governamental.
Hamburger tem a
esperança que "as pessoas vejam a civilização indígena, a sua rica cultura
e filosofia, como parte importante da cultura brasileira".
"Massacrada e
desprezada por séculos, podem vir a ser uma importante fonte de conhecimento
para o presente e para o futuro da humanidade", referiu ainda.
"O produtor do
filme, Fernando Meireles (realizador do filme Cidade de Deus) foi quem me
sugeriu fazer o filme", sublinhou Hamburger.
De acordo com o
realizador, Meirelles recebeu de Noel Villas-Boas, filho do Orlando
Villas-Boas, dois livros e a sugestão de fazer o filme sobre a história do pai
e dos tios.
"Eu conhecia
pouco da história, mas quando comecei a estudar e a conhecer melhor os
personagens e o universo dos índios brasileiros, apaixonei-me irremediavelmente
pelo projeto", afirmou.
Para Cao Hamburger,
a realização do filme "foi uma experiência muito forte".
"Todos que se
envolveram nessa aventura transformaram-se. Para mim, o grande choque foi a primeira
vez que fui às aldeias do Xingu, ainda para a pesquisa", disse.
"Lá, eu
entendi os irmãos Villas-Boas. Entendi a grandiosidade da sua obra (...)",
acrescentou.
O filme foi rodado
no Parque Indígena do Xingu e no estado do Tocantins, sendo que muitas pessoas
de diferentes tribos indígenas participaram do filme, entre as quais, os
Kuiukuro, Wialapiti, Wauras, Kaiabis.
Os atores
brasileiros Felipe Camargo, Caio Blat e João Miguel representam no filme os
três irmãos Villas-Boas.
A película já foi
apresentada nos festivais de cinema de Berlim, na Alemanha, e Tribeca, nos
Estados Unidos.
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