Tiago Mota Saraiva - Jornal i, opinião
Cavaco Silva falou
ao país. Não se poderá dizer
que foi uma comunicação ao país. Isso implicaria que o emissor quisesse ser
entendido pelo receptor. Cavaco não quer ser claro nem transparente. Nunca
quis. Cavaco privilegia a comunicação por interposta pessoa – normalmente
cavacológos autorizados como Marques Mendes, Marcelo ou, em tempos, Dias
Loureiro. A manha da nebulosa permite-lhe demarcar-se das certezas que vai
anunciando e que se vão revelando erradas ou declarar alegados avisos que terá
feito sobre matérias sobre as quais nunca discursou.
Da sua declaração
ao país sobram duas certezas. Cavaco Silva não aceita a proposta de novo
governo de Passos Coelho e tudo fará para que não haja eleições antes de Junho
de 2014. Com a primeira decisão retira a pouca margem de governabilidade que
este governo teria e com a segunda inicia um processo conducente à constituição
de um governo de iniciativa presidencial, ainda que a Constituição já não lho
permita.
Cavaco acha que
Passos e Portas já não servem e o que lhe falta em carácter sobra-lhe em
autoritarismo. Mais uma vez não hesita em condicionar a vida do país e do seu
povo à sua estratégia pessoal. Não há qualquer preceito constitucional que
impeça a realização de eleições antecipadas. Pelo contrário, ao Presidente da
República compete actuar sempre que estiver em causa o regular funcionamento
das instituições. É o caso. Ao invés, Cavaco parece preferir suspender a
democracia por 12 meses.
Por fim, a ideia de
que um iluminado possa reunir à sua volta a União Nacional da troika nacional,
PSD/PS/CDS, repete a solução da Grécia e de Itália. Como sabemos, esse tipo de
governo não só não salva países como não tem apoio popular.
P.S. - Entretanto
deve andar gente importante a ganhar muito dinheiro com estas crises de lana
caprina. Só assim se explica a vontade deste poder político de continuar a patinar
na maionese por mais umas semanas.
Escreve ao sábado
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