domingo, 14 de julho de 2013

Brasil: Filme 'Xingu' pode contribuir para diminuir preconceito contra indígenas





O filme brasileiro "Xingu - A Expedição", a ser lançado em Portugal a 18 de julho, pode servir para diminuir o brutal preconceito e ignorância que ainda paira sobre a cultura das civilizações indígenas, disse hoje o realizador, Cao Hamburger.

"Resgatar a incrível aventura dos irmãos Villas-Boas, pode servir para diminuir o brutal preconceito e ignorância que paira sobre a cultura das civilizações indígenas", declarou à Lusa o realizador brasileiro.

O filme, que já estreou no Brasil em abril de 2012, relata o percurso de três irmãos, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Boas, que se tornaram grandes defensores das causas indígenas no Brasil e foram os idealizadores da primeira reserva indígena oficial do país, criada em 1961.

Os irmãos Villas-Boas alistaram-se em 1944 na expedição Roncador-Xingu, organizada pelo Governo brasileiro para explorar as terras desconhecidas do centro do Brasil.

O que começou como uma aventura para os três jovens, que acabaram por conhecer a realidade indígena, tornou-se na sua missão de vida: proteger os índios brasileiros.

"O filme resgata este esforço dos irmãos Villas-Boas pela criação de uma reserva indígena, que se concretizou com o Parque Indígena do Xingu", sublinhou o realizador, valorizando toda a obra realizada pelos Villas-Boas.

Cao Hamburger afirmou, entretanto, que nos últimos anos o tratamento dado às questões indígenas pelo Governo brasileiro sofreu "um retrocesso gigantesco".

"O desenvolvimento antiquado e retrógrado que está a ser implantado não tem inteligência suficiente para entender as novas ideias e demandas do século 21", declarou Hamburger.

"Só conseguem ver os povos indígenas como um entrave ao progresso e não como um aliado ao que poderia ser o novo paradigma de progresso no século 21. Um progresso que leva em consideração que a relação da sociedade com o planeta deve ser civilizada", argumentou ainda.

Atualmente, vivem mais de cinco mil índios na área do Parque Indígena do Xingu - que se localiza no norte do Estado de Mato Grosso, com cerca de 30 mil quilómetros quadrados - de catorze etnias diferentes pertencentes aos quatro grandes troncos linguísticos indígenas: caribe, aruaque, tupi e macro-jê.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) existem somente 817 mil indígenas no Brasil, representando 0,4% da população de quase 200 milhões.

Muitas tribos brasileiras ainda não têm as suas reservas oficializadas e mesmo aquelas que possuem os seus territórios demarcados são sistematicamente ameaçadas por fazendeiros, garimpeiros e empresas de madeira.

Várias tribos sentem-se ameaçadas também pelas construções de hidroelétricas nos rios brasileiros, como Belo Monte, no Pará, uma obra governamental.

Hamburger tem a esperança que "as pessoas vejam a civilização indígena, a sua rica cultura e filosofia, como parte importante da cultura brasileira".

"Massacrada e desprezada por séculos, podem vir a ser uma importante fonte de conhecimento para o presente e para o futuro da humanidade", referiu ainda.

"O produtor do filme, Fernando Meireles (realizador do filme Cidade de Deus) foi quem me sugeriu fazer o filme", sublinhou Hamburger.

De acordo com o realizador, Meirelles recebeu de Noel Villas-Boas, filho do Orlando Villas-Boas, dois livros e a sugestão de fazer o filme sobre a história do pai e dos tios.

"Eu conhecia pouco da história, mas quando comecei a estudar e a conhecer melhor os personagens e o universo dos índios brasileiros, apaixonei-me irremediavelmente pelo projeto", afirmou.

Para Cao Hamburger, a realização do filme "foi uma experiência muito forte".

"Todos que se envolveram nessa aventura transformaram-se. Para mim, o grande choque foi a primeira vez que fui às aldeias do Xingu, ainda para a pesquisa", disse.

"Lá, eu entendi os irmãos Villas-Boas. Entendi a grandiosidade da sua obra (...)", acrescentou.

O filme foi rodado no Parque Indígena do Xingu e no estado do Tocantins, sendo que muitas pessoas de diferentes tribos indígenas participaram do filme, entre as quais, os Kuiukuro, Wialapiti, Wauras, Kaiabis.

Os atores brasileiros Felipe Camargo, Caio Blat e João Miguel representam no filme os três irmãos Villas-Boas.

A película já foi apresentada nos festivais de cinema de Berlim, na Alemanha, e Tribeca, nos Estados Unidos.

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