domingo, 14 de julho de 2013

Portugal: DO PÂNTANO IRREVOGÁVEL



Tiago Mota Saraiva - Jornal i, opinião

Cavaco Silva falou ao país. Não se poderá dizer que foi uma comunicação ao país. Isso implicaria que o emissor quisesse ser entendido pelo receptor. Cavaco não quer ser claro nem transparente. Nunca quis. Cavaco privilegia a comunicação por interposta pessoa – normalmente cavacológos autorizados como Marques Mendes, Marcelo ou, em tempos, Dias Loureiro. A manha da nebulosa permite-lhe demarcar-se das certezas que vai anunciando e que se vão revelando erradas ou declarar alegados avisos que terá feito sobre matérias sobre as quais nunca discursou.

Da sua declaração ao país sobram duas certezas. Cavaco Silva não aceita a proposta de novo governo de Passos Coelho e tudo fará para que não haja eleições antes de Junho de 2014. Com a primeira decisão retira a pouca margem de governabilidade que este governo teria e com a segunda inicia um processo conducente à constituição de um governo de iniciativa presidencial, ainda que a Constituição já não lho permita.

Cavaco acha que Passos e Portas já não servem e o que lhe falta em carácter sobra-lhe em autoritarismo. Mais uma vez não hesita em condicionar a vida do país e do seu povo à sua estratégia pessoal. Não há qualquer preceito constitucional que impeça a realização de eleições antecipadas. Pelo contrário, ao Presidente da República compete actuar sempre que estiver em causa o regular funcionamento das instituições. É o caso. Ao invés, Cavaco parece preferir suspender a democracia por 12 meses.

Por fim, a ideia de que um iluminado possa reunir à sua volta a União Nacional da troika nacional, PSD/PS/CDS, repete a solução da Grécia e de Itália. Como sabemos, esse tipo de governo não só não salva países como não tem apoio popular.

P.S. - Entretanto deve andar gente importante a ganhar muito dinheiro com estas crises de lana caprina. Só assim se explica a vontade deste poder político de continuar a patinar na maionese por mais umas semanas.

Escreve ao sábado 

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