Fernando Dacosta –
Jornal i, opinião
Alguns dos nossos
democratas estão a cansar-se da democracia. Esse cansaço (enjoo) traduz-se no
adiamento, congelamento de regras básicas dela, como protelação de eleições,
suspensão de referendos, recusa de contactos, fuga a críticas, a compromissos,
etc. No passado não se referendou o ingresso de Portugal na CEE nem, depois, no
euro; no presente não se opta pela ida às urnas como solução exigível para o
emaranhado político em que estamos.
A intervenção do
povo tornou-se, ao que se assiste, inconveniente para o poder que desatou a
fugir dela como o diabo da cruz - nem ouvi-lo (ao povo) quer.
Significativo disso
foi a recentíssima reacção da segunda figura da democracia portuguesa - uma
jurista "milionariamente" reformada aos 42 anos - ao perder a cabeça
com representantes de funcionários que, vitimizados pelo Estado, protestavam
nas galerias da Assembleia. Antes haviam sido reformados a manifestar-se
silenciosamente - de imediato corridos pela abespinhada senhora.
"Não podemos
permitir que os nossos carrascos nos criem maus costumes", sentenciou ela.
Pois não. Por isso, o opormo-nos a eles (carrascos), pelo voto, pelo berro,
pela indignação é um acto de cidadania. O que a presidente não parece ter
percebido é que os carrascos de hoje não são os manifestantes, são os deputados
que, com as suas maiorias, aprovam leis para esbulhar, amputar, matar
populações, como tem feito a coligação que domina o parlamento (e o governo, e
a Presidência da República), confiscando soberania aos eleitores. É que em
Portugal os democratas (estes) só querem dar-nos liberdade para concordar com
eles!
Escreve à
quinta-feira
Sem comentários:
Enviar um comentário