sexta-feira, 5 de julho de 2013

DILMA QUER QUE PORTUGAL PEÇA DESCULPA À BOLÍVIA



Sara Sanz Pinto – Jornali

Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, as presidentes do Brasil e da Argentina, criticaram a atitude dos países europeus envolvidos e exigiram um pedido de desculpa formal

Evo Morales chegou na quarta-feira à noite à Bolívia, após ter ficado 17 horas retido no aeroporto internacional de Viena. Depois de uma vista a Moscovo, o presidente - que recentemente ofereceu asilo ao informático, Edward Snowden, retido na Rússia e procurado por Washington por divulgação de informações secretas - viu-se impedido de aterrar em Portugal, França, Espanha e Itália, para uma escala de reabastecimento até La Paz.

Sob a suspeita de que o seu avião poderia transportar o ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte--americana, apenas a Áustria permitiu que a aeronave presidencial aterrasse.

Indignada, a Bolívia apresentou ontem uma queixa às Nações Unidas (ONU). Sacha Llorenti, embaixador do país na organização, afirmou que o reencaminhamento forçado para Viena tinha sido um acto de agressão e uma violação clara do direito internacional. "Embora o avião presidencial tivesse matrícula da força aérea boliviana, tinha as autorizações plenamente aprovadas, e esta Convenção de Chicago estabelece que não se pode restringir o direito de sobrevoo e aterragem de aeronaves de um Estado e também comerciais", defendeu o ex-ministro boliviano dos Negócios Estrangeiros Armando Loaiza.

Após os Estados Unidos terem admitido que tinham entrado em contacto com alguns países sobre a potencial fuga de Snowden, um porta-voz da admnistração de Washington veio dizer que a acção dos governos europeus foi da sua responsabilidade. "As decisões foram tomadas por países concretos e deviam perguntar-lhes a eles, porque as tomaram", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki.

De acordo com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "as preocupações do governo da Bolívia são compreensíveis" e os países envolvidos devem discutir a questão, "com total respeito pelos legítimos interesses em jogo". "Enquanto governo, apresentámos as nossas queixas a nível internacional. Já o fizemos junto da ONU e, nas próximas horas, vamos fazê-lo junto da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas", afirmou o vice-presidente boliviano, Alvaro Garcia Linera, numa conferência de imprensa em La Paz, criticando o "imperialismo" norte-americano.

Por seu turno, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia considerou ontem que o incidente não foi um gesto "amigável" para a Bolívia. "Além disso, a proibição do direito de um avião sobrevoar [Portugal, França, Espanha e Itália] podia criar uma ameaça à segurança dos passageiros do aparelho, incluindo o chefe de um Estado soberano", acrescentou Moscovo.

Como sinal de "apoio" a Morales, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador, Ricardo Patiño, confirmou no seu Twitter, que os líderes da Argentina, Venezuela, Uruguai, Suriname e Equador iam estar presentes numa reunião extraordinária da União das Nações Sul--americanas que decorreu ontem na cidade boliviana de Cochabamba.

As declarações de solidariedade, das presidentes do Brasil e da Argentina, foram muito duras com os governos de Portugal, Itália, Espanha e França. Dilma Rousseff e Cristina Kirchner exigiram aos países envolvidos que fizessem um pedido de desculpa formal às autoridades da Bolívia.

Entretanto, o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, pediu desculpa, ontem, às autoridades da Bolívia pelo facto de o seu país ter fechado o espaço aéreo impedindo a passagem do avião do presidente Evo Morales.

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