Sara Sanz Pinto – Jornali
Dilma Rousseff e
Cristina Kirchner, as presidentes do Brasil e da Argentina, criticaram a
atitude dos países europeus envolvidos e exigiram um pedido de desculpa formal
Evo Morales chegou
na quarta-feira à noite à Bolívia, após ter ficado 17 horas retido no aeroporto
internacional de Viena. Depois de uma vista a Moscovo, o presidente - que
recentemente ofereceu asilo ao informático, Edward Snowden, retido na Rússia e
procurado por Washington por divulgação de informações secretas - viu-se
impedido de aterrar em Portugal, França, Espanha e Itália, para uma escala de
reabastecimento até La Paz.
Sob a suspeita de
que o seu avião poderia transportar o ex-consultor da Agência Nacional de
Segurança (NSA) norte--americana, apenas a Áustria permitiu que a aeronave
presidencial aterrasse.
Indignada, a
Bolívia apresentou ontem uma queixa às Nações Unidas (ONU). Sacha Llorenti,
embaixador do país na organização, afirmou que o reencaminhamento forçado para
Viena tinha sido um acto de agressão e uma violação clara do direito
internacional. "Embora o avião presidencial tivesse matrícula da força
aérea boliviana, tinha as autorizações plenamente aprovadas, e esta Convenção
de Chicago estabelece que não se pode restringir o direito de sobrevoo e
aterragem de aeronaves de um Estado e também comerciais", defendeu o
ex-ministro boliviano dos Negócios Estrangeiros Armando Loaiza.
Após os Estados
Unidos terem admitido que tinham entrado em contacto com alguns países sobre a
potencial fuga de Snowden, um porta-voz da admnistração de Washington veio
dizer que a acção dos governos europeus foi da sua responsabilidade. "As
decisões foram tomadas por países concretos e deviam perguntar-lhes a eles,
porque as tomaram", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Jen
Psaki.
De acordo com o
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "as preocupações do governo da
Bolívia são compreensíveis" e os países envolvidos devem discutir a
questão, "com total respeito pelos legítimos interesses em jogo".
"Enquanto governo, apresentámos as nossas queixas a nível internacional.
Já o fizemos junto da ONU e, nas próximas horas, vamos fazê-lo junto da
Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas", afirmou o
vice-presidente boliviano, Alvaro Garcia Linera, numa conferência de imprensa
em La Paz, criticando o "imperialismo" norte-americano.
Por seu turno, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia considerou ontem que o incidente
não foi um gesto "amigável" para a Bolívia. "Além disso, a
proibição do direito de um avião sobrevoar [Portugal, França, Espanha e Itália]
podia criar uma ameaça à segurança dos passageiros do aparelho, incluindo o
chefe de um Estado soberano", acrescentou Moscovo.
Como sinal de
"apoio" a Morales, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador,
Ricardo Patiño, confirmou no seu Twitter, que os líderes da Argentina,
Venezuela, Uruguai, Suriname e Equador iam estar presentes numa reunião
extraordinária da União das Nações Sul--americanas que decorreu ontem na cidade
boliviana de Cochabamba.
As declarações de
solidariedade, das presidentes do Brasil e da Argentina, foram muito duras com
os governos de Portugal, Itália, Espanha e França. Dilma Rousseff e Cristina
Kirchner exigiram aos países envolvidos que fizessem um pedido de desculpa
formal às autoridades da Bolívia.
Entretanto, o
ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, pediu desculpa,
ontem, às autoridades da Bolívia pelo facto de o seu país ter fechado o espaço
aéreo impedindo a passagem do avião do presidente Evo Morales.
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